CANÇÕES / Fevereiro 2013
"Full of Fire"
The Knife
· POR Ana Patrícia Silva · 03 Fev 2013 · 20:44 ·
São nove minutos a arder num purgatório de sintetizadores, numa obsessão por criar uma electrónica de sangue espesso. À primeira audição poderá parecer apenas uma sucessão de ruídos abrasivos sem objectivo nenhum, mas depois é-se totalmente engolido. Ouvido com auscultadores, com os sons directamente a perfurar os ouvidos, é uma experiência tensa, um assalto esmagador de ansiedade feito para estraçalhar o cérebro.
De um lado a voz mutante de Karin Andersson, violentamente manipulada entre o feminino, o robótico, o masculino e o demoníaco. Do outro lado há um amontoado absurdo de ritmos, guinchos e disparos de sintetizadores. “Full of Fire” pega na propulsão primitiva do techno, fustiga-lhe o esqueleto com uma pulsação industrial e perde totalmente as estribeiras. À medida que progride, a faixa cresce em intensidade e em volume, transmuta-se com velocidade e violência – as coisas ficam mais altas, mais estridentes, mais estranhas, mais distorcidas. Procuram o que de mais fulminante e doloroso existe na maquinaria electrónica e fazem-lhe coisas podres e proibitivas. Mesmo sem uma estrutura óbvia nem repetições vocais, cada minuto e cada passagem são significativos. A forma como a faixa está sequenciada é uma verdadeira lição de como criar intensidade através de variações incessantes mas subtis.
Como primeira amostra de um novo álbum duplo com perto de 100 minutos (*respirar fundo*) é uma odisseia insaciável. O vídeo de Marit Östberg, realizadora de pornografia feminista, consegue aprofundar as questões sobre género e sobre a complexidade do desejo humano que estão implicadas na letra, mas acaba por ser uma distracção e não consegue manter-se a par de toda a contundência sónica.
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