DISCOS
Smog
A River Ain’t Too Much to Love
· 25 Set 2005 · 08:00 ·
Smog
A River Ain’t Too Much to Love
2005
Drag City


Sítios oficiais:
- Drag City
Smog
A River Ain’t Too Much to Love
2005
Drag City


Sítios oficiais:
- Drag City
Um rio não é demasiado para amar. Será? Desde a primeira nota de guitarra, que a pouco e pouco se vai transformando numa melodia e traz uma harmónica do faroeste de "Palimpset", passando pela pergunta "Why is everybody always looking at me like there's something fundamentally wrong? Like I'm a southern bird that stayed north too long", e pela pergunta "Did that rapper rape her?" de "Running the Loping", até aos últimos cartuchos de guitarra, harmónica (podia estar Charles Bronson em pleno Once Upon a Time in the West de Sergio Leone a tocá-la) e bateria marchante de "Let me see the colts", é isto que Bill Callahan tenta provar no décimo segundo álbum de estúdio de (smog) ou Smog (como parece ter voltado a chamar-se este projecto).

Desta feita esqueceu a guitarra eléctrica e outros elementos com que brincou algumas vezes nos discos mais recentes, talvez um reflexo da sua recente relocalização para o Texas. Sim, o estado dos labregos com chapéu de cowboy e a terra do senhor Bush. Aqui é tudo simples, são só as canções, a sua voz, a sua guitarra, um ou outro instrumento, e alguns amigos, na bateria, no piano (a sua querida, doce e bela Joanna Newsom, dona das orelhas mais bonitas de que há memória, cuja voz, se se confrontasse com a de Callahan, daria um dos mais bizarros cruzamentos de sempre), no coro ("Say Valley Maker" é sublime), no violino, sabemos lá mais onde. E, acima de tudo, é tudo bonito e cativante.

Guitarras a repetir padrões circulares, a voz grave e sapiente que ora canta, ora fala, as histórias, tudo isto e pouco mais encontramos neste disco. Mas é suficiente. Há “The Well”, que nos explica, com a ajuda de um violino, que toda a gente tem a sua frase favorita para gritar para dentro de um poço, convidando a ecoar. “Fuck all y’all” e “Hello” são os favoritos. Há uma canção de amor para a sua família, “Rock Bottom Riser”, que começa com o “eu” a dizer que ama a sua mãe, o seu pai e a sua irmã, que comprou uma guitarra só para cantar o amor que tem por eles. É aqui que o novo amor de Callahan toca piano. “I feel like the Mother of the World” faz perguntas sobre a religião. “God is a word and the argument ends there” é a frase perfeita para um ateu. “In the Pines” é uma canção tradicional apropriada (e bem) por Callahan, com direito a assobio.

É sempre o mesmo solitário, o velho, o contador de histórias, honesto, cru e brutal Bill Callahan. É como se o homem tivesse barba, fosse muito velho, vivesse à entrada duma qualquer cidade e contasse a todos os visitantes as suas histórias, à volta da fogueira ou assim. Callahan não olha para trás, para o que fez antes. Longe vai a produção de Jim O’Rourke, agora é só o minimalismo. O que não é assim tão mau. Há Bill Callahan. E isso tem sido suficiente, ao longo de vários anos, para fazer excelentes discos, e este não é excepção. A River Ain’t Too Much to Love é só mais um, é certo, mas mais um destes é sempre bem-vindo.
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
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