CANÇÕES / Julho 2015
"I Will Die"
A Place To Bury Strangers
· POR Paulo Cecílio · 15 Jul 2015 · 15:59 ·


Quem os viu por cá sabe bem do que são capazes estes meninos ao vivo. Com os A Place To Bury Strangers, é o volume do rock e não o rock em si aquilo que é levado ao extremo, numa cacofonia que tem tanto de assustador como de maravilhoso - levando-nos a pensar que poderíamos morrer felizes e surdos após um qualquer concerto seu. Os discos, esses, têm-se aguentado por entre as demais ofertas no campo do up to eleven, existindo lado a lado com os melhores nu gazers e a malta do noise rock. Não dizemos "suplantam", porque um vinil, um CD ou um simples ficheiro .mp3 não faz juz ao bom nome dos APTBS. Excepção feita a esta "I Will Die", a faixa que encerra o seu último disco - Transfixiation -, portento de noise que relembra os excelentes Rallizes Dénudés e quase que nos faz cortar o braço à facada de forma a que a mensagem da canção não se perca. A violência nunca se escutou tão bem.

"Disintegration"
Big Blood
· POR Paulo Cecílio · 14 Jul 2015 · 11:35 ·


Não se pode dizer nunca que uma versão de uma canção é mais fraca do que a original. Tal seria colocar em causa décadas de história da pop, do rock, do r&b e quejandos, e impediria o aparecimento e o crescimento de inúmeros performers, de 1940 até hoje, que mesmo não sendo eles próprios criadores de canções colocaram o seu cunho pessoal em muito do que cantaram, ao ponto de o seu nome se ter tornado indelével das mesmas. Pouca gente haverá, por exemplo, e transportando a questão para um tempo mais recente, que ache que a "Hurt" de Johnny Cash é mais fraca que a original dos Nine Inch Nails. Uma versão permite a um original todo um novo fôlego. Como esta "Disintegration", pelas mãos do casal folk Big Blood, existente desde 2006 e que disponibiliza toda a sua obra, gratuitamente, no Bandcamp.

Se a versão original dos The Cure era uma ode à miséria adolescente despoletada por um romance perdido, os Big Blood mantiveram o sentimento mas conferiram-lhe toda uma nova toada, muito mais adulta no seu lacrimejar, muito mais simples nos seus arranjos - por oposição ao melodrama - e muito mais impactante do que com Robert Smith (blasfémia, nós sabemos). Estamos ainda a meio de Julho, mas nenhuma outra canção de amor bateu tão forte como esta, em 2015. Independentemente do peso que o nome dos britânicos tem, esta canção é agora, também ela, pertença dos Big Blood.

"T-Shirt Weather"
Circa Waves
· POR Paulo Cecílio · 13 Jul 2015 · 12:18 ·


Não mintam a vós mesmos: sabem que adoram estes exemplos de indie adolescente e feito sem preocupações, quando é uma fórmula pop aquela que os moçoilos ou moçoilas das bandas, sejam elas quais forem, adoptam e transformam naquele género de canções que, por entre os calções e a praia, fazem ano após ano as delícias de todo um verão. Este ano, calhou aos Circa Waves fazerem o hino ideal para Julho/Agosto de 2015; uma canção tão óbvia e tão deliciosa, power pop que não precisa de explicações para ser feliz e, claro, um refrão orelhudo a ditar a tendência (spoiler: é para usarem t-shirts). Não é preciso mais do que isto para que fiquemos com um enorme sorriso na cara. No verão podemos ser menos intelectuais, certo?

"Reflections"
Django Django
· POR Paulo Cecílio · 13 Jul 2015 · 11:46 ·


Os rapazes evoluíram. Já não são uma banda em torno da qual se cria um hype inexplicável, fruto do poder da Internet e do passa-palavra; já não são um simples amor de verão, dos que marcam presença em festivais e que posteriormente nunca mais dão sinais de vida; e, sobretudo, já não são a banda de "Waveforms", canção infecciosa no bom e no mau sentido que conquistou a cabeça de muita gente. Os Django Django regressam em 2015 com um álbum fabuloso, mistura de pop e rock e psicadelismo e electrónica que, acaso tivesse sido o seu primeiro registo, não lhes teria granjeado nem metade dos fãs - é demasiado bom para cair nas teias da fama. Born Under Saturn faz dançar, eventualmente fará gemer, dormir não faz, e tem em "Reflections" e no seu beat 4/4 o melhor exemplo das novas roupas do quarteto londrino. Peçamos-lhes então desculpa pelo que dissemos em 2012.

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