DISCOS
The Vicious Five
Up On The Walls
· 08 Out 2005 · 08:00 ·
The Vicious Five
Up On The Walls
2005
Loop Recordings
Sítios oficiais:
- Loop Recordings
Up On The Walls
2005
Loop Recordings
Sítios oficiais:
- Loop Recordings
The Vicious Five
Up On The Walls
2005
Loop Recordings
Sítios oficiais:
- Loop Recordings
Up On The Walls
2005
Loop Recordings
Sítios oficiais:
- Loop Recordings
O tradutor é um traidor. Pois já é hora de se assumir como tal. Assim acontecia na Roma Antiga que fez de Nero o primeiro dos piromaníacos a garantir a eterna simpatia do rock. Entre um e outro bago de uva siciliana, era apenas mais um que acordava com a boca cheia de formigas. Soam as doze horas na capital mexicana e, subitamente, aquele que acariciava a arma passa a ter o metal frio a acariciar-lhe a nuca. Pela hora da siesta, o dominante encontra-se tão embriagado em mescal que nem sequer escutou o estalar do pé zapatista sobre o galho da calmaria. Como é rude o despertar de quem acorda algemado perante as chamas. Os Vicious Five já tinham alertado para os riscos do sono sedentário: ”Vai brincando às casinhas, enquanto eu brinco às bombinhas”. A mutação pode servir de instrumento à conspiração.
Não se conhece um só riff absoluto às músicas do quinteto lisboeta, nem tão pouco Up On The Walls será um disco fixado num dogma musical. Verificam-se revoluções internas a onze faixas que, ainda que convictas, não se sentem obrigadas a uma compostura de convento. “Fallacies and Fellatio”, por exemplo, serena a erecção carnuda das suas guitarras com a farsa de um refrão muito mais perigoso que o seu lúdico “uh oh oh oh” possa fazer crer. Também Monica Lewinsky exibia uma franja simpática e um sorriso de campónia aos canais de notícias, mas sabotou a seriedade de todo um sistema democrático. Imperturbável somente a vigilância militante de quem não teme vir a ocupar uma tribuna de manutenção fragilizada pela incompetência. Luca Brasi dorme com os peixinhos. Bem aconchegadinho a todos os discos periféricos que agora soam a obsoletos quando comparados ao primeiro longa-duração dos Vicious Five.
Os Vicious Five de Up On The Walls continuam a ser a mesma pandilha de mentirosos, patifes, pulhas, vilões, amigos do alheio, esquerdistas foliões com a cabeça a prémio por tostões. E se de alguma caderneta empoeirada constar lugares vagos, os Vicious Five podem também ser os Jr. Ewing, AC/DC, Division of Laura Lee, os Blood Brothers, The Plot to Blow Up the Eiffel Tower (sem químicos inalados), metade das bandas produzidas por Alex Newport, Detroit Rock City contemplada a partir do alcatrão ainda quente. Por cada adicional comparação, os Vicious Five agradecem a bala no coração.
Pode até parecer cliché, mas Up On The Walls será o disco deste ano que mais alto projecta o eterno lema hardcore “Sangue, suor e nada de lágrimas”. O sangue escorre a cada vez que as guitarras (baionetas nas mãos de Edgar Leito e Bruno “Gazela” Cardoso) decepam a galopante armada rítmica. O suor é praticamente omnipresente no universo dos Vicious Five e escorre abundantemente ao apelo de Quim Albergaria, assim que o refrão de “Your Mouth Is a Guillotine” repete um incendiário “Bring it On” com se fosse “Cresce para mim. Acorda para o que trago até ti.”. As lágrimas alheias serão as extorquidas ao crocodilo EMO que, mais preocupado com o equilíbrio do penteado, nem deu conta do punhal que lhe cortou os olhos para fazer de “Lipstick #5” um momento mais intensamente dedicado às relações menino-menina.
Essencialmente, Up On The Walls frisa subversivamente uma verdade que está ao alcance da remoção de um “r”: a revolução comporta a evolução. Nada é sagrado e assim também acontece com a puberdade eléctrica dos Vicious Five que, agora, passa a ser maturidade. Mediante a consolidação de uma fórmula que já era letal em The Electric Chants of the Disenchanted, é admissível que os Vicious Five cometam a ousadia de tomar as rédeas da erosão e derrubem o que resta ao relevo dos rostos petrificados e inconsequentes suspensos no Monte Rushmore (repare-se na contra-capa de Up On The Walls. Quando tudo o resto falhou, porque não tentar a autonomia que a euforia permite? O mundo necessita de mais entertainers que façam frente ao prejudicial divertimento proporcionado outrora por Ronald Reagan e mais recentemente por George Bush ou pelo nosso Alberto João Jardim. "Só será revolução se houver diversão" ganha um novo sentido. As circunstâncias complementam-se em Up On The Walls, que decerto constará bem alto nos murais edificados em memória de 2005.
Miguel ArsénioNão se conhece um só riff absoluto às músicas do quinteto lisboeta, nem tão pouco Up On The Walls será um disco fixado num dogma musical. Verificam-se revoluções internas a onze faixas que, ainda que convictas, não se sentem obrigadas a uma compostura de convento. “Fallacies and Fellatio”, por exemplo, serena a erecção carnuda das suas guitarras com a farsa de um refrão muito mais perigoso que o seu lúdico “uh oh oh oh” possa fazer crer. Também Monica Lewinsky exibia uma franja simpática e um sorriso de campónia aos canais de notícias, mas sabotou a seriedade de todo um sistema democrático. Imperturbável somente a vigilância militante de quem não teme vir a ocupar uma tribuna de manutenção fragilizada pela incompetência. Luca Brasi dorme com os peixinhos. Bem aconchegadinho a todos os discos periféricos que agora soam a obsoletos quando comparados ao primeiro longa-duração dos Vicious Five.
Os Vicious Five de Up On The Walls continuam a ser a mesma pandilha de mentirosos, patifes, pulhas, vilões, amigos do alheio, esquerdistas foliões com a cabeça a prémio por tostões. E se de alguma caderneta empoeirada constar lugares vagos, os Vicious Five podem também ser os Jr. Ewing, AC/DC, Division of Laura Lee, os Blood Brothers, The Plot to Blow Up the Eiffel Tower (sem químicos inalados), metade das bandas produzidas por Alex Newport, Detroit Rock City contemplada a partir do alcatrão ainda quente. Por cada adicional comparação, os Vicious Five agradecem a bala no coração.
Pode até parecer cliché, mas Up On The Walls será o disco deste ano que mais alto projecta o eterno lema hardcore “Sangue, suor e nada de lágrimas”. O sangue escorre a cada vez que as guitarras (baionetas nas mãos de Edgar Leito e Bruno “Gazela” Cardoso) decepam a galopante armada rítmica. O suor é praticamente omnipresente no universo dos Vicious Five e escorre abundantemente ao apelo de Quim Albergaria, assim que o refrão de “Your Mouth Is a Guillotine” repete um incendiário “Bring it On” com se fosse “Cresce para mim. Acorda para o que trago até ti.”. As lágrimas alheias serão as extorquidas ao crocodilo EMO que, mais preocupado com o equilíbrio do penteado, nem deu conta do punhal que lhe cortou os olhos para fazer de “Lipstick #5” um momento mais intensamente dedicado às relações menino-menina.
Essencialmente, Up On The Walls frisa subversivamente uma verdade que está ao alcance da remoção de um “r”: a revolução comporta a evolução. Nada é sagrado e assim também acontece com a puberdade eléctrica dos Vicious Five que, agora, passa a ser maturidade. Mediante a consolidação de uma fórmula que já era letal em The Electric Chants of the Disenchanted, é admissível que os Vicious Five cometam a ousadia de tomar as rédeas da erosão e derrubem o que resta ao relevo dos rostos petrificados e inconsequentes suspensos no Monte Rushmore (repare-se na contra-capa de Up On The Walls. Quando tudo o resto falhou, porque não tentar a autonomia que a euforia permite? O mundo necessita de mais entertainers que façam frente ao prejudicial divertimento proporcionado outrora por Ronald Reagan e mais recentemente por George Bush ou pelo nosso Alberto João Jardim. "Só será revolução se houver diversão" ganha um novo sentido. As circunstâncias complementam-se em Up On The Walls, que decerto constará bem alto nos murais edificados em memória de 2005.
migarsenio@yahoo.com
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