RETRO MANÍA / Janeiro 2016
Sérgio Mendes & Brasil 66, uma outra bossanova
· POR Fernando Gonçalves · 21 Jan 2016 · 12:04 ·


E lá ia o meu amigo a cantarolar o “Mas que nada” enquanto tentávamos encontrar um sítio para se tomar um café e aí bateu. Já não ouvia aquilo há quase cinco anos. A primeira vez tinha sido no intervalo entre uma notícia sobre qualquer coisa sem interesse ou memória, mas aquilo ficou, levou-me a descobrir o artista e um pouco da sua história. Pois é, há distracções que vêm por bem e assim começou Sérgio Mendes & Brasil 66 com o “padrinho” Herb Alpert a segurar a criança.



Daqui se salta facilmente para as restantes músicas do álbum (editado pela A&M Records em 1966) e a sua bossanova em estilo sexy gourmet. Samba de uma nota só ou um Berimbau a saltar nas mãos e vozes dos Brasil 66 embrulhadas pelo trompete hábil de Herb Alpert, levaram a bossanova a deitar-se na cama com a pop norte-americana, numa orgia de línguas identificável com a construção da Torre de Babel.

“Mas que nada”, expoente máximo deste álbum e deste novo paradigma, ou “One Note Samba” provam-no de forma brutal. Uma norte-americana na voz numa letra portuguesa com o tom a ser dado pelo colectivo Brasil 66, rara mistura, à época, entre músicos dos dois maiores países das Américas



Se o tripanço já ia alto, ainda faltava ouvir “Day Trippin”, reconstrução sintética e aveludada do hit dos Beetles e, se, por mero acaso ou distracção (já vimos como as distracções são tramadas), se sentisse que tudo estava ouvido, lá vem uma “Água de Beber” dos génios Vinícius de Moraes e Tom Jobim.



No final, que se podia ausentar por mais uns minutos, chega “Berimbau”. Trajecto de elegância e bom gosto que conclui a trama deste álbum que no seu mui próprio "samba-enredo" lançou Sérgio Mendes para a galeria dos notáveis da bossanova.

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