Foi em Março de 2006 que os Fish & Sheep (duo entretanto desfeito), Tropa Macaca e CAVEIRA conduziram pelo país a auto-explicativa Caravana do Estrilho, que, desde aí, acumulou algum mito e aura (ainda verificável no CD-r lançado por essa altura). Os raros registos fotográficos da digressão demonstram as bandas a tocar entre barris de imperial e o débito de horas de sono estampado nos rostos caídos sobre os ombros uns dos outros durante as longas viagens entre as cidades do norte. Tudo dentro do mais autêntico espírito rock de quem toca por duas sandes, um pacote de cajus e uma bebida à escolha.
A noite de 1 de Abril recuperará a vibração desse momento-chave da música mais livre feita por cá na última década, quando os Tropa Macaca e os CAVEIRA semearem a tensão no Stones, sala predilecta da Juve Leo e discoteca de eleição nos tempos de glória dos Bee Gees. Para quem não sabe, o Stones fica situado na zona da Lapa, em Lisboa. O after-hours ficará a cargo de DJ Tnt Subhead, mistério do porte dos Brujeria, que deve bombar certamente no Stones. Além disso, importa também saber que os Tropa Macaca (pecado rítmico no Éden) devem andar perto de esgotar a edição limitada do impressionante Sensação do Princípio, que muito merecidamente conheceu o selo da Siltbreeze (casa de culto que ainda opera realmente em termos de absoluta independência). No que diz respeito a novidades no acampamento CAVEIRA, existem já rumores de novo disco a sair este ano, se os braços de Joaquim Albergaria suportarem o cansaço da rigorosa temporada de Subbuteo.
Tiago Ferreira, ex-Veados Com Fome, há muito tempo que admitiu gostar de canções na encarnação Cavalheiro. Os dois temas que há muito tempo pairam no seu myspace, “Reino” e “De Nós nada restará” confirmam-nos isso mesmo. E deixavam vontade de mais. Agora, até porque há um disco de estreia para sair em Abril próximo (se tudo correr bem, diz-nos Cavalheiro), O Bodyspace chega-se à frente com uma das canções do novo disco, de seu nome Primeiro. A canção em questão chama-se “Bom Jesus” e Tiago Ferreira tem uma explicação para isto tudo: “uma vez imaginei que o Bom Jesus do Monte se levantava e descia em passos triunfantes sobre a cidade de Braga, espalhando luz nas nossas vidas e escorraçando o medo dos nossos temerosos corações”, conta. E depois explica mais um bocado: “não sei porque tal fantasia me assaltou, na verdade nem sequer sou um homem de fé, muito menos desde que o Porto vendeu o Lucho Gonzales, mas mirar o cimo dos montes e fantasiar o que podia acontecer ajuda a passar o tempo”.
Ei-la, em todo o seu esplendor:
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Aquela que é uma das bandas mais desejadas e bem-sucedidas do momento virá a Portugal no dia 17 de Julho, depois de passagens triunfantes pela Casa da Música, no Porto, e no Optimus Alive!, em Lisboa, ambas em 2008. Após essa digressão de apresentação do seu disco homónimo, os norte-americanos trazem agora na bagagem não só Contra, um dos grandes momentos pop de 2010, mas mais experiência, mais vida – é incontornável o projecto electropop de Rostam Batmanglij, Discovery, e o que isso trouxe aos Vampire Weekend. De facto, trouxe energia, vivacidade, mais sons electrónicos mas, por outro lado, mais atitude. E, acreditamos, iremos assistir a mais um grande espectáculo de um performer – falamos de Ezra Koenig – empenhado em não deixar que o legado de David Byrne se vá desvanecendo. Vá, vamos lá ver os americanos ao Meco, “me and my cousins, you and your cousins…”
O que temos para vocês desta vez é o vídeo para "1, 2, 3, Partyy",a faixa de abertura de The Sound The Speed The Light, lançado em 2009 pela Matador:
A fechar o line-up aparecem Black Bombaim, Laia, Löbo, Mamute, Manuel Gião, Dawmrider, Unzen Pilot, Amarionette, Monomoy, Acid Lizard, Moan, Marbles, Acid Jesus, Maize e Aspen. Mais novidades em breve. Tudo bons motivos para dar uma oportunidade a esta compilação. Mostramos de seguida o clip para "Complication", dos Black Bombaim, tema retirado do EP homónimo lançado a Março de 2009:
O Pedro Rios desencantou Dreams numa tresloucada busca pelo myspace e agora nós temos mais algumas noticias sobre o projecto do João, o João que vive no Porto e tem no Ernesto (Washed Out) uma referência importante. Sabemos agora que Dreams irá lançar no um EP na SVN SNS mas entretanto prepara-se para lançar um outro, em antecipação e pelos seus próprios meios, no dia 1 de Abril; um EP que contém 4 canções. A primeira delas está disponível no nosso leitor em rigorosíssimo exclusivo; digam que vão daqui.
Fomos falar com o João sonhador e ele disse-nos algumas coisas sobre esta edição: "este EP não vai ter editora, e vai ser disponibilizado para download gratuito. Isto surge como antecipação ao EP a ser editado pela SVN SNS. Ele surge essencialmente porque tinha algum material que à partida já não iria utilizar e que funcionava bem como um todo. Aproveitei esse facto e trabalhei-o de modo a funcionar como um primeiro EP". Diz-nos mais, agora sobre a gravação, que foi "surpreendentemente rápida": "não estava à espera, sinceramente. Demorei sensivelmente uma semana a fazer estas quatro faixas. As letras foram surgindo à medida que os instrumentais foram sendo construídos. Não há nada de extraordinário por trás do EP, são quatro faixas simples que pretendem revelar um pouco do que poderá ser o segundo, embora tenha características muito próprias".
Quanto às expectativas João (temos mesmo de lhe perguntar o último nome), disse-nos o seguinte: "prefiro jogar pelo seguro e não estar muito entusiasmado. Espero que as pessoas gostem (eu gostei de o fazer), fi-lo porque muitos pediram por mais e quero brindá-los por isso, portanto espero que esteja à altura das expectativas das pessoa", disse, rindo. E depois terá ido sonhar com mais canções pop como esta, intitulada "Step 1 (Preparation...Good old days/Some nostalgia)":
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No fim-de-semana de 16, 17 e 18 de Abril o Teatro Municipal São Luiz acolhe a oitava edição da Festa do Jazz. Esta festa irá seguir as mesmas premissas das edições anteriores, promovendo durante três dias um grande encontro para o jazz português. Além dos espectáculos, que serão distribuídos por cinco espaços diferentes, haverá lugar para o tradicional para o concurso de escolas e ainda "masterclasses" com Jorge Rossy e Bill McHenry. Do programa de concertos destacam-se as actuações do Bernardo Sassetti Trio (que apresenta o fresquíssimo Motion), do grupo “Matéria Prima” de Carlos Bica (com o convidado Matthias Schriefl), o quarteto Tetterapadequ e o Septeto do Hot Clube. O programa de festas completo pode ser consultado aqui.
Repara: há aquele dia em que fui julgado por homicídio ("Murder was the Case"); todos os dias em que tenho de largar a droga porque a polícia vem aí ("Drop it Like it's Hot"); ou aquela vez em que saí da prisão e o meu primo mais novo estava a comer a minha hoe ("Bitches ain't Shit", o clássico do Dr. Dre). Se alguém me quiser conhecer, basta ouvir as canções do Snoop e aí terá a minha biografia – não tenhas medo, vou escrever uma autobiografia na mesma e vai ser um best-seller, um gajo tem de comer, não? –, sem tirar nem pôr. Há mais uma cantiga para adicionar a esse cânone.
O dicionário – o online da Priberam, achas que eu ainda tenho livros? – define "mel" como "suco doce que as abelhas depositam no favo". Também o define como "doçura, suavidade". Proponho uma adição a esta entrada: "a combinação entre Snoop Dogg e R. Kelly". É mais ou menos esta a operação matemática: "Snoop+Kells=mel". Foi assim com "That's That" (samplar a banda sonora da cena do "The royal penis is clean, your highness" do Coming to America – melhor filme de sempre? – é de génio) e é assim agora, com "Move Them Ropes". É sobre quando estás na discoteca e queres que o segurança deixe entrar na área VIP que estás a dominar totalmente todas as hoes a que tens direito. Não odeias quando não te deixam fazer isso naturalmente e tens mesmo de dizer "Move them ropes and let the bitches in"?
É isso mesmo, porra, só faltava transformar isto em canção. É o teu direito natural, vem na constituição, é preciso honrá-lo. E o resultado é mel. Ou não fossem estes dois mestres da linha ténue entre o cantar e o rappar (aqui os papéis estão bem definidos: o Snoop rima, o Kells canta, mas nem sempre é assim). Pessoas reais, problemas reais. Tal como eu e tu, baby, tal como eu e tu.
A Galeria Arthobler, galeria de arte que partilha espaço com a livraria Ler Devagar na LX Factory, tem acolhido uma série de interessantes concertos programados pela Granular. Promovendo formações entre o trio e o quarteto, estes concertos reúnem músicos que abordam a improvisação. Na noite de sexta-feira, dia 19 de Março, juntaram-se Ricardo Freitas (guitarra baixo acústica), Gonçalo Lopes (clarinete e clarinete baixo) e Eduardo Lála (trombone). Freitas e Lopes são habituais parceiros em diversos projectos – do world-jazz-criativo do projecto Interlúnio ao trio improv-maduro Krilof Trio – e essa relação esteve visível na forma como os instrumentos se entrelaçavam com facilidade. O trombone de Lála – músico conhecido pela sua versatilidade, indo do jazz tradicional ao funk, passando pelo magnífico e inclassificável Lisbon Underground Music Ensemble – não é virgem na improvisação livre e sabe encontrar o seu espaço, pelo que não demorou a ir de encontro à toada geral do grupo (diga-se que é colega de Lopes e Freitas nos Interlúnio). Sem que nenhum dos músicos roubasse atenções, a música do grupo assentou numa estratégia de comunicação democrática. Ouviram-se bons fraseados, ouviu-se “groove”, ouvi-se interacção dialogante, ouviram-se picos de energia. Ouviu-se uma música plena de ideias, muito fluída e orgânica, que até se serviu de técnicas extensivas. Sempre com bom gosto e sobriedade.
Há dias, dizia, meio a exagerar, meio a sério, ao meu editor, André Gomes, a propósito de um artista que descobri saltando de Myspace em Myspace: "Ouvi 20 segundos. Mas foram bons 20 segundos".
Só recupero esta frase porque ilustra uma parte do que é ouvir música em 2010. A malta tem tendência a destacar o lado negativo desta forma algo esquizofrénica de ouvir música (atenção, só faço isto de vez em quando; permaneço fiel aos álbuns). Mas há um lado positivo.
Num desses saltos, encontrei um Myspace: Dreams. Gostei do nome, gostei do Tumblr associado e gostei da música, em particular de "Swimming in pink waters", que remete imediatamente para as águas quentes de Washed Out (há reverb em todo o lado, a mesma qualidade subaquática) - merece bem mais do que 20 segundos.
Gostei, sobretudo, de ver "Portugal" no perfil. "Quem é este tipo?", questionei-me. Enviei umas perguntas a Dreams. As respostas surgiram pouco depois:
Apresenta-te.
Chamo-me João, tenho 21 anos e sou de Viseu, mas estou a estudar e a viver no Porto.
Quando e por que é que surge Dreams?
Em Dezembro de 2009, devido ao facto de querer produzir um estilo de música mais independente, despreocupado, ligado por construções melódicas que proporcionassem nostalgia e sonho. Tive outros dois projectos desde 2008 muito ligados à electrónica e ao synth pop. Dreams surgiu, em boa parte, por querer desligar-me um pouco desses estilos e surgir com algo novo e diferente.
Depois de ouvir algumas bandas como Washed Out, Wavves, Toro y Moi, Small Black, Pictureplane, etc. e vasculhar no baú por temas mais nostálgicos, de Joy Division, Sonic Youth ou The Jesus and Mary Chain, o estímulo começou a surgir e o indie lo-fi começou a transparecer em Dreams.
É a tua primeira experiência musical?
Tive outras. A primeira foi um projecto a solo com o nome de Anagramme e o outro, também a solo, com o nome First Love. Nunca tive nenhum projecto com mais pessoas, tenho pena.
Em alguns temas que tens no Myspace, sente-se muito a influência de artistas como Washed Out, da nova pop independente que remexe nos anos 80. Em "In Dreams", ouço ecos dos New Order, mais lentos e cheios de reverb. Como te situas face a estes universos pop?
Quanto a Washed Out, é natural que se sintam influências, porque ele é provavelmente a minha influência número 1. No que toca a New Order, nunca tinha pensado nisso, mas é bastante válido porque grande parte do que eu comecei a ouvir na adolescência anda por esses campos e inconscientemente vou lá buscar elementos.
O Rodrigo Nogueira, que está aqui não lado na redacção (mentira, no chat do g-mail), deixa o recado: "Peter Serafinowicz, o realizador, é um cómico inglês importantíssimo, um gajo cheio de piada que, apesar de ter talento para imitações, sabe que estas não têm piada por elas próprias (há portugueses que teriam tanto a aprender com ele). Além disso, merece um lugar no céu por ter sido o gajo que fez de namorado actual da ex do Simon Pegg no Spaced ("actual" é uma palavra estranha, já que aquilo tem mais de 10 anos). E se nunca viste o Spaced, bem, pequenote, perdi toda a fé que depositava em ti (e era imensa). Regulariza aí a situação, pá, por favor, a sério, vá lá, não custa nada."
Chama-se On Patrol e será o próximo disco do muito activo Cameron Stallones (mas que grande nome, parece inventado), o rapaz Sun Araw, o autor do monumento "Horse Steppin'" e que chegou a fazer parte dos Pocahaunted (entra no mui tropicaliente Make it real, acabado de sair).
On Patrol será editado em Abril num duplo LP e em CD pela Not Not Fun. Os títulos das canções são bem porreiros. Tomem lá três: "Conga Mind", "Beat Cop" e "Holodeck Blues". William Giacchi, dos Super Minerals, entra em dois dos nove temas.
A primeira amostra, "Dimension Alley", que reproduzimos abaixo (o vídeo é de Stephanie Davidson), mostra um Sun Araw em modo mais relaxado, próximo do universo preguiçoso de Ducktails. Já ouvimos bem melhor vindo do Stallones, mas serve como aperitivo.
O próximo dia recebe, no Music Box de Lisboa , os norte-americanos Little Claw e o nosso Gabriel Abrantes. A data marca o arranque da primeira digressão europeia dos Little Claw, e destacará certamente o último Human Taste (edição da sempre recomendável Ecstatic Peace) sem deixar também de parte algumas passagens pelas constantes edições limitadas. Os Little Claw têm vindo a angariar espanto e aclamação à custa de um rock híbrido (desorientado no temperamento e no tempo, mas sem palmeirinhas) fortificado pela dureza do berço Detroit. Na primeira parte, o multifacetado Gabriel Abrantes dará algum descanso às canções sobre “Oprah Winfrey e cocó” para musicar ao vivo o seu mais recente filme Big Hug, obra pós-apocalíptica rodada em Trás-os-Montes, na companhia de um jovem músico de sopros do Conservatório (que participou também na banda-sonora).
A coisa tem a sua importância. Não só pela música em si, a excelência na produção e nos detalhes sonoros, mas pelas portas que abriu a outros projectos com cabeça, tronco e membros, sob a simples alçada da DFA. Se analisarmos este exemplo com algum pormenor, vemos que a caminhada não foi penosa nem demasiado longa até fazer com que o simples facto de uma banda ser lançada pela DFA nos enchesse de ar os pulmões. Deixa-nos ansiosos, sabemos que é realmente bom. Assim se criam preconceitos, graças à rotulação de uma marca que James Murphy e Tim Goldsworthy deram a conhecer ao mundo, a partir de Nova Iorque. Ficar-lhes-emos, relaxem, eternamente gratos por isso.
É igualmente por isso que o mundo não vai desabar em 2012 nem colapsar com o fim dos LCD Soundsystem. Se Murphy bater a bota, aí sim, vestiremos de branco - à semelhança do que fez com todos os seus companheiros na gravação deste (ainda) desintitulado disco. Em todo o caso, e após três toques ligeiros na madeira - que podia bem ser o mote para mais um dos malhões de Murphy, mas não passa de pura superstição - o homem está aí. A obra, que construiu ao longo destes anos com vários músicos de excelência, ficará a fazer-nos companhia para todo o sempre. Na pista de dança ou no quarto.
O momento é de alegria, afinal de contas. Novas experiências virão e aí só podemos saudar o fim dos LCD Soundsystem - dor nesta frase. Se os anos que passaram nos ajudaram a encontrar alguma certeza em James Murphy, homem meticuloso e de bom gosto, é que ele sabe o que faz. E é por isso que isto não vai custar assim tanto.
Poucos o conhecerão por João Barbosa. Muito menos pelo novo alter-ego J-Wow. Mas Lil' John é tudo menos um nome desconhecido no actual panorama da nova música urbana produzida em terras lusitanas. Um dos vértices do triângulo Buraka Som Sistema, João Barbosa tem sido nome habitual nos últimos anos na área da produção, tendo estado envolvido em múltiplos projectos ligados ao universo da música de dança desde a Red Bull Music Academy aos 1Uik Project até aos mundialmente reconhecidos BSS.
Aproveitando a fase de merecido repouso dos Buraka, João lança-se agora a solo, concebendo J-Wow como um novo projecto paralelo às actividades do colectivo nascido na Buraca e um escape individual onde poderá desenvolver as suas próprias ideias. O primeiro resultado já se encontra disponível. Editado ontem, dia 15 de Março, pela Deadly People Records, Klang é a apresentação formal de J-Wow ao mundo, tendo já ficado prometido para Abril a edição de mais um tema desta vez pela editora de Diplo, a Mad Decent.
Pare, escute e olhe, pois está aqui para apreciação colectiva a estimulante estreia de J-Wow: Klang.
É também prova indelével que a voz da Rihanna soa muito melhor num contexto dancehall, do que entregue a um dramatismo forçado ou a instrumentais devedores do dubstep. A delicadeza de "If It's Lovin' That You Want" é hoje uma cena do passado, e algo como "Come on rude boy, can you get it up? Come on rude boy, is you big enough?" é de uma ordinarice radio-friendly que merece ser louvada. No fundo, é a idade a não deixar grande espaço para memórias de romances de Verão ao pôr do sol e mais interessada numa foda eficiente. Ainda mais quando o instrumental consegue adaptar todo esse calor caribenho de tensão sexual a uma toada sintética sem ceder à choradeira que tem feito o grosso do dancehall actual ou a uma faceta sleazy bovina, numa canção R'n'B de pleno direito. Não restam grandes dúvidas de que "Rude Boy" se trata do primeiro grande single do ano, e que muito dificilmente haverão mais 10 canções R'n'B durante os próximos meses que a superem. Ou então, será um ano glorioso para o género.
Excellent Italian Greyhound, lançado em 2007, é o último disco do grupo. Eis "Steady as she goes", desse álbum:
É certo que não têm sido muitas as novidades de Complicado num passado recente, mas Haunted, lançado em 2005 pela Bor Land, ainda toca frequentemente num dos muitos escritórios do Bodyspace espalhados pelo país. Concebido por Miguel Gomes (o mentor de Complicado) e Rodrigo Cardoso, num apartamento da baixa portuense, Haunted, lançado pela Bor Land em 2005, é um verdadeiro e precioso sleeper da música nacional dos últimos anos. Ao dividir-se por compartimentos (num estilo próximo dos melhor Lou Barlow / Sebadoh), Haunted deixava também alguns espaços por preencher e enorme curiosidade por um segundo disco. A espera parece prestes a chegar ao fim, de acordo com as seguintes palavras partilhadas por Miguel Gomes esta tarde, numa conversa centrada na reactivação de Complicado.
“Depois do disco Haunted e da consequente apresentação ao vivo, mudei-me para Lisboa, onde passado algum tempo comecei a escrever e gravar o que seria o segundo disco. Não avancei muito, mas ficaram algumas ideias para um dia retomar...
Uma das pessoas que chegou a trabalhar nesses temas comigo foi o Miguel, dos Rose Blanket, e a certa altura as coisas naturalmente inverteram-se e acabei por trabalhar nos temas dele para o disco Our Early Ballons. Depois houve os concertos de apresentação e agora as gravações do novo disco...
Desde há alguns meses que voltei a reactivar a ideia de trabalhar em novas canções e pegar nas ideias que já tinha para gravar o tal segundo disco. É-me um pouco difícil descrever-te as canções de forma a que tenhas uma ideia de como o disco vai soar. Na verdade, nem eu sei muito bem... Tal como o Haunted, será certamente um disco com muita diversidade em termos de dinâmicas e ambiências. Terá a constância das guitarras como fio condutor e também como principal base das canções.
Tendo em conta as canções nas quais estou já a trabalhar e devido à sua diversidade, é justo dizer que as escolhidas determinarão o rumo do disco em termos de sonoridades. Mas arriscaria dizer neste momento, que têm um som muito orgânico com baterias muito presentes, guitarras muito pouco processadas e que, apesar da sua "crueza", espero que este disco seja no todo um pouco mais… hi-fi.”
O disco faz-se de nove episódios com títulos bastante curiosos e, dizem, com um "fuxo de coerência sónica e temática": "It's Working", "Song for Dan Treacy", "Someone's Missing", "Flash Delirium", "I Found a Whistle", "Siberian Breaks", "Brian Eno", "Lady Dada's Nightmare" e "Congratulations".
O disco foi produzido pelos próprios MGMT e por Sonic Boom (Spacemen 3, E.A.R., Spectrum), gravado durante 2009 em Nova Iorque, Malibu e Brooklyn, contando com a participação de Andrew Vanwyngarden e Ben Goldwasser, o núcleo duro dos MGMT, para além de Matt Asti (baixo, coros), Will Berman (bateria, coros) e James Richardson (guitarra, coros), os elementos que formam a banda que acompanha a dupla ao vivo.
"Flash Delirium" pode ser descarregada gratuitamente no site da banda. Nós queremos ainda deixar aqui o bizarro vídeo de "The Youth" para consumo próprio:
Nomes incontornáveis da fértil cena experimental/improvisada/far-out que interessa portuguesa, tanto os Whit como Pedro Gomes se têm mostrado algo reclusos no que em apresentações ao vivo diz respeito. O poderá então vir a ser uma daquelas noites em que o “Estive lá” venha a ser expressão recorrente. Os primeiros são um quarteto “gira-disquista” formado por quatro nomes essenciais da electrónica mais ou menos recente em Portugal, que partindo das lições de Christian Marclay as amplificam por força de uma formação tão pouco habitual quanto fascinante. Pedro Gomes é peça fundamental em tudo o que reluz na capital, tanto pelo seu trabalho enquanto programador na ZDB e, actualmente na Filho Único, como pela sua multiplicidade enquanto guitarrista nos (extintos) Manta Rota, CAVEIRA, ou mais recentemente no Sei Miguel Metal Music Quartet. Muito, para um trabalho a solo que urge conhecer dignamente. O acontecimento terá lugar no Cine Clube do Barreiro, no largo dos Penicheiros, a partir das 22 horas. A entrada é livre, dado que esta noite se insere na programação da 15ena da Juventude da Câmara Municipal do Barreiro.
Estivemos a vê-los no passado sábado, no Cafe au Lait @ Porto, no regresso após hiato demorado e, senhores, a coisa promete e muito. Riffs atrás de riffs, alguns mais diabólicos do que outros, alguns mais devedores aos Black Sabbath que outros, explorações sónicas que parecem saídas depois dos refrões das canções mais expansivas dos Stooges. Não nos interpretem mal: eles são os Comets on Fire portugueses que sempre quisemos ter. E é "só" uma bateria, um baixo e uma guitarra mas é de engolir o mundo todo.
Falamos dos Black Bombaim, claro está. E eles têm novo disco, editado em 300 cópias de belo vinil que chegou a Barcelos há dias vindo directamente da República Checa. O disco, com edição da Lovers & Lollypops, tem o título singelo de Saturdays & Space Travels e uma capa diabólica (podem vê-la aí em cima). Fomos falar com o Tójó, um dos de Bombaim, e ele disse-nos coisas bonitas sobre o disco: "o Saturdays and Space Travels parte de uma ideia nossa, em meados de 2008, de fazer uma gravação completamente 70's, como as bandas que tanto adoramos. Um disco gravado ao vivo, take directo, sem muitos arranjos de produção e uma viagem ininterrupta limitada apenas pelas características de uma certa rodela de 12''. É essencialmente aquilo que tocamos ao vivo, porque é a tocar ao vivo que nos sentimos como peixe na água".
E diz-nos mais: "o título do disco vem como uma alusão clara à banda de Iommi, adicionando-lhe um factor psicadélico, as viagens espaciais; é um tributo aos grandes e pequenos do rock dessa década tão adorada por nós. Daí também optarmos pela edição em vinil. Mais do que um artefacto de colecção ou decoração, para quem quiser, era também o único formato que as bandas lançavam os discos. Que mais podíamos fazer nós além de seguir os mesmos métodos". E remata: "para não falar dos graves, claro".
Deitamos já ouvidos ao disco e promete ser um dos grandes de 2010; para que não nos acusem de mentir descaradamente, chegamo-nos à frente com um excerto de um dos lados do disco, o A; a coisa vai corridinha desde que a agulha começa num lado e chega ao outro. É uma espécie de tornado que não deixa nada em pé. É questão de se irem preparando. A apresentação oficial ao vivo de Saturdays & Space Travels acontecerá a 19 de Março na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, a estreia do disco acontece aqui:
Black Bombaim - Lado A (excerto) [mp3]
Parecem fazer questão de o não divulgar, mas nós já sabemos que estão de volta. Desaparecidos desde Sofa Surfers (2005), o quarto álbum de originais (onde pareciam tentar reinventar-se), os austríacos Sofa Surfers estão de volta com mais um disquito, chama-se Blindside e será editado algures entre o final deste mês e o início do próximo. Para os curiosos agradados com esta Última, informamos que encontram-se disponíveis no site da banda 9 trechos dos temas que constituem o alinhamento de Blindside.
Entretanto, e para quem queira ver os Sofa Surfers ao vivo e a cores, podem sempre dar um pulo no próximo dia 20 de Março à Sala 2 da Casa da Música, no Porto, para assistir às novidades que Wolfgang Schlögl, Markus Kienzl, Wolfgang Frisch e Michael Holzgruber trazem na bagagem.
Agora que a data de edição do novo disco de Rocky Marsiano se aproxima (dia 6 de Março), nada mais pertinente que apresenta-lo ao vivo para que todos possam contempla-lo. Assim será no próximo dia 5, sexta-feira. A casa escolhida para acolher o evento de divulgação de Back To The Pyramid foi o Music Box em Lisboa (Cais do Sodré) e prevê-se a oferta de um exemplar de Back To The Pyramid para os primeiros 80 bilhetes.
E se pensam mesmo passar pelo Music Box nesta sexta-feira, fiquem também a saber que para essa noite está agendada outra festa de apresentação, não relacionada com música, mas com literatura. Falamos, pois, da segunda apresentação em Portugal do romance literário O Terceiro Reich do escritor chileno Roberto Bolaño; livro que depois das formalidades na Póvoa do Varzim no passado dia 26 de Fevereiro, exibe-se agora em Lisboa.
Tal como já vinha sendo evidenciado em algumas das remisturas mais recentes ou, de modo mais contundente, em temas como "Wonderful Day" com o Jamie George ou "Hey Cutie". Será certamente um passo importante que, a par com a edição do muito aguardado álbum da Katy B (com produção do Geeneus e do Zinc) também para breve, poderão permitir especular se 2010 não pode vir a ser o ano da "democratização" da UK Funky. Mas isto é apenas uma conjectura de Março.
Já nos esquecíamos da frase da praxe: os No Age vêm a Portugal apresentar Nouns e os Thee Oh Sees a porrada de discos que editam todos os anos. Zeca Afonso dizia "Maio, Maduro Maio"; nós dizemos: "Maio, Maluco Maio". Por falar em maluco, aqui está o vídeo dos No age para "Losing Feeling":
Ronaldo Fonseca põe-nos a par da coisa: "gravámos 14 temas e estamos no processo de finalização de misturas e selecção do alinhamento". Ele e as novas plataformas da nossa querida internet: o Facebook, Myspace e o Twitter tratarão de dar mais notícias em breve.
Enquanto o novo disco não chega, aproveitamos para recordar o episódio que a banda gravou para Videoteca: