Aloe Blacc, uma das vozes fundamentais da soul deste início de Século, vem à Aula Magna no dia 4 de Maio, e – além do inevitável hino “I Need A Dollar” – cheira-me que a malha do vídeo abaixo soará com especial intensidade pelas doutorais e plateia da Reitoria da Cidade Universitária.
Costuma dizer-se que os últimos são os primeiros. Neste caso, trata-se duma voz feminina - e cada vez mais importante no panorama nacional - a falar sobre o papel da música nas transformações sociais e políticas.
Que papel considera que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
É um papel de extrema importância. A música estimula a tomada de consciência nas sociedades inertes e anestesiadas por valores políticos atávicos e disuasores.
Qual é a sua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto? Esteve presente?
Todos os movimentos desde que bem geridos e estruturados, são válidos para reivindicar os nossos direitos, para manifestar o descontentamento e exigir mudanças. Apenas tenho a apontar o medo, a timidez latente que existe em nós, como se depois da greve, do movimento contestatário, fosse quase obrigatório regressar a casa com "a cabeça entre as orelhas", como auto-punição, porque tens medo que te tirem o trabalho precário, que te apontem o dedo e sejas mais um na fila do desemprego, quando tens uma casa para pagar e filhos para nutrir. A título de exemplo o abuso do pequeno poder por parte das chefias ( os chefes disto ou daquilo proliferam! ) deste país e que criou o desalento que se dissemina como uma doença. E não não participei, mas estive bem representada, marido e filhos foram, imbuídos de um forte espírito contestatário.
O que achou ao ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Acho louvável que se unam gerações de músicos para manifestar os seus direitos, se repararmos, os problemas persistem desde a geração do Vitorino e do Tordo até hoje com as novas bandas e novos intérpretes, lidamos ainda com a mesma matéria. Que as vozes não se calem, o "turpor silencioso" faz mal às vísceras!
Teve conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a sua opinião sobre esses factos?
Não, desconhecia. Arriscaria dizer que a desinformação é mais engenhosa e que factos importantes como esse ficam sempre no "ângulo morto" dos noticiários. Mesmo sem conhecimentos aprofundados permito-me ter uma opinião, e essa é de profunda indignação e total solidariedade com quem rema contra o poder instituído e repressivo, castrador e tirano.
Qual é a sua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensa de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
A música tem reflexos em quem a ouve e é um guia, uma luz para lutar contra a falta de perspectiva. Os músicos sempre foram percursores de movimentos revolucionários _ quando disso tivemos necessidade e temos em Portugal muitos e gloriosos exemplos que nem preciso citar aqui_ de construções intelectuais inteligíveis pelo mais singelo cidadão. A mensagem passa em linha recta directamente ao espírito e ao coração de quem ouve, acorda os mais impedernidos. Formam-se ideias e vontades através de uma simples melodia, que nunca veriam a luz do dia se estivessem sustentados apenas numa ideologia, num espírito enciclopedista bafiento.
Vocês não conhecem os SAUR. Talvez conheçam os Bringing The Day Home, que deram alguns concertos por esse país fora, nunca chegando contudo a editar algo com essa designação. Algo que muda agora, tal como o nome, quem sabe adoptado pelos quatro rapazes para se adequar melhor ao pós-rock em que consiste a sua linguagem - que é como quem diz, as guitarras e a bateria rugindo enormes como um tiranossauro - ou para dar um novo e fresco sentido à expressão "dinossauro do rock". Depois de se terem estreado esta semana nas airwaves nacionais, no programa Indiefrente (volta, temos saudades), lançam amanhã o seu primeiro EP - homónimo - com quatro faixas que poderão escutar através do site deles mal os uploads no Bandcamp terminem. Entretanto podem picar o Soundcloud e ouvir "Alien Dinosaur Explosion" (título que não traz à cabeça nada que não "awesome"). Nós que já o ouvimos colocamos sem dúvidas o nosso seal of approval. Apontem: mais um nome a seguir com atenção no panorama nacional.
Eu sinto inveja do Porto. Para além de ser a sede do melhor clube de futebol do mundo, de estar povoado por meninas bonitas portadoras de um sotaque delicioso e de ter na vista para o Douro uma visão do Divino, é também aí que se concentram duas das melhores promotoras nacionais do rock, e por conseguinte alguns dos melhores concertos. Uma delas, a Lovers & Lollypops, que é como quem diz a entidade responsável pelo Milhões de Festa™, leva já para a semana à cidade invicta dois nomes fortes - que farão a sua estreia no país - para o regresso do Isto Não É Uma Festa Indie: os Dead Meadow, banda que faz do rock drogado a sua força, partilharão o palco com os Spindrift a 3 de Maio no Hard Club, com bilhetes a 12€ (antecipado) e 15€ (no próprio dia); no dia seguinte, será a vez dos Abe Vigoda levarem o seu punk tropical ao Plano B, acompanhados pelos Evols, com os bilhetes a 10€ (antecipado), 12€ (no dia), e, ouro sobre azul, desconto de 2€ para quem for ver Dead Meadow. Duas noites de rock absoluto: eu sinto inveja do Porto.
Vitorino Salomé combina há décadas as suas raízes alentejanas com uma vivência mais urbana. O que se reflecte na música que faz e no seu olhar, rasgado a partir duma qualquer janela aberta para o exterior.
O que o motivou a associar-se à manifestação de 12 de Março?
Tão-só porque gosto de me manifestar. Não é nada complicado. Quando acho que as manifestações têm razão de ser, e eu estou habituado a elas, manifesto-me desde pequenino. Tudo o que é contra-poder, eu alinho.
Considera, então, que desta vez havia motivos para se manifestar?
Absolutamente.
Que papel considera que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
É um papel fundamental nos povos mediterrâneos, no Sul. No Norte só me lembro de cancioneiros revolucionários na Irlanda. Todos os países mediterrânicos têm cancioneiros que acompanham as grandes revoltas. Estou-me a lembrar da Comuna de Paris, que tem um cancioneiro fabuloso, da Guerra Civil de Espanha. Ainda antes, aqui em Portugal, o cancioneiro da República, que é extraordinário e ninguém o conhece, que é uma coisa que me irrita muito. É radical, com textos fabulosos, anarco-sindicalistas, anarco-republicanos. Depois, há todo o cancioneiro do 25 de Abril, os partigiani italianos contra os alemães, os gregos. É um fenómeno muito mediterrânico. E, por exemplo, a música do Verdi serviu para os italianos se unirem e revoltarem contra os austríacos quando estes ocupavam o Norte da Europa. Toda a música intervém socialmente. Até a que serve para adormecer os povos e lhes dar a ilusão que vivem bem é tão eficiente como essa. Como a do Tony Carreira, que diz que está tudo bem e que tudo se resolve com amor e com paz, o que é mentira. Nada se resolve com paz; pode resolver-se com amor, mas quanto baste.
Pensa que teve algum sentido especial ver músicos de diversas gerações (Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Teve. Eu também aprendi com os mais velhos. O Zeca (Afonso) ensinou-me a estar, ensinou-me truques de intervenção, agitação e propaganda. A gente delega o conhecimento que tem. E depois é um prazer ver outra vez os miúdos que, não só aparentemente, estavam inactivos, adormecidos – tudo lhes tinha sido fácil e, de repente, deparam-se com as dificuldades -, organizarem-se para lutarem contra elas. Foi uma manifestação fabulosa. Fez-me lembrar as do tempo do 25 de Abril, que eram desorganizadamente organizadas, não eram convocadas por partidos, eram convocados por vontades. Foi muito interessante.
Teve conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a sua opinião sobre esses factos?
Tive, sim. Mas ali as coisas são muito difíceis, como o poder é muito autocrático, muito centrado no Presidente da República. Foi extraordinário, arriscou o pescoço, que aquilo ainda é muito agreste. Fiquei admirador desse músico, embora não saiba exactamente o sentido que ele tinha. Eu sou da opinião que os músicos, os artistas, devem ser sempre de esquerda. Quando não são, eu desconfio… até da qualidade deles.
Qual é a sua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensa de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
De repente, quem é informado e tem acesso aos grandes meios de comunicação viu que tem essa força na mão e está a aproveitá-la. A internet é um instrumento muito perigoso na mão dos povos. Mas os poderes de todo o mundo vão encarregar-se de anular o acesso livre à internet, mais ano menos ano.
RMA é sinónimo de música. Jornalista do Blitz e da Antena 3 (Rimas e Batidas), rosto da editora Rockit e da loja T-Rox, DJ... Se não vos chegar, podem acompanhá-lo também em 33-45.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
Penso que representa um papel semelhante ao das outras artes, do cinema, da literatura. Eventualmente, tratando-se de música pop, pode ter um impacto maior que o da literatura ou das artes plásticas. Mas a arte tende sempre a comentar o pano de fundo social. A História da arte é feita desses momentos, tem essa capacidade e é por isso que nos transporta de olhar para o que se vai passando à nossa volta. A música tem tido um papel particularmente activo de documentar, comentar e instigar esse tipo de mudanças. É curiosa a explosão musical na África pós-colonial e na América dos direitos civis e até antes, na América do movimento sindicalista, etc. A música acaba por ser uma maneira bastante eficaz de comunicar ideias e ideais. É um veículo que rapidamente chega às pessoas e se adapta à própria visão que as pessoas têm dessas transformações da sociedade. Mesmo quando se fala em código, como acontecia no Portugal pré-25 de Abril, a música tem essa capacidade de transmitir as mensagens porque quando existe o mesmo comprimento de onda, quando quem canta e quem está a ouvir partilham duma mesma sintonia, essa mensagem vai ser naturalmente descodificada. Resumindo: se calhar, mais do que outras artes, a música tem essa capacidade de chegar a mais pessoas e por isso tocá-la de uma forma muito mais rápida.
Qual é a tua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto?
Penso que as consequências políticas da manifestação foram zero. Penso que um dos problemas da manifestação foi não se perceber contra quem se estavam a manifestar, não haver um propósito único.
O que achaste ao ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Não sei bem o que hei-de pensar sobre isso. De certeza que houve quem estivesse na manifestação porque concordava com os motivos da manifestação e quem tenha estado na manifestação porque o manager sugeriu que fossem, porque poderia ser um gesto interessante para a carreira. Não sei, não faço ideia. Acho que se sentiu ali um fervor que há muito tempo não se sentia. Isto é o país dos brandos costumes, do deixa andar, onde ninguém se agita, ninguém se manifesta. E ao sentir-se esse empenho global, que afinal não foi só duma geração ao que parece, foi de várias, houve quem queira ter marcado presença.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos?
Ainda não percebemos bem qual será o dia seguinte nesses países. Mas gostaria que se evoluísse em todos os casos para sistemas democráticos e um pouco menos da Idade Média do que os que parecem existir nessas zonas do globo. Nestes países viveu-se demasiado tempo isolado do mundo, e agora as novas tecnologias, o facebook, acabam por ser janelas para outros tipos de vivência, e isso se calhar isso também instiga as novas gerações a quererem mudar alguma coisa. Gostava que as coisas nessas partes do mundo se resolvam. Eu adorava visitar as pirâmides do Egipto, mas toda a minha vida achei que era um destino turístico onde nunca ia investir porque todos os anos se ouvia falar de fundamentalistas a meterem bombas e a matarem turistas. Já chega deste tipo de comportamento no mundo e era bom que estas agitações conduzissem a uma coisa mais pacífica e civilizada.
Seguidamente, pelas 21h30, a loja do Cais do Sodré acolhe um concerto duplo: Elliott Sharp e Filipe Felizardo. O lendário Elliott Sharp irá apresentar um concerto solo baseado em improvisação, mas sustentado em peças de Octal, no seu projecto Tectonics e no seu longo historial de pesquisa sónica multi-referencial. Já o português Filipe Felizardo irá apresentar-se com a sua guitarra, a solo. Após estes concertos a noite irá continuar com mais uma Festa no Trem. A entrada nos concertos vale dez euros e dá acesso à festa.
Um dos manos que tornaram X-Acto (e depois Sannyasin) numa das vozes mais activas e relevantes do Hardcore nacional. Não é por acaso que no dia 6 de Maio, na mesma data em que os seminais Youth of Today tocam no Santiago Alquimista, esta sala lisboeta testemunhará o tributo “Uma Só Voz”.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
A música é o principal veículo de mensagens transformadoras. É diferente do facebook por exemplo devido à dimensão energética que a caracteriza. A informação lança a questão, mas a música, com toda a sua profundidade e alma, com o facto de ter de ser ouvida várias vezes, descoberta, toca a alma e não apenas o cérebro. Toda a música é uma soundtrack para um qualquer momento. Isso é incrivel. Estas foram as duas principais razões pelas quais criámos Sannyasin, X-Acto, Renewal, Sight, Human Beans, e tudo o que saiu disso, desde jungle a Vicious Five, Paus, If Lucy Feel, Linda Martini, etc.
Qual é a tua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto? Estiveste presente? Porquê?
Acho que foi um pedaço de história. Foi um protesto muito importante e um dos maiores de sempre. Felizmente pacífico, festivo, a abarrotar com cerca de 300 mil pessoas! Estive presente, claro! E estive presente porque acho que é importante mostrarmos que não concordamos com o rumo que os nossos "líderes" estão a dar ao país e às nossas vidas. Fingiram uma revolução e estabeleceram uma ditadura bi-partidária apoiada em campanhas em que se vende imagem e nada mais. Existe um estigma em que parece que quem é minimamente politizado é um ser estranho, o que facilita toda esta apatia. É óbvio que mais tarde ou mais cedo o copo tinha de transbordar, e agora todos esses supostos e auto-aclamados "líderes do país" estão a "disfarçar ao máximo". Fiquei mesmo triste com o episódio internacional "Portugalling". Precisamos de "líderes" novos, de uma nova classe política, verdadeira, interessada nesta comunidade, uma classe abnegada, sem frotas de carros ultimo modelo e reformas vitalícias acumuláveis. Acho que é preciso que artistas e músicos se tornem conscientes e activos, presentes na vida do país, que contribuam com soluções, propostas, debate, criatividade, indignação... Mas sem dúvida que temos de ser positivos, a criatividade é vital para cada um tirar a sua vida da miséria. Há que puxar pela cabeça. Não vale a pena deprimir a ver o telejornal. Desliga a TV. Deprimido já o país está.
O que achaste do ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Acho que o sonho e o objectivo de ver este país, esta comunidade, com boas condições de vida, justiça, igualdade de oportunidades, acção social, integração, etc, é transversal a várias gerações e géneros musicais. Achei saudável. Andei algum tempo lá à volta dos Kumpania Algazarra, que estiveram o tempo todo a tocar! Foi um acontecimento grandioso, apolítico, inspirador, lindo.
Tiveste conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a tua opinião sobre esses factos?
Não conhecia. Eu gosto muito do Ikonoklasta. Oiço 75% hip hop e é um movimento no qual me incluo, tal como no hardcore punk ou jungle. Há um DVD que ilustra um pouco isso. Rage Against The Machine em Washington. Ou Atari Teenage Riot em Berlin. Nos concertos de Black Flag era o mesmo. Nem posso dizer que concordo com essas acções. Cada caso é um caso e acho importante mantermos o discernimento e não sermos ovelhas-robots. Juventude desesperada e enraivecida é um factor que devia interessar os "líderes", e não com blindados (a.k.a. utilizar o bloco negro para pedir ainda mais dinheiro para a dívida) mas com acção social e desenvolvimento comunitário. O modelo francês que está a ser seguido vai criar ainda mais problemas sociais.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensa de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
Não sei. Qualquer força, se compreender a psicologia de um povo, consegue facilmente orquestrar qualquer tipo de revolta. Desconfio muito de alguns desses movimentos sociais e desconfio que as agendas políticas por detrás de muitas dessas manifestações devem ser muito diversas. Mas acho muito interessante as pessoas organizarem-se e protestarem. Faz parte deste sistema político e aconselha-se.
Pensas que as mensagens das bandas de punk/hardcore (que sempre tiveram uma grande dose de crítica social na agenda) têm sido pouco valorizadas/reconhecidas em relação às de músicos mais mainstream, que normalmente andam mais desligados destas temáticas? Atribuis alguma razão a isto?
Eu acho que isso é próprio de uma sub-cultura ou contra-cultura, ser descriminada ou marginalizada e ter orgulho nisso. É a Aspidistra à janela. Há uma passagem no documentário "American Hardcore" em que alguém diz "não era qualquer pessoa que ouvia hardcore. A maioria das pessoas odiava o hardcore, e nós tinhamos orgulho nisso". Faz parte da nossa cultura e não me incomoda nada. Contudo, acho importante salientar que 99% das bandas de Hardcore Punk nunca criticaram para obter reconhecimento. Como dizia a banda skatepunk Blast: "punk is the power of expression". Nada mais. Um veículo de comunicação, pessoal ou comunitário, pacífico ou violento, pesado ou melódico, sxe ou drunk punk, emo ou tough guy, whatever.... Mas Hardcore!
Qual o papel do punk/hardcore nos dias de hoje? O mesmo de sempre ou existem diferenças?
O hardcore punk, como sabes, é um animal sempre em movimento e sempre a mudar de forma. Acaba por ser um espelho da sociedade. Tem o papel que cada banda lhe quiser dar. Quem quiser encaixar, encaixa, quem quiser sobressair com uma energia brutal, ou agressividade e criatividade, ou novas ideias, que sobressaia. Esta é uma cultura em que acreditamos no D.I.Y. (Do it yourself - faz tu mesmo), que assegura a nossa independência no panorama musical, por isso o pessoal tem de decidir que papel é que vai ter na cena hardcore. Não vou bater mais no velhinho e falar do passado. Acredito muito mais no futuro do que no passado. Aqui e agora.
O actual vocalista dos Blasted Mechanism improvisou, em plena manifestação na Avenida da Liberdade, em Lisboa, um refrão que seria repetido como um mantra durante o trajecto até ao Rossio.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
Se a música reflecte o que acontece na sociedade no dia-a-dia e as coisas que nos afectam, é muito normal que seja uma voz muito forte tanto das coisas boas como do descontentamento que sentimos. Acaba por ser um canal para extravasar essa insatisfação. E a música é algo muito directo, está sempre presente, é um motor quase subliminar.
Qual é a tua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto?
À partida foi a concentração de muita gente que saiu à rua, e isso só por si é a concentração de muita energia concentrada no objectivo de mostrar o descontentamento pela situação que estamos a viver e, ligado a isso, uma vontade de mudança para uma coisa mais justa, sem partidos, sem cores políticas. Um patamar se calhar não tão ligado ao material, que é o que nos tem pregado a rasteira constantemente. Cada vez precisamos mais de coisas que não estão ligadas ao material, como amigos reais. Enquanto impacto, no dia a seguir o IVA do golfe baixou para os 4% (risos). Senti um bocado que foi um tiro de vaporizador. Tirando a noção de que podemos mobilizar as pessoas para causas sociais que não são o futebol, não foi um tiro certeiro porque não houve um target específico. Vejo um bocado como um primeiro passo, mas precisamos de outro tipo de iniciativas mais dirigidas.
Como é que surgiu a ideia do “Puxa Pra Cima!”? Primeiro veio o refrão e só depois o resto da letra?
Aquilo foi um chavão que ficou dum processo de estúdio, durante uma jam session em que entrei num mega-buraco e a única forma de sair dali para fora era essa frase. Normalmente, durante o processo criativo fazemos mini-rituais de entrega a coisas maiores, e nesse processo abriu-se um vórtex duma energia mais esquisita que me sugou. E essa foi a única coisa que me conseguia fazer sair desse buraco. Na manifestação a coisa colou automaticamente porque foi exactamente esse o espírito. Temos que sair daqui, e só podemos fazer isso se puxarmos a nossa energia para outro nível mais elevado. Cantei isso quando estávamos a tocar o “Athom Bride Theme”, não tinha propriamente uma música. E o pessoal agarrou naquilo. No dia seguinte fomos para o estúdio, escrevi uma letra – que não precisou de ser muito extensa porque a frase do refrão já diz muito – e fizemos aquilo a título de descarga da manifestação dia anterior.
O que achaste de ver músicos de diversas gerações (Homens da Luta; Vitorino; Fernando Tordo; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
É uma coisa que não costuma acontecer muitas vezes, os músicos abraçarem uma causa, sem cachet. Mas os músicos são responsáveis por ajuntamentos de pessoas. E por que não tê-los numa questão social, juntando músicos de diversas gerações? Foi com muita felicidade que vi isso. Foi um dia muito especial, também por isso.
Tiveste conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a sua opinião sobre esses factos?
Vi as notícias e soube que ele depois foi detido, nessa manifestação. Acho que se pagam determinados preços por determinadas posições que tomamos. Mas isso é que dá pica à coisa. Se não tomarmos esses partidos, a nossa vida e a nossa carreira vão ficar mais pobres… se não formos capazes de vestir a camisola da mudança. O punk foi uma das coisas que me fez tocar e está lá essa energia. É por aí o caminho, não vejo o artista desligado desse papel. É nessas lutas de transformação que a nossa consciência muda.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensa de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
Acho que estamos a ser varridos. Alguma coisa maior nos está a fazer acordar, e rebenta com padrões e dogmas. E nós não vamos ficar à margem disso. Nem as sociedades nem os regimes que estão estagnados. Vamos ter que evoluir. Se calhar, os artistas, pelo tempo livre que lhes é disponibilizado para reflectir sobre as coisas que os rodeiam, têm uma certa responsabilidade em devolver de alguma maneira as conclusões e pensamentos a que vão chegando de alguma forma. O Jello Biafra, no concerto de Guantanamo School Of Medicine, esteve todo o tempo entre as músicas a colocar dedos na ferida. Boa parte do meu conhecimento foi-se abrindo através da música, que me fez levantar determinadas questões e rasgar horizontes.
Luaty Beirão é mais conhecido por Ikonoklasta, ou Brigadeiro Mata Frakuxz. Integra, nesta condição, Batida e Conjunto Ngonguenha, entre outros projectos. No passado dia 7 de Março foi detido numa manifestação contra o regime angolano, à qual apelara durante um concerto dias antes.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
Eu acredito que a música joga um papel crucial na nossa formação e evolução como seres humanos, tanto no que toca a percepções e opiniões do mundo que nos rodeia quanto a ideologias políticas, comportamentos sociais e tudo o que tenha a ver com a regulação de temperamento do indivíduo perante os desafios que enfrenta no seu dia-a-dia. A música molda-nos, faz-nos viajar, aprender, experimentar emoções, reflectir, reagir, oscilar de humores, enfim, poderia resumir com uma frase de uma das minhas primeiras músicas à solo: "Música, faz parte da constituição de um ser humano". Como ela participa nas transformações sociais e políticas? Depende de como elas são mais ou menos abrangentes e o grupo de pessoas que está ou não exposto à ela. Normalmente a música com conteúdo lírico, de intervenção ou crítica social, é sempre uma música de nichos e os nichos levam o seu tempo a tornarem-se importantes o suficiente até que se possa medir o impacto que teve ou deixou de ter. Acho que, por defeito, a música com carga política é feita mais depois de factos consumados, na hora de celebração das conquistas, do que usada como real ferramenta de activismo político com influência directa no desenrolar dos acontecimentos de um país. Há excepções como o caso da grande parte dos intelectuais da música brasileira que tiveram de optar pelo exílio durante a ditadura militar porque a provocavam com suas músicas, mas isso é a excepção à regra, pelo menos em países onde os regimes sejam opressores e a censura seja um facto inegável. Nos países onde a democracia já reina, a música de intervenção é recebida com mais cinismo e ironia, como fazendo parte de um complexo mosaico cultural e perfeitamente tolerável. A maior parte das pessoas não se revê em mensagens revolucionárias, pois não sentem haver verdadeiramente necessidade de revolução. Num país como Angola, a música de intervenção tem uma influência incontornável na juventude que hoje. Depois de quase 20 anos, começamos a sentir os efeitos. Os jovens que cresceram insatisfeitos com a situação política no país e que encontravam no hip hop consciente a certeza de que afinal não estariam malucos e sozinhos, estão hoje a ocupar cargos dentro das estruturas de poder e estão a começar a ser actores de uma mudança de mentalidade generalizada. No outro dia quando estava a ser detido, um jovem polícia de trânsito sentou-se ao meu lado, recitou algumas rimas minhas muito antigas e revelou ser hoje um reflexo do que as músicas desse género musical lhe semearam no cérebro (ele próprio também era rapper). Acho que essa é a força da música, semear ideias em cérebros receptivos de onde brotarão mentalidades novas para reciclar as velhas, na esperança que essa mudança seja generalizada, quando os nichos se tornem de facto nas massas.
Tiveste conhecimento da manifestação de dia 12 de Março em Lisboa? Qual é a tua opinião sobre a mesma e o seu eventual impacto?
Tive. Fiquei contente porque tenho impressão do jovem português particularmente apático em relação às outras juventudes europeias, que com muita frequência usam as marchas e manifestações para exprimir a sua cólera e repúdio pelas políticas dos seus decisores eleitos. A minha opinião sobre as manifestações é que elas são uma ferramenta poderosa na luta de poderes, massas governadas vs governantes decisores. Se ela for usada com convicção e determinação suficientes, as exigências populares acabam sempre por dar os frutos saborosos da vitória. Quando estava em França houve um movimento de estudantes que bloqueou as escolas e universidades durante mais de um mês, chegando mesmo a comprometer o ano lectivo, mas no final o movimento triunfou sobre mais uma modalidade de contrato precário que o governo queria fazer passar. Qual será o impacto da manif da "geração à rasca?". Depende. Haverá continuidade ou foi um acto isolado fomentado por um fervor inédito que movimentou os milhares de pessoas que se sentem com a corda ao pescoço? O que quererão realmente os manifestantes e será que eles percebem as possíveis implicações do que exigem? Eleições antecipadas? Mas acham que o governo seguinte saberá satisfazer toda a nação com as medidas que irá tomar? Eles irão herdar os buracos orçamentais que derivam de uma crise à qual um país como Portugal não tem muitas maneiras de se evadir. Ainda para mais, hoje em dia com essa história de UE, as ferramentas económicas que um Estado soberano tinha a seu dispor são muito mais limitadas e as obrigações são praticamente escravizantes. Se a tuga não conseguir baixar os índices de endividamento público rapidamente, correm riscos de sofrer sanções económicas. O kumbú dessas sanções depois é aplicado a apoiar programas de fomento de economias europeias mais atrasadas ou em risco de colapso, ou a subvencionar as agriculturas mais fortes da união. Eu acho que as medidas que o vosso governo tomou recentemente são altamente impopulares e, por isso mesmo, um grande pesadelo para eles que irão perder credibilidade ao pé dos seus eleitores e, provavelmente, as eleições, julgando pelos níveis de paciência que parecem ter atingido a luz vermelha da reserva, ao ponto de trazer os portugueses à rua tão massivamente. Por isso eu acho que a questão a colocar aí não é que consequências terá a manif, mas sim que consequências os manifestantes querem que ela tenha e até onde estão dispostos a ir para que elas se materializem, se o facto de se terem juntado tantos terá criado um bichinho político em cada uma daquelas pessoas, se elas se deram conta da força que o povo tem quando se junta em torno da mesma causa, se se irão criar grupos de discussão tão ausentes nessa apática classe estudantil. Essas são as verdadeiras questões a colocar, porque uma manifestação por si só, isolada, não creio que vá fazer os políticos, já abençoados pela UE, mudar de ideias quanto ao seu projecto de contenção e retenção.
O que que achaste de ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Acho sempre bonito, ver que as ideias de um mundo mais equilibrado, mais justo e mais equitativo são transversais às gerações, cores, credos e bandeiras políticas. Só espero não vir a saber mais tarde que algum deles foi pago para lá estar, porque isso mata a fé e a motivação de qualquer santo e os artistas são especialmente movimentadores de massas, por isso os mercenários de utopias são a espécie mais perigosa que há para a credibilidade de um movimento.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensas de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
Acho que já estava na hora. Convocadas por músicos acho que é ir um pouco longe demais, inspiradas talvez, mas difícil dizer até que ponto. De qualquer maneira, o Marx cagou uma sentença para o capitalismo que eu acho que é extensível às ditaduras indesejadas (não creio que sejam todas GENERALIZADAMENTE indesejadas, em Cuba por exemplo, acho que a população está bastante dividida) mediante este processo de globalização que se traduz pelo acesso às tecnologias e a informação por parte de quem antes tinha de se conformar com os mídia estatais onde a informação era triada e transformada para um consumo que não estimulasse ideias: "o capitalismo carrega na sua própria génese, a semente da sua auto-destruição". Estava na hora. A América Latina acordou nos anos 80, agora é a vez de África, esses déspotas todos vão ser escorraçados do poder que julgam pertencer-lhes.
Estes manos são humoristas (Vai Tudo Abaixo) e músicos: Kalashnikov ou Homens da Luta, que nos vão representar nesse grande certame que é o Festival da Canção. O que une estas duas facetas é a ironia, o sarcasmo e um olhar acutilante sobre Portugal e o Mundo.
Que papel consideram que a música desempenha como motor de mudança social e política?
Falâncio: A música é uma maneira de chegar às pessoas, duma maneira que as pessoas conseguem ouvir e absorver a mensagem. E, sendo assim, a música é uma arma e será sempre uma arma. E não precisa de ser só uma música de reivindicação para ser uma arma de arremesso contra aqueles que nos tiram a esperança todos os dias.
Jel: A música é uma bomba atómica, é a forma de comunicação mais evoluída que há no mundo. A música une as pessoas.
O que sentiram ao terem na carrinha da luta músicos como o Fernando Tordo e o Vitorino?
Falâncio: A luta é feita para problemas que afectam várias gerações, logo todas as gerações estão juntas. Esses músicos estão todos com a mesma filosofia de mudança.
Jel: É uma grande prova de solidariedade dessa geração mais velha para com os problemas da geração mais nova. Temos que estar todos unidos, mais velhos e mais novos, homens e mulheres. É simbólico, é sinal de que a sociedade civil está viva e que esta mudança é necessária. Esteve aqui gente que não tem partido, gente de partidos. São todos bem-vindos: já dizia o Zeca Afonso, «são todos bem-vindos, desde que venham por bem.»
Qual é a vossa opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos?
Falâncio: As consciências das pessoas estão a mudar um pouco por todo o lado, e é inevitável que elas venham para a rua gritar.
Tiveram conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a vossa opinião sobre esses factos?
Jel: É preciso muita coragem para fazer a luta em qualquer lado, e muito mais em Angola, que vive num regime tão fechado e com tantos problemas. Quero mandar um abraço para lá.
O vocalista da Feromona deverá lançar o álbum a solo Canções Para Senhorasdepois da silly season. Aqui manifesta as suas opiniões como um Homem que pensa pela sua cabeça.
Consideras que a música desempenha algum papel nas transformações sociais e políticas? Porquê e que papel desempenha na tua perspectiva?
Claro que sim. A música é uma maneira de comunicar e, se falarmos de música "para as massas", é uma maneira de comunicar com muita gente. Só isto já justifica a importância que tem. Qualquer manifestação criativa, cultural ou artística no seio de uma sociedade é o reflexo de qualquer coisa. Aliás, nem tem de ser necessariamente um "reflexo", pode antes ser um "resultado" - e usemos o termo de forma generosa, porque há muita maneira de ser um "resultado". Basicamente, a música é feita por pessoas, cidadãos, logo a música é parte da sociedade e intervém (e resulta, também) nas/das suas transformações.
O que te levou a participar na manifestação de Sábado e qual é a tua opinião sobre o eventual impacto da mesma?
O que me levou a participar foi um enorme descontentamento com uma série de situações do contexto português actual, por um lado; por outro, uma necessidade muito simples de dizer que "estou aqui, estamos todos juntos" e acredito que podemos fazer melhor. Participei, também, por ser uma manifestação livre de partidos (embora não absolutamente desinfestada, porque há pragas muito difíceis) e na qual as palavras de ordem eram as de cada um. Cada pessoa tinha qualquer coisa para dizer - ou não. Agradou-me muito essa "liberdade de manifestante". Houve ainda, em assuntos mais específicos - a precariedade laboral, a injustiça no emprego, os salários vergonhosos, os falsos recibos verdes, os estágios infinitos, etc. -, uma necessidade de me mostrar solidário com as pessoas que sofrem com isso. Até porque também eu sofri durante muitos anos, sei bem o que é e o que uma pessoa sente. Depois ainda havia outro motivo, mas não fui bem sucedido. Fui para o Marquês determinado a mudar o nome da minha geração porque "à rasca" é muito feio. Mas ninguém me ligou nenhuma, preferiram os Homens da Luta. Eu entendo.
O que que achaste de ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos na mesma manifestação?
Achei bonito, claro. E foi importante ver uma manifestação que começou por ser de uma geração mas que não se confinou a ela, foi uma manifestação de todos, de um povo, de uma nação - o que se reflectiu nesse tal mix de gerações de músicos. O facto de alguns deles serem cantores e músicos que, de alguma forma, estiveram ligados à revolução de Abril de 74, enobrece-lhes ainda mais a presença. Mas não deixa de ser normal que quem sempre lutou por um país melhor, mais justo e mais feliz, continue a lutar pelo mesmo a vida toda, seja em que momento for. Não me surpreendeu, nada mesmo, ver o Vitorino no carro dos Homens da Luta, por exemplo.
Qual é a tua opinião sobre os cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos?
Não tenho uma opinião bem formada sobre o assunto. A única coisa que posso dizer é o que é absolutamente óbvio: há muita gente descontente, insatisfeita; há uma realidade que privilegia uns e maltrata a maioria; no caso dos países do Norte de África, o contexto é ainda mais específico, já que se trata de regimes fechados com o poder nas mesmas mãos há já muito tempo.
Este jurista especializado na área do Direito do Ambiente é sobretudo conhecido como vocalista dos Mão Morta, banda que sempre fez questão de reflectir sobre a realidade, por mais incómoda que ela seja.
Que papel consideras que a música desempenha nas transformações sociais e políticas?
A música certa na ocasião apropriada é sempre passível de constituir uma boa banda sonora, e isto em todos os momentos da vida, privados ou colectivos. Pode, enquanto tal e numa qualquer contestação ou transformação social e política, ser factor de união e de referência, veículo catalizador de anseios e aspirações. Na melhor das hipótese, consegue reflectir, ao integrá-lo e exprimi-lo, um mal-estar geral dissimulado ou um desejo comunitário latente e, nesse caso, quanto melhor o integrar e exprimir melhor funciona enquanto bandeira da sua consciencialização e mais apta se torna a federar vontades atomizadas. Na pior das hipóteses, consegue transfigurar-se numa palavra de ordem – se é que ainda podemos falar de música quando isso acontece! Mas, seja como for, é sempre ornamental em relação às transformações sociais. Porque, por si só, a música não gera movimentos colectivos de contestação política nem provoca transformações sociais.
Qual é a tua opinião sobre a manifestação de 12 de Março em Portugal e o seu impacto?
As manifestações de 12 de Março foram grandiosas, como há muito não existiam, e significativas enquanto termómetro do descontentamento social que é patente na sociedade portuguesa. Mas para além da objectivação desse facto, do impacte mediático que isso causa e do aproveitamento que do mesmo tenderão a fazer as forças partidárias no seu combate político pelo poder, não há qualquer outra consequência. As manifestações apresentaram um vasto denominador comum de desagrado e insatisfação, mas não exprimiram qualquer programa de acção, minimalista que fosse, qualquer vontade para além da mera amostragem do descontentamento. E quando assim é o impacte acaba por ser apenas virtual.
O que achaste ao ver músicos de diversas gerações (Vitorino; Fernando Tordo; Blasted Mechanism; Kumpania Algazarra...) unidos numa mesma manifestação?
Não achei nada. As manifestações tiveram um cariz transversal a toda a sociedade portuguesa, integrando várias gerações de desempregados, de precários, de professores, de arquitectos, de empregados do comércio, de economistas, de engenheiros, de actores – porque não de músicos?
Tiveste conhecimento do que o músico Ikonoklasta fez em Angola, convocando durante um concerto uma manifestação contra o regime de Eduardo dos Santos, tendo sido detido nessa mesma manifestação? Qual a tua opinião sobre esses factos?
Um músico é, antes de mais, um cidadão. O facto de ser músico, de ser uma personalidade pública, pode proporcionar ao cidadão uma visibilidade que, de outro modo, não teria – o que responsabiliza ainda mais o cidadão. Num regime como o angolano, que reprime as mais elementares manifestações de cidadania, como o simples direito de expressão ou de opinião, assumir a responsabilidade de ser cidadão é um acto de coragem. Política e física. E é um acto de coragem porque tem obviamente consequências, a primeira das quais é a de canalizar sobre si a repressão do regime. A mesma que se abate sobre muitos outros cidadãos angolanos, que não são músicos.
Qual é a tua opinião sobre o facto de cidadãos de vários países, não só na Europa como em África, Médio Oriente, etc, estarem a vir para a rua gritar contra os respectivos regimes políticos? E o que pensas de algumas dessas manifestações estarem a ser inspiradas ou convocadas por músicos?
A contestação pública, pelos mais diversos motivos, circunscrita ou generalizada, é uma constante das sociedades ocidentais sob regime democrático. O dado novo é que essa contestação ocorra em sociedades oligárquicas e ditatoriais que, desde o fim dos impérios coloniais, sempre desfrutaram do apoio do Ocidente, como garante do equilíbrio geo-estratégico regional. E, sobretudo, que essas contestações tenham sido sucessivamente vitoriosas, quanto às suas pretensões mais imediatas, nos diversos países onde têm ocorrido, com o Ocidente a apressar-se nos apoios às mesmas, apesar do passado recente, como forma de garantir a manutenção dos eternos equilíbrios regionais. Mas, passando por cima da hipocrisia dos Governos ocidentais, europeus ou americanos, eu só posso regozijar-me com as mudanças de regime surgidas no Norte de África – e com as outras que estão em vias de acontecer, tanto no Magrebe como no Médio Oriente – e com a liberdade conquistada por tunisinos e egípcios. E só espero que a seguir à liberdade venha uma redistribuição da riqueza que atenue a pobreza desses povos, coibindo o fundamentalismo islâmico de por aí alastrar e impor uma nova ditadura. Quanto à existência ou não de músicos nesses movimentos populares de contestação aos regimes ditatoriais, não faço a menor ideia – mas sendo os músicos pessoas como outras quaisquer, admirado ficaria se não houvesse músicos mais ou menos activos por entre os contestatários.
Mesmo que o resto do programa deste ano fosse irrelevante – e não o é, pois um evento por onde já passaram nomes como Rokia Traoré, Tinariwen ou Lee ‘Scratch’ Perry dá garantias de qualidade – o último concerto que foi anunciado (e que encerrará as festividades no Castelo) impõe, só por si, uma deslocação à cidade que assistiu ao nascimento de Vasco da Gama. Os jamaicanos ‘Sly’ Dunbar (bateria) e ‘Robbie’ Shakespeare (baixo) constituem a mais importante secção rítmica da História passada e presente do Reggae e seus descendentes mais ou menos directos, estando no top dos artistas de estúdio mais prolíficos do mundo. De acordo com uma estimativa, já terão tocado ou produzido cerca de 200.000 canções – estás a ler, Ricardo Landum?!
Dia 30 de Julho o calor vai apertar e os corpos não vão ficar indiferentes à vibração de Sly Drumbar e Robbie Basspeare. Irie!!!
Dentro de uma hora e meia acontece no Café au Lait a 4ª edição do BODYSPACE AU LAIT com Rui Lima & Sérgio Martins. A entrada é livre. A dupla começou a colaborar em 1997 e desde então não pararam mais de criar. Nos últimos tempos colaboraram em aventuras como os Morteshopping, Mimicalkix, Bambi Neto ou Comercial Bastardo mas aqui a dupla apresenta um projecto de originais com a duração aproximadamente de 50 minutos baseado em suportes de registo sonoro fixo, como a fita magnética ou suporte digital, passando por formas musicais diversas; da pop à electroacústica, das electrónicas à música experimental. Uma longa viagem que tem na sua génese a intenção da re-interpretação do movimento "tape music", universo do mundo concreto, da utilização do som como uma plasticidade. Promete muito.
Depois, e porque amanhã é feriado, no Passos Manuel há COLIGAÇÃO com Anica + Loup + Luis Machado + Paulo Vinhas + Rodrigo Affreixo + TAM. Ainda na cidade do Porto, e à mesma hora, há Revolução no Armazém do Chá com Sensible Socares, seguindo-se os Evols, continuando a noite com DJ Sets de Os Yeah e dos Evols. Apresentando cada um dos projectos: os Evols não são guitarras, nem "fuzzes", "wahs" ou "echo's", muito menos ruido. São uma cavalaria psicotrópica capaz de libertar no mais cinzento dos cérebros, seretonina para por um cavalo a ladrar. Antes do seu regresso a Espanha na companhia da banda norte americana " The Dodos" os Evols entram a matar no Porto.
Em minúsculas, como a música desempregada obriga, informamos que os sensible Socares são um trio que pratica um futebol muito meigo, muito carinhoso, cheio de delay e emoção. com elementos provenientes de outros projectos como wools, niilist assault group entre outros.
É o mais recente nome para o festival de Barcelos que vai na sua quarta edição e segunda neste formato que anda ombro a ombro com os festivais do género em Portugal. Os Radio Moscow, senhores de riffs a la Led Zeppelin, amantes do rock psicadélico, dos solos sem princípio nem fim, regressam a Portugal para um concerto no dia 24 de Julho, domingo. Lembramos: 25 euros para um dia e 50 para o passe de três dias, que inclui campismo. A partir de 22 de Julho a cena passa a valer 60 euros.
Lobster, Bob Log III, Shit & Shine, Long Way To Alaska, The Glockenwise, Foot Village, Kim Ki O, DJ Fitz, Comanechi, Veados Com Fome, If Lucy Fell e Electrelane são os outros nomes do festival que acontece em Barcelos entre 22 e 24 de Julho. Aguenta coração.
Nós achamos que sobretudo os Radio Moscow conseguiram muito bem captar a essência dos Led Zeppelin neste vídeo. A certa altura quase se ouve a "Heartbreaker" lá ao fundo em loop.
Depois de uma celebrada passagem na companhia de Nico Muhly e mais alguns meliantes, Ben Frost regressa ao Teatro Maria Matos em dia de celebrações revolucionárias (25 de Abril para os monárquicos, fascistas e quejandos que não se recordem), para recriar o magnânimo By the Throat de 2009 na companhia do contrabaixista Borgar Magnason. Disco "em que o ruído ataca em matilha, monumento de atrito sinfónico e núcleo tão hostil quanto irresistível, armadilha assegurada pela claustrofobia d’O Reino, de Lars Von Trier, e dos primeiros filmes de John Carpenter" nas imortais palavras do grande Miguel Arsénio. Oportunidade para todos os desgostosos aquando do adiamento no Fim de Semana Especial no ano transacto (re)tomarem contacto com o negrume estratificado das canções de Frost. O concerto está marcado para às 22 horas e terá o preço de 12€ ou 6€ para menores de 30. Podem ver em baixo um vídeo gravado no Festival Mutek em 2010 :
Acontece nos próximos dias 27, 28 e 29 de Abril, no Roof do espaço Kolovrat 79, em Lisboa. O sótão da loja de Lidja Kolovrat que tem vindo a acolher noites mágicas - dizem - acolhe 3 concertos programados por 3 entidades distintas, envolvidas em projectos editoriais e programação de eventos - Grain of Sound (Sonicscope, Mascavado), Variz (Vilatone, SuperStereo DEMOnstration) e Rescaldo (Festival Rescaldo). Reina o número 3 portanto: 3 dias, 3 entidades, 3 concertos por dia. Até o nome do certame: Festival 33 (3 ao cubo), que tem como linha mestra o "cruzamento de programadores, estilos e cumplicidades, agora unidos num mesmo evento". Na quarta-feira, dia 27, sobem ao sótão Maranha + Garcia + Ferrandini (22h), Rodrigo Amado a solo (23h) e o Lumpen Trio (00 h).
Aquele que se orgulha de ser o "festival português que acontece há mais anos, em continuidade" está de volta em 2011 para a sua 19ª. Como sempre, o festival tem lugar com vista para a belíssima paisagem da Praia do Tabuão, nos dias 17, 18, 19 e 20 de Agosto. Os bilhetes para a edição deste ano estão à venda hoje, com um desconto de 10 euros para quem comprar até dia 15 de Maio. O bilhete diário tem o custo de 40 euros, o passe para 4 dias com campismo custa, até 15 de Maio, 65 euros. A partir do dia 16 de Maio, portanto, há que chegar à frente com 75 euros.
As primeiras confirmações chegaram hoje mesmo. os Crystal Castles (17 de Agosto); Esben and the Witch (18 de Agosto); Deerhunter (19 de Agosto) e Two Door Cinema Club (20 de Agosto). A organização promete mais confirmações para breve. Por enquanto já vai dando para sonhar um pedaço ao som de "Helicopter" dos Deerhunter.
Numa altura em que o calor parecia estar a apoderar-se mais cedo da costa portuguesa, eis que hoje nos indicam que as temperaturas vão baixar e se esperam aguaceiros; lá se foi o verão de Abril. Todo? Não, que amanhã, no Lux - início às 22h30, bilhetes a 20€ -, a menina Bethany Cosentino regressa para mostrar as óptimas canções de Crazy For You, incluindo a infecciosa "Boyfriend", cujo vídeo aqui deixamos. Portanto, mesmo que o tempo no lado de fora não ajude, lá dentro haverá verão q.b. para poderem ir de calções e sandálias. Sem medos.
Nessas redes sociais que nos distraem de coisas mais importantes, alguém dizia, aquando da confirmação dos Lobster no festival Milhões de Festa, que só faltava confirmar os Veados com Fome. Pois já nem isso falta. O power trio de Santo Tirso - assim era na altura, agora não estamos certos - toca antes dos Lobster no dia 23 e por isso fomos falar com Tiago Ferreira que nos escreveu uma espécie de press release da coisa. Só para nós: "André Pinto, João Gonçalves e Tiago Ferreira, outrora conhecidos por Veados com Fome, estão muito felizes por anunciar que vão actuar ao vivo no Milhões de Festa 2011. A actuação terá um carácter totalmente episódico, não estando previstas quaisquer outras actividades. Os ensaios já começaram e se o resultado final correr tão bem como estes, estamos certos de que alguém será processado (e condenado) criminalmente".
Vai umas sandes?
Os Digitalism preparam-se para lançar um novo disco em Junho, intitulado I Love You, Dude. e nós temos o primeiro single desse mesmo disco em audição livre e gratuita no nosso player. É só carregar ali em baixo, minha gente. Pelo que ouvimos dizer, será um disco apontado de novo às pistas (e não pitas, como inadvertidamente escreveu inicialmente quem assina este texto) de dança e um disco que mantém a identidade dos Digitalism. Para confirmar em Junho.
Cavalheiro - Lado de Lá [mp3]
Arrancou na passada quinta-feira, ao final da tarde, a edição 2011 do 8 1/2 - Festa do Cinema Italiano. O festival abriu com um debate no Conservatório Nacional sobre música para cinema, que contou com a participação dos pianistas e compositores Bernardo Sassetti e Ludovido Einaudi. Após a conversa o público teve a oportunidade de assistir à interpretação de uma peça de Einaudi, composta para uma versão alternativa de Doutor Jivago, evocativa de um certo minimalismo Glass/Nyman. A Festa do Cinema Italiano continua em Lisboa até dia 21 e segue depois para Coimbra (27 a 29 abril), Porto (29 de abril a 1 de maio) e Funchal (5 a 8 de maio). Um dos destaques da programação é o filme Passione, de John Turturro, que conta com a participação da cantora Mísia.
A próxima proposta BODYSPACE AU LAIT, no dia 24 de Abril, domingo, no Café au Lait, Porto, é Rui Lima e Sérgio Martins, que começaram a colaborar em 1997 e desde então não pararam mais de criar. Nos últimos tempos colaboraram em aventuras como os Morteshopping, Mimicalkix, Bambi Neto ou Comercial Bastardo mas aqui a dupla apresenta um projecto de originais com a duração aproximadamente de 50 minutos baseado em suportes de registo sonoro fixo, como a fita magnética ou suporte digital, passando por formas musicais diversas; da pop à electroacústica, das electrónicas à música experimental. Uma longa viagem que tem na sua génese a intenção da re-interpretação do movimento "tape music", universo do mundo concreto, da utilização do som como uma plasticidade. O convite é dos próprios: “Livre decomposição... Um concerto experimental-pop. Teatro para os seus ouvidos moucos”. Para mais uma tarde de profundo e recompensador encontro com o desconhecido, numa daquelas tardes do ano – de Páscoa - em que as únicas novidades são os podres da família. A entrada é livre.
Lembramos:
Ainda que não seja uma promotora, o Bodyspace, de braço dado com o Café au Lait, no Porto, aproveitou as resoluções de ano novo para se lançar aos concertos no papel de programador, de instigador de alguma da música que achamos merecer a atenção. Não só porque gostamos de frequentar esse habitat natural mas porque uma webzine em 2011 deve ser mais do que isso: deve passar da palavra à acção e colocar o carro em frente dos bois. O ciclo que vai de Janeiro a Dezembro (em Agosto estamos de férias, avisamos já), com entrada livre, aposta tanto em nomes que são já conhecidos do público em geral, como naqueles que começam agora a trilhar um caminho de sucesso. É esse o nosso equilíbrio. E que melhor sítio que o Café au Lait, no Porto, onde quase diariamente se pode descobrir alguma da melhor música que a actualidade nos oferece, para o fazer? Foi aí que encontramos o palco perfeito para um conjunto de concertos que em muito reflecte o que se vai passando nas páginas do Bodyspace ao longo do ano. De Janeiro a Dezembro, o Bodyspace substitui-se ao Café e dá o braço ao au Lait: BODYSPACE AU LAIT, uma vez por mês para alegria do freguês.
Amanhã, sábado à noite, a Casa da Comédia apresenta ao vivo dois duos nacionais imperdíveis. Quatro músicos portugueses, detentores de linguagens musicais altamente especializadas, vão distribuir-se por dois rounds de improvisação dialogante: primeiro a dupla Pedro Gomes & Gabriel Ferrandini vai combinar a força da electricidade com uma incrível vertigem rítmica; depois a guitarra inimitável de Manuel Mota vai encontrar afinidades no baixo de Margarida Garcia. Os concertos começam pelas 22h. A Casa da Comédia fica na Rua São Francisco de Borja nº 22, em Lisboa, e a entrada vale "5 ferrandinis" (é o que diz o cartaz).
Fontes oficiais dizem que "foi um banho". Quem não pôde assistir à energia bruta dos históricos punks na noite de ontem na ZDB poderá comprovar hoje uma descarga de selvajaria sonora, uma vez que os NoMeansNo fazem um concerto extra no "Aquário" da Rua da Barroca esta noite. Aquela foto do Nuno Martins, ali em cima, dá uma ideia do que aconteceu ontem e daquilo que vai acontecer mais logo. Não é pra meninos.
Sexta-feira, há concerto dos Long Way to Alaska, uma sensação indie à escala nacional, autores de Eastriver, disco que o nosso Simão Martins considerou que "chegou tarde mas ainda em boa hora, a tempo de provar que há mais um grupo de malta em Portugal capaz de dar tudo pelas canções".
Sábado, a noite é em dose dupla, com concertos de Pássaro (rapaz dado à poesia que tem uma guitarra acústica) e Cosie Cherie, duo fixado em Torres Vedras (uma Tânia portuguesa e um Job holandês) que faz folk-pop-indie-catita.
Os concertos começam às 22h00, no Auditório da Junta de Freguesia de Espinho e os bilhetes custam 2 euros por noite.
Vejam ou revejam a videoteca dos Long Way to Alaska:
De 5 a 14 de Agosto a cidade de Lisboa vai receber um verdadeiro desfile com os nomes grandes que fazem o jazz contemporâneo. Entre figuras histórias (Peter Brötzmann, Cecil Taylor, Wadada Leo Smith) e músicos que definem a cena actual (John Hollenbeck, Ken Vandermark, Mats Gustafsson, Mary Halvorson ou Darius Jones) o cartaz da edição 2011 do Jazz em Agosto é um reflexo da cena jazz criativa contemporânea, nas suas diversas vertentes. Os motivos de interesse do festival da Gulbenkian serão imensos: o velho Brötzmann reencontra o trompetista Toshinori Kondo, parceiro do memorável quarteto "Die Like a Dog"; Vandermark junta-se com o versátil Paal Nilssen-Love às guitarras rockantes dos The Ex; o genial Cecil Taylor apresenta-se num raro concerto a solo; Darius Jones apresenta ao vivo os Little Women, grupo que gravou um dos discos mais elogiados do ano passado; a brilhante guitarrista Mary Halvorson integra o quinteto Anti-House da saxofonista alemã Ingrid Laubrock; o trompetista Wadada Leo Smith apresenta o grupo Organic, numa ligação à fase eléctrica de Miles Davis; John Hollenbeck, mentor do belíssimo The Claudia Quintet, apresenta o seu Large Ensemble; o guitarrista Luís Lopes apresenta o seu Humanization 4tet, com Rodrigo Amado, Aaron González e Stefan González; o incendiário Mats Gustaffson apresenta o seu projecto Fire!. A edição deste ano tem a novidade de apresentar concertos no novo Teatro do Bairro, espaço que contará também com a animação musical de DJ Johnny. Além dos concertos, o programa inclui uma conferência proferida pelo crítico de Bill Shoemaker e vai ainda apresentar quatro filmes: Cecil Taylor: All The Notes, Black February: A Film about Butch Morris, Playing your own thing: A story of Jazz in Europe e Women in Jazz. Aqui fica o programa completo.
Gulbenkian, Anfiteatro ao Ar Livre
5 Agosto, 21h30: Cecil Taylor
6 Agosto, 21h30: Ingrid Laubrock "Anti-House"
7 Agosto, 21h30: Wadada Leo Smith "Organic"
12 Agosto, 21h30: Brötzmann/Kondo/Pupillo/Nilssen-Love "Hairy Bones"
13 Agosto, 21h30: The Ex Guitars meet Nilssen-Love/Vandermark Duo
14 Agosto, 21h30: John Hollenbeck Large Ensemble
Teatro do Bairro
9 Agosto, 22h: Luís Lopes Humanization 4tet
10 Agosto, 22h: Little Women
11 Agosto, 22h: Fire!
Gulbenkian, CAM Sala Polivalente
6 Agosto, 18h30: Documentário Cecil Taylor: All the notes
7 Agosto, 18h30: Documentário Black February: A film about Butch Morris
12 Agosto, 18h30: Documentário Play Your Own Thing: A story of jazz in Europe
13 Agosto, 18h30: Documentário Women In Jazz
14 Agosto, 18h30: Conferência por Bill Shoemaker: "The Worlds of Cecil Taylor"
Manuel Cruz falou sobre o assunto para dizer que "tudo acaba e o Foge Foge Bandido não será excepção. Sinto que o Bandido atingiu de certa forma a maturidade em concerto e isso deve-se ao empenho e capacidade dos músicos assim como de toda a equipa técnica", explica Manel Cruz que, para o futuro, deixa saber que se sente "impulsionado a aproveitar o retorno merecido deste trabalho, pôr em prática o que aprendi com tudo isto e partir à descoberta de novas coisas".
Última oportunidade para ouvir isto ao vivo (25 de Junho em Lisboa, Centro Cultural de Belém; 30 de Junho em Coimbra, Teatro Académico Gil Vicente; 1 de Julho, Estarreja, Cine-Teatro Estarreja; e finalmente, dia 2 de Julho em Famalicão, na Casa das Artes de Famalicão):
Gravado ao vivo no Teatro da Luz em Carnide (daí o título), num concerto que teve lugar no dia 19 de Dezembro do ano passado, o novo disco de Minta & The Brook Trout conta com um grupo de convidados "allstar". A capa é esta coisa aqui em cima e além dos habituais Mariana Ricardo e Manuel Dordio (membros dos Domingo no Quarto e colaboradores de diversos projectos), a gravação ao vivo conta a participação de uma longa lista de nomes que constituem a viva cena musical portuguesa, como Noiserv, Márcia, Walter Benjamin ou Miguel Bonneville. Ao vivo, Minta AKA Francisca Cortesão e amigos recuperaram belíssimos temas já registados anteriormente, como "The Booze", "A song to celebrate our love" ou "Large Amounts", e deram-lhes nova vida. Se o
Cavalheiro, que é como quem diz, Tiago Ferreira prepara-se para lançar um novo EP. E passamos logo para o próprio na primeira pessoa: “chama-se Farsas e é um pequeno conjunto de 4 canções gravadas e misturadas nos Amp Studios em Viana do Castelo. Fazem parte de uma espécie de nova sonoridade mais musculada que agora tenho vindo a praticar, muito por obra e graça do quarteto que agora lidero. O EP sairá dia 15 de Abril pela Honeysound de Barcelos e terá uma discreta edição física, manufacturada por mim e pela minha namorada, mas estará disponível para download gratuito no site”. Uma das canções desse EP chama-se “Lado de lá” e pode ser ouvida em rigoroso exclusivo ali em baixo. Sobre esta canção, Tiago Ferreira diz-nos o seguinte: “fiz esta música com o Gil Amado [Long Way to Alaska] numa tarde do verão passado. Devemos ter demorado uns 20 minutos a completá-la. Dizer alguma coisa sobre ela parece-me de todo redundante pois a música é inequívoca. É essencialmente triste, mas tentei dar-lhe uma volta de esperança no fim”. Mais informação consultar o site oficial.
Cavalheiro - Lado de Lá [mp3]
Chama-se Fala Mansa e tem data de lançamento a 11 de Maio. É o terceiro disco de Norberto Lobo, um dos nomes que mais interessam na música feita em Portugal nos últimos dez anos. A ocasião será devidamente assinalada com um concerto no Teatro da Trindade no dia 11 de Maio (o lançamento no Porto será no Passos Manuel (ao Coliseu do Porto) no dia 14 de Maio, sábado). A ouvir pela canção que aqui partilhamos, “Chuva Ácida (Darque)”, é de esperar algumas mudanças neste novo disco; a maior de todas elas, é possível ouvir-se a voz do Norberto nos temas com que se abre e fecha Fala Mansa.
O disco foi gravado pelo Eduardo Vinhas e pelo Pedro Magalhães em Mértola - foto da sessão em cima - numa casa da família Vinhas. O disco tem o seguinte alinhamento:
1 - Chuva Ácida (Darque)
2 - Charleston para Jack
3 - Fio Mental (Oiã)
4 - Balada para Lhasa
5 - Chao Min de Luz
6 - Requiem para as Abelhas
7 - Aconchego Solar
8 - Shibuya Girls Parte I
9 - Shibuya Girls Parte II
10 - Haiku Para Mike
11 - Fala Mansa
Norberto Lobo - Chuva Ácida (Darque) [mp3]
Os portuenses X-Wife andam a mostrar na internet - e por aí - o vídeo para o single "Keep on Dancing", que antecipa o novo disco da banda, Infectious Affectional, a ser editado muito em breve. O vídeo é assinado por André Tentugal, colaborador regular da Videoteca Bodyspace. Enjoy.
A CDGO, ou Jojos, no Porto, conhecida por ser a loja de discos mais antiga de Portugal, celebra no dia 16 de Abril próximo, sábado, entre as 15 e as 20h, o Record Store Day 2011. A entrada é livre, Mas antes, um pouco de história: "o Record Store Day é uma ideia original concebida por Chris Brown, e fundada em 2007 por Eric Levin, Michael Kurtz, Carrie Colliton, Amy Dorfman, Don Van Cleave e Brian Poehner, como uma celebração da cultura única com a participação de mais de 700 lojas de discos independentes de todo o mundo. É neste dia que lojas e artistas celebram a arte da música», pode-se ler no press release.
O dia será preenchido, com descontos (20% em vinil, CDs, DVDs, merchandising e livros. A campanha de descontos do Record Store Day é limitada a artigos em stock, excepto reservas). A agenda é a que se pode ver aqui em baixo:
CONCERTOS
The Glockenwise - 16h00
The Partisan Seed - 16h30
Nuno Prata - 17h00
Lufa-Lufa - 17h30
Long Way To Alaska - 18h30
Botswana - 18h30
GIRA-DISCOS
Lovers & Lollypops
Lebensstrasse
O bar Lounge vai acolher na próxima quarta-feira, 13 de Abril, uma actuação do enérgico Rodrigo Amado Quarteto. Este concerto, promovido pela Filho Único, arrancará a partir das 22h30 e, como habitualmente naquele local, a entrada é livre. Neste projecto o saxofonista tem a companhia de três dos maiores nomes da cena "free improv" nacional: Manuel Mota na guitarra eléctrica, Hernâni Faustino no contrabaixo e Gabriel Ferrandini na bateria. Juntos, os quatro músicos irão certamente incendiar o espaço do Cais do Sodré com a sua música intensamente criativa e robusta. Esta formação acaba de gravar o seu primeiro disco no estúdio Namouche, com edição prevista para o segundo semestre deste ano - e as expectativas estão altas. Após o concerto a festa continuará com DJ set da Filho Único.
A Kuri Kuri apresenta "O Vazio em Ozu", um filme-concerto no Passos Manuel, Porto. A imagem é de Cinemajunkie, a música de Kanukanakina e conta com a participação de Miguel Ramos e Bruno Débrum. Tudo isto acontece no próximo sábado, dia 16 Abril pelas 22h. A entrada custa cinco euros. E porque às vezes quem organiza sabe tudo e mais alguma coisa, reproduzimos um bom pedaço do press release enviado para a nossa redacção: “"O Vazio em Ozu" é uma performance musical de sonoplastia construída sobre uma projecção de imagens editadas a partir de filmes de Yasujiro Ozu (e outros realizadores japoneses). É também uma tentativa de encontrar uma linha narrativa na evolução das imagens do cinema japonês e da própria sociedade japonesa, e o papel de Ozu em revelar tudo isso numa viagem ao Japão através do seu cinema”.
Susana Santos Silva apresenta o álbum de estreia do seu quinteto no dia 9 de abril no Café au Lait, Porto, pelas 22h30, integrado no ciclo porta-jazz. Devil´s dress é editado pela toneofapitch (TOAP) e estará disponível nas lojas em abril de 2011. O quinteto é formado por Zé Pedro Coelho (saxofone tenor), André Fernandes (guitarra), Demian Cabaud (contrabaixo) e Marcos Cavaleiro (bateria), músicos que, diz a nota de imprensa, se "inspiram na busca de novos desafios e novas concepções artísticas". Para mais informações visitar o site da artista.
A passada 5ª-Feira foi uma jornada memorável para as equipas portuguesas na Liga Europa. E enquanto o FC Porto esmagava o Spartak de Moscovo no Dragão (e o Benfica se vingava do PSV Eindhoven na Luz e o Braga arrancava um empate com sabor a vitória na Ucrânia), a festa de inauguração da primeira loja Taken, que promete agitar a Baixa Portuense com exposições de street art e apresentações de djs, mostrou-se uma aposta vencedora dentro e fora de portas.
A concept store dedicada a várias facetas da cultura urbana convocou Rui Miguel Abreu (o “Sr. Rimas e Batidas” é o responsável pelas coordenadas sonoras destes espaços comerciais) para assumir o controlo dos pratos na primeira parte da noite, período em que os convivas puderam apreciar a exposição fotogáfica de Stuck – patente no piso superior – enquanto bebiam um copo para refrescar da noite com sabor a Verão. A etapa complementar do lançamento deste conceito, já no terreno mítico do Passos Manuel, esteve a cargo de diversos djs, entre os quais Slim Cuts, Stray, Mim & SUPPA. Aqui, o prémio de MVP terá que ser repartido entre os BeatBombers Ride e Stereossauro, vice-campeões mundiais da International DJ Association e dupla dinâmica na arte de manipular o MPC (o remix de ”Verdes Anos”, de Carlos Paredes, by Stereo, já assume contornos de clássico) e utilizar o scratch como ferramenta musical. Os rapazes das Caldas passearam-se ora por paisagens com uma onda descontraída ora por terrenos mais intensos, brindando os presentes com um set bastante diversificado.
Cada vez mais apostada em dinamizar (ou dinamitar, que há aqui nomes-bomba) a oferta cultural e particularmente musical do país, a Filho Único disponibilizou hoje uma lista de alguns dos nomes que pelas suas mãos irão passar por Lisboa e Porto, do jazz ao rock, do grime ao fodassequesomfilhadaputa: começamos precisamente por este último, com o anúncio da vinda de dois dos Sun City Girls (sob o nome Brothers Unconnected) para também dois concertos, um em cada cidade; a 6 de Maio apresentar-se-ão no Porto, na Culturgest, e no dia seguinte em Lisboa, no Auditório da ESBAL. Uma oportunidade, portanto, para nos despedirmos em definitivo da banda após a morte do baterista Charles Gocher e do lançamento semi-póstumo de Funeral Mariachi, em 2010. Não só: também os Hype Williams, duo londrino com cabeça na pop drogada (ou seja: canções tão fragmentadas como a bolota que nos tentam impingir no Bairro Alto), que regressa após uma actuação no - onde mais? - Milhões de Festa em 2010. No Porto actuarão também na Culturgest, a 20 de Maio, em Lisboa no Kolovrat 79, a 21, na companhia dos emergentes Niagara.
Mas não fica por aqui (e agora retrocedemos um bocadinho); já no próximo dia 13 levarão Rodrigo Amado e o seu Quarteto ao Lounge num concerto com entrada livre. Ainda no plano do jazz, e também nome-bomba para os fãs, colocam Evan Parker, dos melhores saxofonistas da actualidade, a actuar na Culturgest no dia 25 de Junho. Finalmente: os Chain & The Gang, do NationOfUlyssiano Ian Svenonius, irão estar a destilar rock no MusicBox, a 4 de Maio, na digressão do seu segundo disco Music's Not For Everyone, e Norberto Lobo apresentará Fala Mansa, terceiro disco de originais, no Teatro da Trindade, a 11 de Maio. Ufa!
Resumidamente, a agenda:
Rodrigo Amado Quarteto + Filho Único DJ Set
13/04 - 22h30
Lounge, Lisboa
Entrada livre
Chain & The Gang
04/05 - 22h30
MusicBox, Lisboa
8€
Brothers Unconnected
06/05 - 22h00
Culturgest, Porto
5€
Brothers Unconnected
07/05 - 22h00
Auditório da Fac. de Belas Artes da Univ. de Lisboa
8€ (alunos da ESBAL: entrada livre)
Norberto Lobo
11/05 - 22h00
Teatro da Trindade, Lisboa
Entre 10€ e 12,50€
Hype Williams
20/05 - 22h00
Culturgest, Porto
5€
Hype Williams + Niagara
21/05 - 22h00
Kolovrat 79, Lisboa
8€
Evan Parker
25/06 - 22h00
Culturgest, Porto
5€
É o segundo Náice e também está nice (desculpem repetir a piadinha, mas há limites para a imaginação). Pois então: é hoje, no portuense Plano B, e, como o primeiro, é fértil em misturas improváveis (é esse o mérito destas noites). A noite tem vários nomes (o cartaz segue dentro de momentos), mas destacamos quatro: Sunflare, trio lisboeta que envolve Guilherme Canhão (Lobster, Tigrala) em ascetismos de fuzz e feedback, Dreams, que tem dado que falar nos blogues chill desta vida, Labrador, rapaz do tecno, e um DJ set do lisboeta CVLT, regressado de Nova Iorque, onde se estreou ao lado de DJ Spun (basta dizer que edita pela Rong). Os bilhetes custam 6€ (3€ depois da 01h).
Sala Palco
23h00 Masters of Thunder
00h00 Sunflare
01h00 The Ruquettes
03h15 Ghostwalk
04h00 The Ruquettes
Sala Cubo
00h00 Dreams
02h00 Labrador
03h15 CVLT
O histórico contrabaixista Zé Eduardo, que já foi
Nos próximos dias 14, 15 e 16 de Abril realiza-se, entre o São Jorge e no Clube Ferroviário, a primeira edição do Festival Netaudio de Lisboa. O NetaudioLx promove a música livre - distribuída gratuitamente através da internet - visa divulgar a cultura livre, assim como estabelecer a ponte entre o universo netaudio nacional e internacional. Com uma programação diversificada, o festival vai apresentar ao vivo músicos tão díspares como Peter Kirn, Brett Domino Trio, Tsunami Wazahari, Luís Antero, OCP ou dUASsEMIcOLCHEIASiNVERTIDAS. Além dos concertos, o NetaudioLx contará debates e workshops na programação. Tal como a a organização advoga que a música deverá ser livre, todas as actividades serão também de acesso gratuito.
Parte significativa do percurso, iconografia e cosmologia da editora e colectivo SOOPA na última década estão de agora em diante arquivados num livro/DVD. São mais de 200 páginas e 1 hora de documentário onde são expostas “origens, ideologias, referências, totems, derivas, eventos e rituais, mapeando-se uma rede colaborativa transnacional orientada em torno do eixo de Jonathan Saldanha e Filipe Silva, e que inclui uma miríade de participantes das mais diversas proveniências estéticas e geográficas”.
A apresentação decorre no Maus Hábitos, Porto, hoje mesmo, dia 7 de Abril, a partir das 21H30, numa festiva noite que se iniciará com a projecção do documentário, seguida por concertos de: HHY & The Macumbas, F.R.I.C.S./Fanfarra Recreativa Improvisada Colher de Sopa d e Most People Have Been Trained To Be Bored. A juntar-se a estes nomes, um convidado especial: o americano Arrignton de Dionyso, cuja estirpe xamânica de improvisação se estreou no Porto por via de um evento SOOPA, em 2007. A encerrar a noite, Pedro Santos e uma das suas colagens celebratórias de beats, funk e psicadelismo.
Fomos falar com o colectivo Soopa. E fizemos duas perguntas a Filipe Silva.
Como é que têm sido estes 10 anos de Soopa?
Têm sido uns 10 anos bem preenchidos, trabalhando continuamente num contexto de criação e edição fortemente colaborativo, cruzando caminhos com figuras supostamente tão afastadas como o José Cid e o Kenneth Anger, numa abordagem transversal que já nos fez, com poucos dias de intervalo, tocar com o mesmo projecto no Museu de Serralves e num squat anarquista em Setúbal. Apesar de, exteriormente, a SOOPA surgir como multifacetada, com inúmeros projectos, inúmeros colaboradores, extravasando a dimensão estritamente musical para os campos do intermédia, do pensamento e da iconografia, o nosso trabalho assenta num princípio-base que tem sido clarificado e reforçado ao longo desta década de actividade: a ideia do som como veículo de alteração da percepção e de manipulação da realidade, e uma reflexão sobre a concretização dessa ideia nas mais variadas formas de música, desde as mais arcaicas às mais contemporâneas.
O que é que nos podes contar acerca do lançamento do livro/dvd?
O lançamento vai contar com a projecção do documentário, complementada com concertos de projectos que estão integrados na SOOPA, tendo já todos inclusivamente edições com o nosso selo: Most People Have Been Trained To Be Bored, HHY & The Macumbas e F.R.I.C.S. Teremos ainda um convidado especial na pessoa de Arrington de Dionyso, improvisador xamanístico dos Estados Unidos, que está também ligado à SOOPA por ter actuado no Porto em 2007, num evento por nós organizado. A concluir, o Pedro Santos vai levar a noite ao patamar seguinte de celebração com um live-act de colagem funk/psych/beat.
Certas músicas estão tão presentes no imaginário colectivo que deveria ser interdito o seu uso enquanto matéria prima. Aparentemente, a opção de samplar a "Lambada" até poderia funcionar enquanto homenagem a uma das melhores malhas de sempre (sem ironias), mas tendo em conta o modo como ela activa todos os pontos certos do coração/cérebro dedicados à nostalgia (dos primeiros beijos em festas de aniversário até aquele primeiro crush ou a desilusão consequente, "Lambada" serviu para tudo isso) esse descaramento acaba por se revelar tão inútil quanto pernicioso. Aquela melodia existe para ser daquele modo. Seria como roubar aqueles momentos parvos/encantados que são tão preciosos.
Talvez a catrefada de compositores (Bilal Hajji, Kinda Hamid, etc.) e os Red One (que produziram) não tenham tido bem a noção do impacto da "Lambada" na pré-adolescência de tanta gente quando decidiram fazer "On the Floor" para a Jennifer Lopez, mas ouvindo o resultado tudo se assemelha a uma gritante falta de respeito pela memória colectiva. Até porque "On the Floor" seria, por si só, uma canção absolutamente inútil, que o sampling torna ofensiva. Já se sabe que a tendência pós-David Guetta/Black Eyed Peas tem vindo a enformar quase todos os erros recentes da pop/r'n'b, e "On the Floor" é mais uma tentativa de capitalizar o sucesso da "When Love Takes Over" (que nem incomodava assim tanto) sem qualquer jeito. A temática incorre na glorificação da pista com recurso ao namedropping estupidificante de "Brasil, Morocco, London to Ibiza / Straight to LA, New York, Vegas to Africa" a tentar dar uma de comunhão que leva ao "La la la" mais obnóxio desde que o Bob Sinclair se aproveitou dos Sugarhill Gang para "La la song". E com aquela melodia tão, tão mal tratada, em fundo. A evitar a todo o custo.
Fundador do importantíssimo Antipop Consortium, o mc e produtor Beans chega a Lisboa em apresentação ao recente End It All pela Anticon. Desde sempre na dianteira do hip-hop mais transgressor ao lado de nomes como EL-P, Cannibal Ox ou Boom Bip, Beans tem vindo a criar uma obra de grande importância em editoras como a Warp ou a Thirsty Ear. O seu flow distinto caracteriza-se por uma verborreia literata pejada de simbologia street smart, num fluxo de consciência rápido pautado por um wit quase impenetrável. Avesso à linearidade, encetou colaborações com gente tão diversa como os jazzmen William Parker e Hamid Drake, o guru Arto Lindsay ou os Holy Fuck, numa demonstração de versatilidade e respeito pelas mais diversas formas de expressão. A conferir por oito euros, no dia 10 de Abril na Galeria Zé dos Bois pelas 22 horas.
Ex-guitarrista de bandas com a envergadura dos Lounge Lizards, influenciado pelo gigante saxofonista Albert Ayler, Marc Ribot é um guitarrista com bastante influência nas últimas décadas, movendo-se pelo punk e o soul, o no wave e o free jazz. E vai apresentar o seu projecto a solo, em Lisboa, na próxima semana. A data, terça-feira, dia 12; o preço dos bilhetes: 18 €.
A espelhar a sua importância na música contemporânea está a quantidade (e, sobretudo, a qualidade) de músicos que já requisitaram os seus serviços. A lista é tão vasta como diversificada, destacando-se colaborações com Tom Waits, Soloman Burke, Marianne Faithful, Arto Lindsay, Caetano Veloso, James Carter, The Black Keys, John Zorn e Elton John.
Primeiro, urge bater palmas à Vodafone.fm porque tem animado os dias de muito boa gente com uma selecção para cima de muito interessante. Depois dizer que as Mexetapes Vodafone FM continuam e as próximas vão estar a cargo das Pega Monstro e dos The Glockenwise. O convite é das bandas e da Vodafone: "vem ouvi-las em primeira-mão no Café Au Lait (Porto), na próxima quarta-feira, dia 06 de Abril, pelas 23h.
Não faltes!". Sim, é hoje, dentro de nada.
Para quem não conseguir ir hoje ao Porto hoje pode ouvir as escolhas musicais das Pega Monstro e dos The Glockenwise na Vodafone FM: Pega Monstro quinta-feira 7 Abril, Sábado 9 e segunda-feira 11 Abril; The Glockenwise quinta-feira 14 Abril, Sábado 16 Abril e segunda-feira 18 Abril.
E porque é que a Vodafone.fm vem ao Porto para saber se as gajas do Porto são todas mais giras do que "ela". Descubram aqui:
“I’ve got the guns / I’ve got the ganja / And we can blaze it up on your block if you wanna!” – oportunidade para ouvir isto e muito mais, na semana que vem.
Ele é realizador (é inclusive autor de algumas das Videotecas Bodyspace que vos deixam a sonhar) mas também é escritor de canções. O álbum de WE TRUST começou a ser gravado em Dezembro de 2010 e inclui um grupo de canções que foram escritas ao longo dos últimos anos por André nos intervalos do seu trabalho enquanto realizador. Algumas
foram escritas no campo, outras na cidade, diz-se. Com edição da Meifumado (management pela Lovers & Lollypops), o disco foi gravado nos estúdios Meifumado em Famalicão e produzido por Zé Nando Pimenta. Para os instrumentos André contou com uma série
de amigos que foi conhecendo ao longo dos anos enquanto realizador. Músicos de bandas como os X-Wife iam passando pelo estúdio e gravando alguns arranjos nas músicas. Mais do que uma experiência auto-centrada ou até "autista" André Tentugal queria que o disco “transmitisse um sentimento de amizade e união entre músicos”.
Mas sobre este novo disco, que se vai chamar These New Countries, disse mais: "o meu objectivo nunca foi que o disco fosse uma experiência egocêntrica, ainda que as canções e arranjos sejam escritos por mim. Sempre foi a minha ideia tornar isto num projecto colectivo. O próprio nome WE TRUST indica isso. Queria que gravar o disco fosse quase como umas férias passadas com amigos. Andava a trabalhar há dois anos consecutivos sem parar e precisava mesmo de um descanso. A oportunidade de gravar o disco foi isso mesmo, quase como a pausa merecida. E agora que ouço as canções acho que reflectem isso mesmo. Havia sempre amigos a passar pelo estúdio quase todos os dias. Há uma liberdade muito presente em todas as canções que senti na altura e
acabou por ficar presente. O disco fala de tempo e de espaço e de mudança. Não fala de crises
políticas nem económicas aviso desde já. Fala sim de mudanças de mentalidades e de novas viagens. De terras sem fronteiras, espaços de união. E de amor claro."
O tema “Time (Better not stop)” é o primeiro a poder ser ouvido. O single pode ser descarregado gratuitamente no site do próprio. O belíssimo teledisco, realizado pelo sueco em ascensão Rickard Bengtsson , pode apreciar-se aqui em baixo.
A estreia acontece finalmente. O britânico James Blake actuará pela primeira vez ao vivo em Portugal, dia 6 de Julho, no Palco Super Bock do Optimus Alive´11. O álbum de estreia, homónimo, editado em Fevereiro, tem dado que falar um pouco por todo o lado, mesmo por aqueles que se esquecem que o homem tem dois belos EPs editados num passado não muito distante. As expectativas são altas.
Para além de James Blake o Optimus Alive´11, que acontece nos dias 6, 7, 8 e 9 de Julho, conta já com A-Trak, Anna Calvi, Avi Buffalo, Blondie, Bombay Bicycle Club, Coldplay, Crocodiles, Digitalism, Dizzee Rascal, Everything Everything, Example, Fleet Foxes, Foals, Foo Fighters, Friendly Fires, Grinderman, Iggy and The Stooges, James Blake, Kaiser Chiefs, Kele, Linda Martini, Mona, Orelha Negra, Paramore, Patrick Wolf, Primal Scream Present Screamadelica Live, Seasick Steve, The Bloody Beetroots, The Chemical Brothers, The Naked and Famous, The Pretty Reckless, Thievery Corporation, Thirty Seconds to Mars, TV On The Radio, White Lies, WU LYF e Xutos e Pontapés.
Numa jogada com um péssimo timing (haverá alguém com vontade de ouvir "Benfica" hoje?), o site da NPR disponibilizou hoje para audição o novo álbum de Panda Bear, Tomboy, a sair no próximo dia 12 de Abril. Se é verdade que muitas destas faixas já nós conhecíamos pelos singles que se foram lançando, ouvir um disco na sua totalidade é sempre uma experiência diferente. Fica então o link para quem quis esperar pelo todo em vez de ir picando o pouco.
O backlash à "Friday" tem sido tanto que seria inevitável que uma das melhores pessoas de sempre (ver foto) a parodiasse de modo brilhante. E se, mantendo o seu jeito superficial, até a Miley Cirus se lembrou de algo tão idiota como "It should be harder to be an artist. You shouldn't just be able to put a song on YouTube and go out on tour" para a criticar, obviamente que o Bodyspace conseguiria encontrar inúmeras razões com o mínimo de relevância para tal. Mas, nem é preciso. "Friday" manda com toda a sua inépcia à cara. Olhai para os vossos calendários.
Aparecida no mesmo contínuo teen-pop-larger-than-life popularizado por nomes como a Willow Smith ou o Justin Bieber, Rebecca Black tem vindo a emergir como uma das vozes mais peculiares na glorificação das pequenas grandes glórias e desgraças da adolescência. Peça fulcral para a compreensão da pop neste ano de 2011, "Friday" é um objecto fascinante na sua capacidade, aparentemente inócua, de fazer de uma simples sexta-feira o melhor momento de sempre durante menos de 4 minutos. Como o foram muitas sextas das nossas vidas. Recorrendo a uma produção simples mas eficaz de Clarence Jay e Patrice Wilson, "Friday" transforma a cadência twee num refrão irresistível de propulsão quase rock, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Mas é a voz de Black que faz toda a diferença no actual panorama pop. Tão alienígena quanto fascinante, no modo como consegue fazer convergir inadvertidamente sob uma manta de auto-tune, todo o encanto subliminar do tema. Acabando por chegar naquele jeito blasé ao ponto de ressonância comum numa adolescência onde os pequenos gestos são um mundo de possibilidades. Um daydreaming essencial traduzido numa persona singular que faz do seu não-carisma um statement em si mesmo. Capaz de tornar linhas como "Tomorrow is Saturday / And Sunday comes afterwards / I don't want this weekend to end" em momentos de memorável luminosidade. Ou como glorificar o quotidiano sob a forma de uma canção. Notável.
É um exclusivo Bodyspace, que reparou nos Lobster quando eles começaram a incendiar palcos um pouco por todo o país. O duo formado por Guilherme Canhão e Ricardo Martins, os power rangers do noise rock, regressa por uma vez para um concerto que promete ser explosivo, matar as saudades, suar cada parte do corpo e instalar alguma loucura (2006 foi um ano incrível, não foi?). Os Lobster actuam no Milhões de Festa no dia 23, sábado, quando a loucura for ainda a meio.
Como não podia deixar de ser, fomos falar com os Lobster. Ricardo Martins disse-nos isto: "Parece que já consigo ver tudo o que se vai passar. Basta apenas imaginar alguém bem grande a bater nos na cara com força mas sempre com toda a gente a dançar, a suar, a aproveitar um concerto mesmo a sério. Estou com vontade de tocar e desafio todos a tentarem divertir se tanto como nós”. Guilherme Canhão, por sua vez, atirou, curto e grosso: "adoramos uma boa festança envolta em distorção e o Milhões de Festa parece-me uma óptima desculpa para tirarmos três dias e ir festejar tudo o que quisermos com toda a gente. O concerto de Lobster é o convite para que venham festejar connosco durante aqueles 40 minutos. O máximo possível". Lá estaremos. Até lá, “Keet ip Brutal”: