RETRO MANÍA / Abril 2016
Japão de oitentas, muito arigato, muito arigato.
· POR Nuno Leal · 05 Abr 2016 · 23:32 ·
Nippon, sempre o Nippon. Desta vez Colored Music e assim continuamos na década de oitenta, quiçá a melhor de sempre na cultura musical deste país fabuloso, oh Venceslau de Moraes como te compreendo. Relacionados com este disco de 1981, único e verdadeiramente singular, descobrimos dois nomes - Atsuo Fujimoto e Ichiko Hashimoto - no Discogs, passe a publicidade, e é o que temos. Suponho que Ichiko é a voz feminina que ilumina muitas das composições. Só porque já vi japonesas chamadas Ichiko algures. Mas voltemos à música.
"Colored Music", a primeira faixa começa numa toada funky rare groove nada atípica no país dos Casiopea, mas surpreendentemente combina-a com artilharia digital new wave e um toque quase 4AD na voz sobre guitarra de Ichiko. Há ainda coros estulo Association ou Free Design, há rap. Só esta faixa vale o disco.
"Anticipation", mergulha todo o funk na dark wave, densamente. Imaginem os Magazine a cantar com a Anabela dos Mler Ife Dada. "Ei Sei Raku", soa a hipergrupo viajante no tempo e multidécada. Imaginem os primeiros Pram dos noventas a tocar com os italianos Area de setentas e um monge erudito em ácido-dueto com uma fada robot.
"Sanctuary", mergulha na 4AD ou na Projekt mas avant-lettre: uns bons aninhos antes. Soa a Amon Duul II se alguma vez tivessem feito um disco gótico. Too Much Money, traz outra surpresa no meio de tantas. Zappa japonês! Riff à T-Rex mas loucura zappiana em todos os poros, blues absorvidos em teclados new wave qual experiência marada do mestre Sheik Yerbouti.
"Love Hallucination": volta a groove, sensação quase brasileira, tão japonesice de décadas vindouras, aqui em minutos de classe pura, baixo monstro, dueto nas estrelas, mais uma vez teclados coldwave a causar a melhor estranheza deslocada do mundo. Fritaria pegada. "Third Eye Clear Light", fritaria pegada (continuação). Aqui mais tipicamente Japanrocksampler, ópio, guitarras, free jazz, Ichiko em modo Joan La Barbara, Tony Williams groove mood.
"Heartbeat". Ponto final. A primeira faixa que ouvi. Ao nível do melhor do Hosono, dos YMO, do Asmus Tietchens, do Conrad Schnitzler, tudo. 1981-2081 em toda a linha, dançavel até ao osso, digital-oriental como um Casio com o alarme avariado às tantas. Vale o disco. Aliás valem todas. 11 em 10. Eis o bater do nosso coração meio robot em Tóquio, até breve.
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