CANÇÕES / Fevereiro 2015
"Cavalry Captain"
The Decemberists
· POR Paulo Cecílio · 18 Fev 2015 · 15:31 ·


Um novo disco dos Decemberists faz crescer sempre água na boca - ou não estivéssemos nós a falar de uma das bandas do novo milénio que melhor cruza uma certa consciência literária com belíssimas melodias, ao velho estilo dos Smiths, mas mais americanizado, sempre à procura da Great American Novel (neste caso, Great American Song) que os coloque definitivamente no panteão onde só os Grandes, os Deuses e os Grandes Deuses conseguem entrar, e mesmo assim só depois de morrer. Não queremos que Colin Meloy e companheiros morram tão cedo, naturalmente. Mas há muito que fizeram por merecer esse panteão, ou pelo menos fizeram para que o Todo-Poderoso dê uma vista de olhos pelo seu CV. What A Terrible World, What A Beautiful World é o sétimo disco da banda de Portland e, apesar de não ser tão maravilhoso quanto o era The King Is Dead, continua a ter aquilo que se quer: óptimas canções, orelhudas e bem escritas, que nos façam sentir um pouco mais de apreço por esta coisa chamada mundo. "Cavalry Captain" parece saída de um conto de crianças e é coisa para deixar no alto não só a imaginação como também os isqueiros, caso passem por cá para a apresentar; influência notória dos R.E.M. à guitarra e uma secção de sopro a dar o toque mágico que faltava.

"The Last Time I Saw Your Face"
Jefre Cantu-Ledesma
· POR Paulo Cecílio · 16 Fev 2015 · 16:20 ·


É certo e sabido que a mágoa alimenta a arte. No caso de Jefre Cantu-Ledesma, que ao longo dos anos tem cunhado belíssimos discos de cariz electrónico, essa máxima não será tão verdadeira quanto no seu novo trabalho. A Year With 13 Moons, nome retirado de um filme de Rainer Werner Fassbinder, realizado após a morte do amante deste, é o disco mais sofrido do norte-americano, detalhando o fim do seu casamento não através de palavras - temos apenas os títulos das composições, que auxiliam de alguma forma - mas sim de drones, sintetizadores cósmicos, ruído diverso e disperso e uma sensação absurda de melancolia. A carga psicológica a que somos sujeitos inicia-se desde logo com o assalto sonoro de "The Last Time I Saw Your Face", que muito provavelmente origina da canção de Ewan MacColl popularizada por Roberta Flack: o noise é omnipresente, escondido ou escondendo uma camada hipnagógica que sugere que o romance outrora feliz não passa hoje de uma lembrança fugaz que se esfumou com o tempo. Oito minutos que dão o mote para a restante autobiografia. Disco essencial para quem tem na mágoa a sua musa.

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