Tops 2005
· 30 Dez 2005 · 08:00 ·

� o final do ano. Ao longo de Dezembro, os mi�dos escrevem aquilo que querem para o Natal. J� passaram Outubro e Novembro a pensar nisso, agora passam os desejos para papel. Enviam para a tal morada da Lap�nia para ver se o senhor velhote de barbas brancas lhes traz o que querem. Bonecos, brinquedos, aparelhos de alta tecnologia. Era tudo t�o diferente quando �ramos pequenos, n�o era? N�o havia tanta tecnologia. O m�ximo, talvez, seria um carrinho telecomandado. Mas h� algo que sempre se manteve. Sensivelmente uma semana depois do Natal, a maior parte dos brinquedos j� n�o funciona. Acontece. Conhecem algu�m que tenha mantido os brinquedos durante o ano? N�o. Sabem porqu�? Essa gente n�o existe. Prendas. � dinheiro deitado para o lixo, para dar, no m�ximo, umas quatro ou cinco horas de satisfa��o. Os pais � que todo o ano trabalharam para poder comprar aqueles brinquedos, aquilo que os filhos tanto queriam (e esquecem com uma facilidade brutal depois de desaparecer por culpa deles) � entristecem-se, mas sabem que � assim. Porque h� coisas que nunca mudam.

E depois crescemos. Tornamo-nos chatos. Oferecemos coisas chatas que, n�o se estragando, estariam melhor a estragar-se. Aquelas inutilidades que ningu�m quer para nada, que at� acabam por se tornar uma piada. �- Olha, ofereceram-me isto. � A s�rio? Hahaha, que ot�rios! � Sim, porque � que quero ser amigo de algu�m que me oferece isto?� Mas quem recebe coisas in�teis tamb�m oferece coisas in�teis. E a originalidade? A originalidade nunca existe. Percorremos a cidade inteira � procura �daquela� prenda, aquilo que nunca ningu�m ofereceu. Sabem que mais? J� foi oferecido mil vezes, n�o h� originalidade nenhuma. As �nicas prendas de Natal que rendem s�o os cheques-disco. H� quem possa argumentar que estes demonstram pouca originalidade. Nada mais errado. E mesmo que demonstrem, a originalidade � tremendamente sobrevalorizada. H� coisas que nunca mudam.

Outra coisa que nunca muda e acaba por criar algum arrependimento chama-se �lista de melhores discos do ano�. Decerto que j� a viram, aqui e ali, nas publica��es todas, nos blogues, nos f�runs, em todo o lado. E n�o s� de discos, de livros, de filmes, de tudo. At� os mi�dos devem fazer listas de brinquedos, sendo aqueles que se estragam com menos facilidade mais valorizados. N�o h� nenhuma raz�o para isto. Podemos ser as pessoas mais desorganizadas do mundo, mas n�o resistimos a agrupar em listas os nossos discos favoritos do ano, do dia, do m�s. Est� na natureza humana faz�-lo, e n�o h� como escapar. Claro, existem aqueles espertinhos que dizem que n�o fazem listas, que est�o acima disso, mas depois v�o para casa e fazem listas das melhores raz�es para n�o fazer listas. Hip�critas.

Ao contr�rio de todas as publica��es europeias, por c� orientamo-nos pela data de edi��o original, n�o pela europeia. Para al�m do mais, Arcade Fire apareceu em listas individuais dos nossos votantes de 2004. N�o seria justo arrecadar o t�tulo de disco do ano de 2005 dessa forma, ainda para mais sendo um disco de 2004. A �nica pena �, obviamente, Handwriting, do canadiano Khonnor, aquele disco de paisagens sonoras e can��es de um puto de 17 anos a quem ningu�m ligou em 2004, ano de edi��o original (se bem que, mesmo aqui ao lado, na mesa deste computador esteja uma edi��o da Type que s� menciona 2005 como data de edi��o).�

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The Skygreen Leopards Life & Love in Sparrow's Meadow
Jagjaguwar
Life & Love in Sparrow's Meadow � a continua��o do trabalho de Donovan Quinn e Glenn Donaldson na procura de misturar a pop com elementos bizarros. E para isso, os Skygreen Leopards levam essa mesma pop at� ao campo, deixam-na brincar com animais e cheirar as plantas, saltar pela relva verdejante e nos montes de feno e quando chega a hora de recolher � o resultado aos olhos e ouvidos de todos n�s. Mais um retrato da Am�rica estranha naquilo que tem de mais bela. "Mother the Sun Makes Me Cry", por exemplo, � um belo exemplo da beleza que aqui se alcan�a. Life & Love in Sparrow's Meadow � familiar da pop partida em bocados e colada de novo dos Animal Collective. Um primo do lado do pai. A.G.
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Colleen The Golden Morning Breaks
Leaf
Colleen � Cecile Schott e faz m�sica basicamente com aquilo que lhe apetece e aparece � frente � que � como quem diz, com os instrumentos que aprendeu a tocar. Para este The Golden Morning Breaks, a francesa deixou para tr�s maior parte das m�quinas � aquelas que se faziam sentir no seu disco de estreia � e o resultado �, por vezes, desarmante. S�o composi��es delicad�ssimas que poderiam facilmente ser bandas sonoras de um qualquer filme com os sentimentos � flor da pele. O minimalismo cruza-se com a melodia, funde-se o passado com uma certa modernidade e o resultado � mais do que aconselh�vel. No final de The Golden Morning Breaks fica-se com a vontade de adivinhar qual ser� o pr�ximo passo de Cecile Schott. A.G.
28
The Books Lost and Safe
Tomlab
Lost and Safe � o terceiro disco de Nick Zammuto e Paul de Jong, os dois m�sicos que gostam de ser tratados por The Books. Depois de Thought for Food e Lemon of Pink havia tudo a manter, porque as provas j� estavam dadas. E as directivas tamb�m. O trabalho de pesquisa continua a ser o forte da casa � como quem pesquisa em livros por frases a usar. Os samples furam texturas e ritmos imprevis�veis onde tamb�m navegam as vozes � mais presentes do que nunca. Imprevisibilidade � mesmo algo que os Books gostam de ter por perto. N�o v� o �bvio bater-lhes na cabe�a um dia. Por enquanto, est�o longe disso e Lost and Safe � um belo exemplo e originalidade e de criatividade. A.G.
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Boards of Canada The Campfire Headphase
Warp
O final de 2005 tem sido marcado por neve e temperaturas muito baixas na Esc�cia. O duo formado por Michael Sandison e Marcus Eoin n�o � da Escandin�via nem da Isl�ndia, mas tamb�m tem que se debater com paisagens g�lidas, ass�pticas e desprovidas de vida. Pois �, e a electr�nica tamb�m �, � partida, um lugar frio. A resposta dos Boards of Canada a este problema surgiu atrav�s de uma esp�cie de fogueira no meio de gelo: The Campfire Headphase d� a ouvir acordes de guitarra claros como a �gua, sem m�scara, sem processamentos. Os detentores do trono da m�sica electr�nica perfeita rendidos ao ac�stico? Nem por isso, os blips continuam l�, os sintetizadores tamb�m, as caixas de ritmos idem. E a produ��o � milim�trica como nos �lbuns anteriores. The Campfire Headphase at� pode nem ser o melhor �lbum da banda e o caminho tomado n�o � propriamente inovador (ou�a-se Four Tet), mas � mais um passo na desmistifica��o da composi��o electr�nica ass�ptica, por parte de um duo que parecia praticante ortodoxo. No reino da electr�nica, se n�o s�o reis, os Boards of Canada s�o pelo menos candidatos ao trono e este disco � apenas mais uma prova disso. J.P.B.
26
Low The Great Destroyer
Sub Pop
No primeiro �lbum com selo Sub Pop, editora de maiores dimens�es que a Kranky, casa-mor dos Low desde �Secret Name� (1999), os Low levam mais longe o pendor maximalista iniciado em �Trust�, de 2002. �The Great Destroyer� redefine o som Low, agora menos austero, solene e j� n�o reduzido a um esqueleto de tristeza. Mant�m-se, contudo, intacto o encanto negro das vozes enleadas de Mimi e Alan. �Silver Rider� gela o cora��o (tem daqueles �la la la� ir�nicos dos Low), �Walk Into the Sea� � pop segundo Phil Spector, e �Monkey� � um valente tema rock de baixo distorcido. Adeus aos velhos Low? De pouco importa: os �novos� continuam excelentes. P.R.
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Murcof Remembranza
Leaf
�M� de Memento, morte cerebral e mem�rias dissolvidas em mezcal. �U� de ut�pico, uivo fantasioso e peregrinamente universal. �R� de recorda��o, rompimento cir�rgico e revolu��o emocional. �C� de circunfer�ncia, calculada interveni�ncia e c�smico fenomenal. �F� de fantasmag�rico, formalmente implac�vel e primeiro pren�ncio de um final. Esquecer Remembranza � a melhor forma de record�-lo. M.A.
24
Jamie Lidell Multiply
Warp
Do senhor laptop para o senhor soul pura e dura. Como � que se d�? A showmanship de Jamie Lidell sempre esteve l�. Era s� uma quest�o de adapt�-la �s can��es - todas elas enormes - que aparecem em Multiply. Para ser confundido com as vozes cl�ssicas da soul, Lidell criou verdadeiros temas cl�ssicos do s�culo XXI, de uma forma totalmente diferente de Sharon Jones, que tamb�m reimagina a soul e o funk nos nossos tempos. Aqui h� tecnologia e seria muito dif�cil que este disco fosse lan�ado noutro ano que n�o 2005. P�s bem assentes em 2005, mas com o conhecimento todo da hist�ria da m�sica. "I'm a question mark, a walking, talking question mark" define bem Lidell. R.N.
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ROVA::Orkestrova Electric Ascension
Atavistic
Em 1965 John Coltrane gravou �Ascension�, um assombroso disco que se estabeleceu como monumento do free jazz. Agora, quarenta anos passados da grava��o original, o ROVA Saxophone Quartet (Bruce Ackley, Steve Adams, Larry Ochs e Jon Raskin) convidou a elite da improvisa��o mundial e, sob a designa��o Orkestrova, prop�s uma regrava��o da m�tica obra de Coltrane. O quarteto de saxofones, acompanhado por gente como Nels Cline, Fred Frith, Ikue Mori ou Otomo Yoshihide, construiu uma �pica reconstitui��o el�ctrica que ao mesmo tempo soa a novo por todos os lados. N.C.
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Bernardo Sassetti Trio2 Ascent
Clean Feed
Bernardo Sassetti não é um pianista de jazz tradicional. Não é de todo um puro improvisador, mas compensa com uma formação clássica de excepção. Nos seus discos anteriores Sassetti desenvolvia uma aproximação à linguagem jazz, mas a utilização deste rótulo para classificar a sua música não será a mais exacta. Em “Ascent” (título que evocará “Ascension” de Coltrane), Sassetti liberta-se dos constrangimentos que os rótulos implicam e com um duplo trio conjuga duas vertentes num território que é a sua casa. Associando ambiências de música clássica (violencelo e vibrafone) ao seu jazz particular (com auxílio da dupla Barretto/Frazão), consegue um equilíbrio perfeito que sedimenta uma obra-prima: magnífica, intemporal, sem fronteiras. N.C.

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Pelican The Fire on Our Throats Will Beckon Thaw
Hydra Head
O senhor disse Metal? Não, desengane-se. Os Pelican ‘apenas’ fazem algo arraçado ao metal. Não têm vergonha dele, mas gostam de ir por outros caminhos. Em The Fire in Our Throats Will Beckon the Thaw (sim, os Pelican têm qualquer coisa de pós-rock até nos titulos, e este deve ser primo de Walking Cloud and Deep Red Sky, Flag Fluttered and the Sun Shined dos Mono em 2004), ao longo de sete construções instrumentais invariavelmente majestosas, os Pelican tentam liderar a nova vaga de bandas do chamado instrumetal. E pelo meio até conseguem ser acústicos, sem medo, mas com bilhete de regresso para as guitarras eléctricas a ser utilizado o mais rápido possível. No dicionário Pelican constam coisas tão maravilhosas como drones, paisagens sonhadoras, ambiências pesadas. Estas duas últimas não querem dizer nada, obviamente, mas aqui até dizem tudo. A.G.
   
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Tom Zé Estudando o Pagode: Segregamulher e Amor
Trama
Pode n�o ser t�o conhecido como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa (entre outros), mas Tom Z� � um dos maiores compositores da m�sica brasileira. Estudando o Pagode, o seu �ltimo trabalho � uma esp�cie de opereta em tr�s actos e 16 can��es. Can��es essas onde Tom Z� n�o deixa de contar as suas hist�rias plenas de humor e discernimento; hist�rias sobre amor e trag�dia, com alguns dos elementos que algo feito por Tom Z� deve conter. � um samba que n�o � bem samba, � um rock que n�o � bem rock, � pop que perdeu o bilhete de identidade e ainda n�o teve tempo de renovar. � com toda a certeza um dos melhores lan�amentos de 2005 que nos chegam do Brasil. A.G.
19
Sons and Daughters The Repulsion Box
Domino
� curioso pensar que � necess�rio remontar a um distante single de sucesso de MC Solaar para que a palavra western passe a ter uma funcionalidade ambivalente, se n�o mesmo ir�nica. �Le Nouveau Western� apontava o sentido cr�tico do rapper de origem senegalesa � globaliza��o operada pelos Estados Unidos nas grandes cidades francesas. At� certo ponto, culpava a heroifica��o dos cowboys pela sede cega de domin�ncia cultivada pela juventude que habita a periferia de Paris ou Marselha. Os Sons and Daughters seguem o rumo inverso: recuperam uma mem�ria musical tipicamente western (a country torna-se acelerada, o rockabilly ganha a sofistica��o europeia) como se com isso procurassem escape ao abafadi�o �cinzent�o� que associamos �s bandas de Glasgow. Em duelo ao sol com discos invocativos editados este ano (Get behind me, Satan, por exemplo), The Repulsion Box � o disco que permanece de p�. Al�m disso e para variar, � agrad�vel escutar aos escoceses outra coisa que n�o a melancolia. M.A.
18
Smog A River Ain't Too Much To Love
Drag City
Encaremos os factos. Bill Callahan n�o � propriamente a melhor pessoa do mundo. Mis�gino, mau, cruel, ego�sta... mas o que � que isso interessa? A sua voz encerra nela toda a sabedoria do mundo quando diz "God is a word and the argument ends there" em "I Feel Like The Mother of The World". � imposs�vel refutar. Mesmo assim, Bill Callahan consegue, em A River Ain't Too Much To Love, escrever �ptimas can��es com pouco mais do que a sua voz grave e a sua guitarra. E consegue, tamb�m, conseguir que a sua namorada toque piano num dos temas. "The Well", "Say Valley Maker", a can��o tradicional "In the Pines". Tudo isto remete para aquela noite de Setembro � beira-Tejo no Clube Lua, tudo o que Callahan nos trouxe ao vivo. E n�o necessariamente para os prim�rdios rudimentares de baixa fidelidade de Smog, mesmo antes de ser (Smog) e de voltar a ser Smog, mesmo antes de pegar nas guitarras el�ctricas e de voltar a deix�-las no descanso. R.N.
17
Esbjörn Svensson Trio Viaticum
Act
N�o h�, actualmente no mundo do jazz, muitos trios de piano que combinem a efici�ncia t�cnica habitual com a consci�ncia do tempo presente. O trio do sueco Esbj�rn Svensson tem a capacidade rara de jogar com naturalidade no terreno dos classicismos, enquanto consegue apelar a um segmento pop sem abdicar de experimenta��o, na introdu��o de subtis elementos electr�nicos - como ficou provado na apresenta��o ao vivo na Casa da M�sica. Viaticum � de tal modo extraordin�rio que transborda as fronteiras do jazz. N.C.
16
Gang Gang Dance God's Money
The Social Registry
Depois da abstra��o s�nica e da justaposi��o de estranhezas variadas registadas nos discos anteriores, os Gang Gang Dance entregam-se � laboriosa arte das can��es, afastando-se dos amigos nova-iorquinos da deconstru��o rock (da qual os GGD j� se mostram fartos). God�s Money namora com a pop mas transmuta-a numa coisa nova e excitante, investindo nas m�sicas do mundo (em especial o Oriente) e em sintetizadores, percuss�o africana/kraut e negrume g�tico dos 80 (Lizzi Bougatsos � uma Liz Fraser diab�lica). �Glory in itself� � um dos temas de 2005. Um disco monumental, atestado de idiossincrasia est�tica de quatro indiv�duos. P.R.
15
Jesu Jesu
Hydra Head
O Allmusic est� obviamente equivocado ao generalizar, com a atribui��o da etiqueta indie rock, o oce�nico espectro sonoro de Jesu � uma das mais recentes al�neas acrescentadas ao invej�vel curr�culo de Justin Broadrick. Suspeita-se que algu�m tenha escutado apenas a primeira faixa ao debute hom�nimo e associado imediatamente o projecto a uns Hood transcendentes ou coisa que o valha. Justin Broadrick volta a aproveitar o momento indefinido que o metal atravessa � indeciso entre o drone e a ressurrei��o prog - e assina um statement capaz de ombrear (e at� mesmo condensar) com as dimens�es de si tit�nicas dos discos de Godflesh. Jesu � o disco-portal que op�e riffs a uma imensur�vel muralha de som, como um imperante Neptuno for�a Leviat�s e baleias lend�rias a gladiarem-se sem reservas. Algu�m o comparava a uma banda sonora de matadouro, onde o apunhalamento sanguin�rio devia ocorrer em c�mara lenta para surtir um efeito perturbante mais eficaz. Tivesse sido antecipado no tempo, e Jesu seria ideal enquanto banda sonora para um remake de O Abismo filmado por Stanley Kubrick. M.A.
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Lou Barlow Emoh
Merge
Talvez seja mesmo este o disco que melhor exemplifica aquilo a que � comum chamar de �limpar os cantos � casa�. Lou Barlow � o �cone indie injustamente relegado ao esquecimento � opta finalmente por usar simplesmente o nome pr�prio para assinar um dos seus trabalhos, e trata o conjunto de can��es como um cancioneiro de emo(h)��es pass�vel de ser conceptualizado, em vez de apenas empilhado descoordenadamente Reside é nesta �ltima inova��o o real triunfo de Emoh e o factor que torna o seu aproveitamento francamente superior a qualquer disco Sentridoh. Ainda que a solo Barlow seja invariavelmente fiel ao feeling caseiro, Emoh projecta um lar muito mais digno e habit�vel que aquele a que os exerc�cios sub-lo fi aludiam noutros tempos mais obscuros. Aqui s�o-nos presenteados epis�dios reunidos em formato antologia a partir de um refinado reality show que conta com um lirismo franco no lugar da plasticidade programada que conv�m � Endemol. Ainda h� lugar para Barlow entre os cantautores a manter sob atenta vigia. M.A.
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Lightning Bolt Hypermagic Mountain
Load
N�o h� bolso que sustente um habitat t�o feroz quanto aquele que os Lightning Bolt povoam de fuzz sufocante e bateria violentamente pneum�tica. Ao quarto disco, as duas bestinhas que Providence pariu, atrevem-se a tornar can�nico o veneno electrificante que a Load Records vende como raticida de melodia inconsistente. Hypermagic Mountain explora os extremos do seu frenesim ruidoso com um instinto primata e d� por si perdido num labirinto que, desde Wonderful Rainbow, viu a sua disposi��o subtilmente alterada. N�o ser� l�gico que um avassalador primeiro ribombar ecoe por tempo indeterminado? Esquece o timing e as condicionantes que esse implica. Monta a montanha. M.A.
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The Vicious Five Up on the Walls
Loop:recordings
A rebeli�o e a revolu��o e a festa andam todas de m�os dadas. H� uma cita��o, tradicional e supostamente erradamente atribu�da a Emma Goldman, que fala da revolu��o e da dan�a: "If I can't dance, I don't want to be in your revolution". Mas, nos Vicious Five, a revolu��o dan�a-se. Mas, mesmo tendo sa�do pela Loop:recordings, a revolu��o n�o se dan�a atrav�s do Roland TR 808 que o hip-hop usava nos anos 80. Dan�a-se atrav�s do punk rock e do puro rock'n'roll, de uma forma algo revisionista mas com os p�s bem assentes no s�culo XXI. Que outra banda nos daria refr�es com "hey hey" num tema chamado "Fallacies & Fellatio". A �nica falha de Up On The Walls, para al�m da sua brevidade e da falta de eclecticidade vocal de Albergaria, � n�o conseguir reproduzir os discursos e a pose ao vivo do incendi�rio front man. R.N.

11
Sigur Rós Takk
EMI
Os Sigur R�s j� n�o s�o desconhecidos para ningu�m. Os tempos de �gaetis Byrjun j� l� v�o ao longe, e os de Von ainda mais. Takk�, o disco que Teresa Salgueiro resolveu traduzir (em Obrigado), v� uns islandeses mais cheios que em ( ) e a esculpir pop em gelo fino. Muito fino ainda. Sim, as ambi�ncias g�lidas e paisagens glaciares continuam � e fazem-se sentir aqui e ali, um pouco por todo o lado - mas agora est� tudo muito mais adornado, mais pipoqueiro. No entanto, a beleza mant�m-se intoc�vel e ent�o Takk� acaba por ser um disco que, embora muito diferente de ( ), cai na perfei��o na fila 4 da discografia dos islandeses. � disco para acompanhar muitos dias, muitas noites ou aventuras pr�-sono. � semelhan�a dos seus dois antecessores. Porque os Sigur R�s rockam mas na (muito pr�pria) maneira deles. A.G.
   
10
Kanye West Late Registration
Roc-A-Fella
No princ�pio eram os beats. L� no fundo, em The Blueprint de Jay-Z, Kanye West afirmava-se atrav�s da sua m�sica, atrav�s das suas produ��es para os outros. O hiper-mega-cl�ssico de guerra contra Nas e outros que era "Takeover" samplava os Doors e era puro fel, n�o s� pelas palavras de Jay-Z, mas tamb�m pela m�sica que se juntava a elas com perfei��o. The College Dropout mostrou um rapper med�ocre mas competente e ainda mais brilhantes beats, e Late Registration trouxe as orquestra��es de Jon Brion e um rapper ainda melhor. H� novos �picos do hip-hop, como "Diamonds From Sierra Leone (Remix)", com a ajuda do patr�o Jay-Z, h� singles viciantes como "Gold Digger" e "Heard'em Say" e h� o g�nio, o ego, as d�vidas e a vida de Kanye West. Se gente como Terminator-X dos Public Enemy elevou o sampling � condi��o de arte, Late Registration confirma Kanye West como algu�m que eleva o sampling aos c�us. R.N.
9
Devendra Banhart Cripple Crow
XL
Devendra Banhart assinou dois dos melhores discos de 2004: Rejoicing in the Hands e Ni�o Rojo. Dois discos que catapultaram a nova folk para lugar de destaque, arrastando consigo toda uma nova fornada de artistas prontos a elevar Vashti Bunyan a rainha. E Devendra Banhart a rei. Embora o recuse, Devendra Banhart � rei e senhor da folk mais freak a ser feita numa Am�rica acentuadamente weird. Em 2005, e para que a chama se mantenha acesa, Cripple Crow junta a parte da comunidade e apresenta o Devendra Banhart mais ecl�tico de sempre. Esque�a-se o homem sozinho com a guitarra na m�o, pois Devendra agora n�o tem medo do rock nem do que vem atr�s dele. Cripple Crow pode n�o ser um disco brilhante � que n�o o � � mas um disco (bem) mais do que mediano vindo de quem vem � coisa para se manter pr�xima dos ouvidos. Um disco para se ir ouvindo aos poucos, degustando tema por tema. Com o volume um pouco mais alto do que antigamente. A.G.
8
Common Be
Geffen
Electric Circus foi um falhan�o. Common tentou mas n�o conseguiu. Queria mudar a face do hip-hop para sempre. Mas fracassou. N�o que fosse um mau disco - Electric Circus tem os seus momentos -, mas era um disco dif�cil e demasiado vision�rio para ser bem sucedido. Ao contr�rio de MF Doom, que deixou de ser Zev Luv X e passou a usar uma m�scara para esconder as cicatrizes que a ind�stria discogr�fica lhe tinha deixado, Common decidiu voltar com um dos seus melhores trabalhos. Be tem, do princ�pio ao fim, tudo aquilo que de bom existe no hip-hop. Tem os beats escolhidos e feitos a dedo por Kanye West (com dois de Jay Dee), beats que cont�m anos e anos de m�sica, especialmente negra, e rimas de um dos melhores MCs que o hip-hop actual tem para oferecer. Hist�rias da rua, hist�rias de um s�bio que tem algo para contar e que foge � santa trindade armas-dinheiro-gajas, e a Hist�ria da ra�a negra. Be � um triunfo, mesmo que n�o adicione nada, e � como uma revis�o estupidamente bem feita de toda a mat�ria dada. R.N.
7
Six Organs of Admittance School of the Flower
Drag City
Foi logo no início do ano que School of the Flower foi lan�ado, e logo desde ent�o ficamos a saber que nos ia acompanhar at� ao final. Ben Chasny fez mesmo a quest�o de visitar-nos durante 2005 para comprovar a pertin�ncia da sua m�sica. School of the Flower � mais um apanhado de temas inspirados pela gra�a de senhores como Robbie Basho e John Fahey e um dos melhores de sempre com o cunho Six Organs of Admittance. Vai directamente para o mesmo patamar de discos como Compathia e For Octavio Paz. E a acreditar nas palavras de Ben Chasny, School of the Flower poder� ser mesmo o �ltimo de uma fase que pode muito bem ser deixada no passado. A.G.
6
Electrelane Axes
Too Pure
� poss�vel que nunca a express�o "montanha-russa" possa vir a ser usada com maior propriedade do que para descrever os altos e baixos r�tmicos e harm�nicos de "Axes". Depois da experi�ncia pop de "The Power Out", as quatro mulheres de Brighton regressaram a um registo quase 100 por cento instrumental, que volta a reclamar o carimbo p�s-rock do �lbum de estreia, "Rock It to the Moon". Gravado ao vivo no est�dio pelo "guru" Steve Albini, � imposs�vel ficar indiferente aos riffs demolidores e �s interven��es do �rg�o Farfisa. Krautrock? Pode ser um bom princ�pio para uma defini��o de Axes, mas por ali tamb�m passa improvisa��o, jazz, rock puro e duro, passagens dan��veis e, sobretudo, um grande talento de composi��o. J.P.B.
5
LCD Soundsystem LCD Soundsystem
DFA/EMI
James Murphy talvez tenha sido o homem do ano de 2005. Foram anos e anos de experi�ncia noutras bandas e de trabalho com outros artistas para fazer com que o seu pr�prio projecto - LCD Soundsystem - chegasse onde est� hoje. "Tudo" come�ou com "Losing My Edge", o single de 2003, que, por cima de um beat simples, ultraviciante e repetetivo, tinha Murphy a cantar-falar sobre a melomania enciclop�dica de hoje em dia. Depois seguiu-se uma sequ�ncia de singles brilhantes (compilados no 2.� CD de LCD Soundsystem) que jamais conseguir�o ser igualados. Nessa medida, LCD Soundsystem � um fracasso, j� que n�o consegue chegar aos calcanhares dos singles. Mas tomara todos os fracassos serem assim, do "solo" de cowbell de "Daft Punk Is Playing At My House" ao pastiche de Brian Eno que � "Great Release", passando pela pop beatlesca de "Never As Tired As When I'm Waking Up" (que mostra uma faceta mais can�onetista de Murphy), LCD Soundsystem talvez seja o maior fracasso-triunfo do ano. R.N.
4
Sleater Kinney The Woods
Sub Pop
� o motivo que leva muitas nucas a desenvolver um agravante estado de ins�nia: nunca um homem, por mais perspicaz que seja, equaciona todas as probabilidades ao imenso misterioso feminino. As Sleater Kinney desenvolveram uma inesperada segunda pele cujos poros respiram frescura em termos de estruturas desafiantes e uma agigantada Corin Tucker a definir um novo tecto para o alcance voc�lico de outra mulher que n�o Diamanda Gal�s. No disco que marca a transfer�ncia para a Sub Pop, as Sleater Kinney cometem o arrojo de gravar o melhor trabalho desde Dig Me Out e provam que todos os f�s impacientes de Pearl Jam estavam errados (e n�o as deviam ter assobiado enquanto cumpriam as primeiras partes dos concertos do colectivo liderado por Vedder). Caso ainda restem d�vidas quanto ao estatuto superior do trio de Olympia, e o �pico �Let�s Call it Love� ser� mais do que suficiente para deixar o termo riot grrrl �rf�o de mais uma banda a que se viu for�osamente associado. M.A.
3
Sufjan Stevens Illinois
Asthmatic Kitty
Como � que algu�m que n�o tem liga��o nenhuma a um estado escreve uma obra-prima �pica sobre o mesmo? Pior, como � que � poss�vel encapsular toda a hist�ria e a vida de um estado em 70 e poucos minutos? N�o sabemos, mas Sufjan Stevens f�-lo - e com grandes can��es - em Sufjan Stevens Invites You To: Come On, Feel the Illinoise!. Nomes de can��es enormes, instrumenta��o tremendamente diversa, uma orquestra onde a maior parte dos instrumentos � tocada por Sufjan, um sentido de humor brutal e um dom surreal para observar e narrar a vida das pessoas da Am�rica profunda � o que existe aqui. Mesmo que este seja s� o segundo da s�rie 50 States, e mesmo que n�o volte a haver outro, Sufjan Stevens j� nos deixou duas obras-primas, uma sobre o Michigan e outra sobre o Illinois. E, apesar da imensa sobre-exposi��o, "Chicago" continua a can��o que era na primeira vez que a ouvimos: um cl�ssico. R.N.
2

Andrew Bird The Mysterious Production Of Eggs
Fargo
Era uma vez um violinista cl�ssico de forma��o a quem um dia ter� passado uma ideia pela cabe�a: "E que tal se eu tentasse fazer a can��o pop perfeita?". Bem que se pode resumir assim o ide�rio de Andrew Bird, que ap�s uma s�rie de �lbuns a solo nada dispiciendos atingiu o topo da forma com The Mysterious Production Of Eggs, um n�tido exemplo do muito que se consegue fazer com pouco, ou mesmo do lema "quiet is the new loud". Chegando perto de um registo folk, Bird ainda engrandece as composi��es com harmonias de violino, alguma ironia nas letras e um registo vocal quase perfeito. E depois h� que n�o esquecer o seu assobio: haver� algo mais pop do que uma melodia assobi�vel? J.P.B.

1
Animal Collective Feels
Fat Cat
J� haviam feito mossa em 2004 com Sung Tongs (que arrecadou o pr�mio Bodyspace para melhor disco do ano em 2004) e agora voltam a faz�-lo com Feels. Os animais soltaram-se de vez e agora andam um pouco por todo o lado. A floresta, digamos, � tamb�m diferente. Menos ac�stica, mais rock, igualmente tribal, menos folk, mais el�ctrica. Uma primeira parte mais irrequieta que a segunda, um todo que impressiona pela coer�ncia e pela capacidade de manter o interesse e a exalta��o sempre l� em cima. �Grass� e �Banshee Beat� ser�o os momentos de maior �xtase, mas n�o s�o casos raros. Feels � uma corrente impar�vel, um acto de magia que deve ser contemplado do início ao fim, sem se perder um ou outro truque; Feels �, deixemo-nos de rodeios, sentimento. Pozinhos m�gicos, uma certa esperan�a que se nota a cada segundo, um longo e eterno c�ntico � inf�ncia e ao amor. A juntar a tudo isto, os muito falados concertos em Portugal ajudaram a cimentar a ideia que os Animal Collective s�o uma das bandas mais importantes e excitantes do momento. E bem. Em Feels e em todo o lado, os Animal Collective empurram a pop para o futuro, e d�o-nos algo novo em que acreditar. A.G.

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