RETRO MANÍA / Janeiro 2013
SHOEGAZING ONITSUKA TIGERS
· POR Nuno Leal · 31 Jan 2013 · 17:07 ·


Retromania, retro, passado, ok, faz sentido escrever aqui sobre pérolas esquecidas na imensidão das datas anteriores, mas hoje, um dos dias destes últimos dias passados à espera do sinal de vida prometido pelos MBV, o sufixo "mania" ganha outra dimensão e preponderância. Maníacos do retro têm destas coisas, fazer discos tributo de coisas retro. E no Japão a malta se calhar sofre mais ainda com espera. Até porque o sol lá nasce primeiro, logo quando os MBV derem o tal sinal, já lá é dia, e a malta está no seu cubículo 1/1000 do escritório do 40º andar, a trabalhar à japonês com os fones provavelmente a ouvir MBV ou então este tal disco tributo, acabadinho de sair, só com bandas japonesas, que reinterpretam, umas claro melhor que outras, nada menos, nada mais, que o clássico dos clássicos da banda, tão clássico que já mora entre os clássicos dos clássicos da música mundial seja ela qual for. Eis a info do disco:

Various Artists
Yellow Loveless (My Bloody Valentine Tribute)
High Fader Records
2013
01. Tokyo Shoegazer -- "Only Shallow"
02. GOATBED -- "Loomer"
03. The Sodom Project -- "Touched"
04. Lemon's Chair -- "To Here Knows When"
05. Shonen Knife -- "When You Sleep"
06. Tokyo Shoegazer -- "I Only Said"
07. Age of Punk -- "Come in Alone"
08. Boris -- "Sometimes"
09. Shinobu Narita (4-D Mode1) -- "Blown a Wish"
10. Lemon's Chair -- "What You Want"
11. Sadesper Record -- "Soon"

Poucos não-japoneses conhecerão todas as bandas que participam, mas na minha Santa Ignorância folguei logo em saber que há Shonen Knife e Boris na lista a fazer milagres e versões históricas. E depois de as ouvir, bem, e de ouvir outras óptimas rendições, bem, deu-me um acesso de generosidade, porque nós fãs dos MBV temos de ter pena uns dos outros, não é?
Eis então a link do disco todo. Arigatoooooooo:

Sempre um passo à frente
· POR Paulo Cecílio · 28 Jan 2013 · 00:41 ·


De todas as bandas surgidas na segunda vaga do período pós-punk inglês (desenvolvendo um bocado a ideia de Reynolds: aquele que vai de 1984 até ao second summer of love e onde cabem bandas como os Jesus & Mary Chain, Spacemen 3 ou Dead Can Dance), poucas tiveram de lutar tanto por um lugar no panteão do indie quanto os A.R. Kane; esquecidos até pelos géneros que influenciaram ao longo de oito anos de carreira, caso do trip-hop, pós-rock, até da EDM, alcançaram finalmente, em 2012, o reconhecimento que há muito mereciam (tal como outros compatriotas nestas andanças da inovação -> esquecimento, os Disco Inferno) com a edição da colectânea Complete Singles pela One Little Indian, que abarca praticamente as duas fases mais notórias da sua carreira, desde a altura em que eram comparados aos JaMC até ao período em que o groove fala mais alto e o que temos é um cocktail house, dub, noise, sempre com o sentido único de chegar a essa coisa que é a maravilha pop. Que não se encare isto como um revivalismo; ouvir A.R. Kane em 2013 não constitui tanto um reavivar de memórias perdidas quanto uma verdadeira descoberta arqueológica, um anacronismo estranho que tem como génese 69 e i, os dois primeiros discos editados pelo duo. Pessoalmente nunca me perdoarei por apenas ter chegado até eles no ano passado; vocês não se deverão perdoar se ouvirem "A Love From Outer Space" e não chegarem imediatamente à conclusão que é dos momentos mais perfeitos dos anos oitenta.

Memórias disctorcidas dos Gwei-Lo
· POR André Gomes · 24 Jan 2013 · 01:16 ·


O disco de estreia de Gwei-Lo chegou-me aos ouvidos como outro qualquer numa altura de descobertas profundas, de forma quase aleatória, ao mesmo tempo que dezenas e dezenas de outros discos, numa altura de enorme partilha de discos e compilações entre pares. Naquele momento em que o pós-rock parecia a melhor coisa que tinha acontecido à música em muitos anos, o disco dos Gwei-Lo, pela sua beleza, pela sua transparência, pela sua honestidade (seja lá o que isto signifique), foi um disco especial. Tantos anos depois, Gwei-Lo continua a ser um disco sublime. Temas como "U.R.R" ou "Cellsong" sublinhavam um equilíbrio fascinante entre ruído e beleza, entre destruição e construção, entre passado e presente. Após a morte trágica do guitarrista Al Brooker, que morreu em cima do palco com os Gwei-Lo, tornou-se impossível perceber se este disco foi apenas um golpe de sorte - ou nem por isso - mas o disco de estreia da banda britânica fica para a história como uma pérola esquecida do pós-rock. E acima de tudo, como um disco de rara beleza.

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