RETRO MANÍA / Julho 2017
Petrus Castrus, Mestre.
· POR Fernando Gonçalves · 25 Jul 2017 · 23:19 ·


Um pouco antes da “madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ Onde emergimos da noite e do silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo” como escreveu Sophia, um grupo de cinco rapazes arriscou couro, cabelo e alma para pôr cá fora um fruto de liberdade criativa denominado Mestre. Corria o mês de Dezembro do ano de 1973 quando os irmãos Castro (Pedro e José), Júlio Pereira, Rui Reis e João Seixas lançaram um dos tomos, por excelência, do prog rock português num cinzento país que mal deixava passar entre as suas cortinas de ferro ferrugento a luz do Sol. “Porque”(letra de Sophia de Mello Breyner Andresen, 3ª música do alinhamento de Mestre.



Gravado no Strawberry Studio localizado no Castelo de Hérouville, França, Mestre foi um arriscado exercício de liberdade criativa inspirado nos já livres Pink Floyd ou Procol Harum. Onze músicas, um elenco de luxo nas letras e uma surpresa chamada José Mário Branco no xilofone utilizado durante as gravações: Sophia de Mello Breyner Andresn, Ary dos Santos, Alexandre O’Neill, Bocage, Manuel Bandeira, Alberto Caeiro, António Cena e José Mário Branco no dito xilofone (tema S.A.R.L.).



A estas onze faixas juntaram-se duas mais aquando da reedição em CD deste Mestre nos idos de 2007: “Agente Altamente Secreto” e “Pouca Terra”. Estes dois temas foram gravados com os seus onze irmãos mas, mal do tempo, das comunicações ou apenas das bobines, só em 2007 deram um ar da sua graça estendendo o álbum até às treze músicas.



Puxando a k7 atrás, o nascimento dos Petrus Castrus remonta aos idos de 1971, altura em que os nossos Castro sem Fidel (guitarra, baixo e voz) decidiram “contratar” Júlio Pereira (guitarra) e Rui Reis (teclas) aos Play Boys, um quarteto a que pouco tempo depois se juntou João Seixas (bateria). Juntos, editam dois EP pela Valentim de Carvalho (Marasmo e Tudo Isto) e decidem partir para outra paragem. Essa paragem chamou-se Sassetti, editora (albergava nomes como Sérgio Godinho e José Mário Branco) onde acabam por gravar o contestatário e livre Mestre. Tão livre e solar (os poetas elencados no álbum a nada ajudaram) que, quase imediatamente após o seu lançamento em Dezembro de 1973, a obra foi retirada do mercado para reemerigir três meses depois. A PIDE não gostava de rock progressivo…



Após este álbum, Júlio Pereira sai para formar os Xarhanga e não voltou. Quanto aos Petrus Castrus ainda lançam, no pós-revolução, o single “A Bananeira”, tema que seguia a via de contestação e sátira social de Mestre e que deslocava a banda para longe da música de intervenção, género em que os próprios afirmavam não se sentir muito bem. Suspendem actividade em 74’ e regressam em 78 com o LP Ascensão e Queda, disco que se saldou por um enorme fracasso comercial mas que deixou marcas: uma editora sul-coreana reeditou o álbum. Desapareceram pouco depois e, qual Lázaro, voltaram à vida em 2007 com a propósito da reedição de Mestre em CD.

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