RETRO MANÍA / Junho 2013
Já se ouviu tudo o que o krautrock produziu de bom? Nein!
· POR Nuno Leal · 10 Jun 2013 · 23:46 ·


Já passou mais de década e meia sobre a altura em que redescobrir sons vindos da ex-Alemanha Ocidental entre fins de 60 e inícios de 80 parecia proibido e era a coisa mais cool do mundo. Pudera, ouvia-se falar em CAN, envoltos em mistério, procurava-se um disco e tinha-se uma espécie de reviravolta na vida da qual nunca se recupera. Tudo se questiona, outras coisas começam a fazer todo o sentido, sentes-te enganado, a música que ouves nunca mais será a mesma. É quase como se os pais e a sociedade te dissessem “não experimentes”, “ou então só um bocadinho de Kraftwerk, mas do leve”, “Tangerine Dream é perigoso, só se for o de oitentas”, mas tu zás, CAN com o japoina, CAN com o americano, CAN só com alemães, CAN CAN e depois já há volta a dar. Dás por ti e perdes horas (ou ganhas, depende da perspectiva) a descobrir Faust, Neu!, Amon Düül II, Kluster e Cluster. Já viciado exageras ainda mais nos Kraftwerk e até Organisation e depois descobres que Tangerine Dream é ali logo no início que bate ou então seguindo o Klaus Schulze.

Passa-se anos nisto. O vício alarga-se a Ash Ra Tempel, que nos leva ao Manuel Göttsching, tenta-se largar mas logo vem Popol Vuh, Guru Guru, Embryo, Agitation Free, Liliental, Conrad Schnitzler, tudo o que toca Conny Plank, Asmus Tietchens, etc., etc. Foge-se mais para oitentas para fugir ao vício do krautrock e a sensação é que finalmente já se ouviu tudo, haverá tempo para outros vícios, até porque o Saint Julian já tem Japanrocksampler cheio de vícios nipónicos. E anda-se nisto até encontrar, fónix, em 2013, outra pérola que nunca tinha ouvido falar. Um tal de músico de free-jazz, um dia roadie do sobejamente idolatrado Klaus Schulze e membro do esquecido colectivo GAM.

Günter. Não aquele cómico sueco idiota que goza com o Zezé Camarinha sem saber, mas sim outro, cósmico, um mago da guitarra de escalada sónica e dos arranjos reverberantes, tão bom criativo e melhor músico que Schulze, um dos melhores guitarristas alemães esquecido não sei porque carga de água. Eco, delay e transe em quantidades de caneca cervejeira. Quiçá o elo que faltava entre CAN, Popol Vuh e os italianos Sensation’s Fix, a surpreendente banda que lembra mais krautrock que progressivo italiano redescoberta por muitos no ano passado. Überfällig , é o segundo disco de Günter, onde passeia pelo cosmos apoiado pela na companhia da bateria pré-pós-rock com toques de dub de Charles Heuer. Tem partes de enorme paralelismo com o seu contemporâneo americano Glenn Branca, mas menos montanha-russa nos riffs, mais mantra. Ouvindo um pouco de outras coisas que se encontram dele na net, este disco será provavelmente o seu melhor. Um verdadeiro clássico imperdível para quem vasculha krautrock. O ano de 1979 torna ainda mais aliciante a audição, porque se o disco viesse de Chicago de 1997 faria sentido na mesma. Excepto no falar alemão que se ouve por vezes a bordo da nave. Começo a acreditar piamente que hão-de aparecer sempre discos maravilhosos da RFA de setentas. Dos sessentas e oitentas se calhar já não. Mas de setentas, não sei nein.





Parceiros