CANÇÕES / Setembro 2014
"Crus"
B Fachada
· POR Paulo Cecílio · 30 Set 2014 · 18:20 ·
Que ponha o braço no ar quem não sentiu falta de B Fachada durante o seu período sabático. Que ponha os dois braços no ar, preparando-se para estalar os dedos conforme o ritmo, enquanto ciranda, quem aposta na diversão e na alegria popular e mui portuguesa. Alegria essa que é feita ao som desta maravilhosa "Crus", canção maior de um disco que marca o seu regresso. Se é verdade que existem outras pérolas neste novo registo homónimo, casos de "Dá Mais Música À Bófia" e "Pifarinho", é "Crus" que se entranha nos ouvidos, na cabeça, na anca sempre predisposta a engatar a primeira e arrasar por entre copos de água-pé e meninas bem comportadas - e ainda assim a imaginação foge-nos para um cenário-espécie de crime passional numa qualquer escadaria do Cais do Sodré em semana de Santos, o filme-canção revelando mais do que à partida se calcularia. "Crus" entra nas calmas no top dez das melhores canções de Fachada. Que o próprio seja muito bem regressado e, por favor, que não volte a partir durante tanto tempo.
"Beira Beira"
Negra Branca
· POR António M. Silva · 19 Set 2014 · 14:29 ·
As canções de Negra Branca são suaves como o maço que tenho em cima da mesa e ébrio e sonhador como o charro que havemos de acender mais logo. A grande vitória de "Beira Beira" – e de todo o EP – é soar tão depois de uma noite fumarenta, como na manhã seguinte em plena ressaca. Longe do mundo exploratório dos Gnod, mais perto do som intrigante de gente como Hype Williams, FKA Twigs ou Yong Yong, Marlene Ribeiro tem em Negra Branca um espelho para a introspecção. E talvez seja por isso a sua estreia, um curto tesouro narcótico, tenha uma dimensão humana tão forte. Aqui, e especialmente na supracitada “Beira Beira”, a pop melíflua é diluída na quantidade certa de melancolia para criar um dos temas mais bonitos (e hipnotizantes) de 2013. São sete minutos de alquimia pura, conduzidos por um ritmo metronómico, uma kora desconcertante e teclados e uma voz enevoada e doce, que parece chamar-nos para um doce embalo de onde não vamos querer sair tão cedo. Obrigatório.
"Killer In The Streets"
The Raveonettes
· POR Paulo Cecílio · 17 Set 2014 · 10:37 ·
Os Raveonettes começaram em 2001 com uma premissa muito simples: pegar na pop dos anos cinquenta e sessenta, enchê-la de fuzz e de reverb e deliciar a malta indie que acha que os Jesus And Mary Chain foram a melhor banda da história da humanidade. Ou, por outras palavras, os Raveonettes começaram porque Sune Rose Wagner e Sharin Foo acharam que não havia bandas suficientes de tributo aos JAMC. Nada contra. Ao longo de uma carreira considerável todos os seus plágios têm oscilado entre o óptimo e o bom, de Chain Gang Of Love a Lust Lust Lust, passando por Raven In The Grave e agora por este Pe'ahi, nome tirado de - e a pensar sobre - um belo local havaiano onde se pode surfar. Influências surf essas que estão bem presentes, sendo que os dinamarqueses vestiram também um pouco de electrónica às suas canções: ouça-se esta "Killer In The Streets", onde as guitarras choram uma melodia doce e orelhuda q.b., de tal forma que demos por nós a fumar um cigarro na rua às três e meia da manhã e ela não nos sai da cabeça. Junte-se isso a um beat Bristol anos noventa e um groove bem vincado e está feita uma enorme canção. Do melhor que a pop ruidosa fará este ano.
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