Ainda que os Galaxie 500 e os Luna funcionassem enquanto bandas, com todas as suas virtudes e defeitos e tricas e bons momentos, foi sempre Dean Wareham, sua voz e guitarra, quem associámos as canções que ainda hoje nos enchem o coração e lavam a alma (como por exemplo "Pictures", essa maravilha cruel ou crueldade maravilhosa retirada de Today, o primeiro disco dos Galaxie - baby, my head's full of pictures...). Não é estranho, por isso, que o vejamos este ano a assinar um disco em nome próprio, e que disco, esse... Dean Wareham, homónimo porque quem escreve temas assim merece todos os louvores do mundo, quem sabe acabar num qualquer panteão nacional, apresenta-se ao longo de quarenta minutos como uma das mais belas colecções de canções que 2014 pode parir, folk sonhando com o espaço ou com campos onde o algodão-doce floresce e se espalha pela brisa nocturna e estival como se um dente-de-leão se tratasse, disco que guarda coisas de abrir a boca como "Heartless People" ou "Love Is Not A Roof Against The Rain" e, especialmente, esta mesma "The Dancer Disappears", que abre o disco em modo psych fofinho do jeito que apenas alguém que já passou por todos os amores e agruras desta vida que desconhecemos pode ser fofinho, sábio ensinando e sabiá cantando através dos acordes (e aquela linha de baixo, Deus do céu). Façam um favor a vocês mesmos: ouçam o disco e apanhem o Homem quando vier ao Sabotage, em Lisboa, no mês que vem. Depois não digam que não avisámos.