CANÇÕES / Março 2015
"Calypso"
Dawn Richard
· POR Paulo Cecílio · 18 Mar 2015 · 17:06 ·


FKA Twigs que nos perdoe, mas muita sopa terá ainda de tragar para conseguir fazer uma canção que lhe garanta o rótulo "r&b futurista" que parece estar a crescer no seio da crítica musical e que ao mesmo tempo seja tão imediata como qualquer um dos grandes temas que Dawn Richard tem feito desde Armor On, de 2012. Alguns exemplos: "Bombs", "Faith", "Gleaux" e, retirados de Blackheart, editado há semanas, "Blow", "Adderall / Sold", "Swim Free" e "Calypso". Esta última será mesmo o grande malhão de um disco que devemos encarar como "candidato a mudar esta merda toda": nunca se ouviu nada, r&b ou não, a soar assim.

Em termos de experimentalismo - podíamos, sei lá, chamar-lhe prog n' b [note to self: registar num notário a marca "prog n' b"] - só Björk poderá ser comparável. Em quatro minutos de canção, a menina Richard consegue passar de um r&b estranho e mutante para uma torrente jungle, amiúde vozes processadas e uma interpolação, maravilhosa, da "Go" de Moby. E se aqui se ouve algo como I've been waiting..., também nós estivemos à espera durante algum tempo que uma simples canção nos desse um chapadão destes à primeira audição. Tema do ano, já?

"Paper Trail$"
Joey Bada$$
· POR Paulo Cecílio · 16 Mar 2015 · 17:19 ·


É certo - e justo - que Kendrick Lamar ocupe as discussões em torno do hip-hop em 2015. Mas ainda antes de To Pimp A Butterfly ser anunciado quase de surpresa, já Joey Bada$$ havia editado o seu álbum de estreia há umas quantas semanas, tempo mais que suficiente para que as suas canções se entranhassem no goto. Como esta "Paper Trail$": três minutos de ataque ao capitalismo, ou pelo menos aos excessos do capitalismo, em que Joey se coloca no papel de personagem principal e nos revela aquilo que o maldito papel verde lhe fez, apanhado no meio do velho argumento sobre ser-se sellout e precisar da nota para pagar as contas e ter uma vida decente longe do gueto. Liricamente, uma canção sobre a vida. Musicalmente, um temaço daqueles que o hip-hop bem agradece, entre referências aos Wu-Tang e um flow impecável (quase que sentimos o seu cuspo a atingir-nos o rosto quando versa I'm screaming cream / Who fucking with the rap supreme?). Não foi editada quanto single para B4.Da.$$, mas é um daqueles hits que fica na gaveta sem o merecer. Enorme.

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