Apesar do começo auspicioso – principalmente por comparação com tudo aquilo que o precedeu nas Pussycat Dolls – mas comercialmente desastroso com "Whatever U Like", é inegável que Nicole Scherzinger nunca conseguiu evidenciar as suas qualidades enquanto força motriz nessa banda para uma carreira a solo que parecia viabilizada logo à partida. Com o cancelamento em 2008 do relativamente promissor Her Name is Nicole – às custas das superiores "Supervillain" e "Baby Love" - a dar lugar a um justificadamente ignorado Killer Love três anos depois, seria de esperar uma via confinada ao carreirismo de aproveitamento da sua figura pública, enquanto eterna estrela em potência, em programas como o X Factor, actividades filantrópicas e o ocasional flirt com a representação.

Na verdade e apesar de alguma coerência, o esforço constante em fazer-se ouvir acabava por dinamitar qualquer projecção que revelasse uma persona mais tangível, com as suas canções a cairem muitas vezes numa exuberância over the top que raramente se justificava. Algo que já era característico no aparato inusitado de muita da produção das Pussycat Dolls, quando tudo o que era necessário era uma "I Hate this Part". Felizmente as ambições popstar deste regresso mais ou menos inesperado não se fazem à força chicotadas histriónicas ou imitação da vida em formato larger than life.

"Your Love" mostra uma Nicole segura mas a exalar uma naturalidade que traz para a canção tudo aquilo que ela precisa sem qualquer adorno supérfluo. Canção sem paralelo na sua carreira, nem com a produção pop actual, 'Your Love' indicia também um regresso à boa forma da dupla The Dream/Tricky Stewart depois do relativo desnorte instalado após o reinado aquando de How to be a Lady Vol. 1 das Electrik Red ou Memoirs of an Imperfect Angel da Mariah. Triunfo veraneante, vai progredindo com toda uma elegância e subtileza num balanço quase caribeño, conduzido por uma pianola tão óbvia quanto essencial. E também tem espaço para citar o MC Hammer e um mini-solo de guitarra lá para o final. Curiosamente, e apesar de instantâneamente memorável, parece existir um segundo refrão à espreita depois dos “do do do's”, que ao não aparecer amplifica ainda mais todo o impacto daquela ponte onde ”and I, I’m never lettin’ you go baby, I love you so baby...” desagua no gloriosamente irresoluto ”your love makes me feel like...”. E se numa visão meramente especulativa está aqui um indício indelével para esperar o melhor de um prometido álbum com produção desta dupla, a realidade é que "Your Love" já é a melhor canção que ouvi de 2014.