Festival Ritek Paredes de Coura 2011
Praia Fluvial do Tabuão
17-20 Ago 2011

Ao terceiro dia, tempo de ver o que se passava no palco Jazz na Relva para apanhar apenas os últimos acordes do concerto de Susana Santos Silva Trio (malditas filas para almoçar na vila). Chegou-nos aos ouvidos que Erlend Øye, a metade engraçadinha dos Kings of Convenience, andava junto do rio a encantar miúdas e a passear de barco. Mas às 18 horas era hora de ir ver se os You can´t Win Charlie Brown se aguentavam a passar para o palco um promissor disco de estreia. E de facto aguentam-se. Mais do que isso, conseguem dar até nova e renovada vida a algumas das canções do disco. E ainda provar que estamos no tempo de regresso do sucesso das bandas com uma porrada de vozes. “Over The Sun/Under The Water”, entoada por muitos, no final, entre a calma e o caos (controlado, vá lá, mas festivo), deixou um óptimo sabor na boca.

Kings of Convenience © Angela Costa

Kings of Convenience © Angela Costa

Depois de um sexteto, dois trios: no palco principal, os Joy Formidable, liderados por Ritzy Bryan, mostraram muita energia mas não muito mais do que isso. No palco secundário, aterraram os mexicanos Le Butcherettes, que remataram mais em força do que em jeito. Deu para abanar a cabeça com ambos, mas não deu para muito mais do que isso. De volta ao palco principal, os ...And You Will Know Us by the Trail of Dead tentaram apagar a imagem menos boa deixada com os últimos discos, mas não conseguiram. Regressaram a terrenos férteis como Source Tags & Codes - ou mesmo antes disso – mas no geral sentiu-se demasiado o peso da inspiração – e até falta de gosto – dos lançamentos mais recentes. Fica a memória de um ou outro momento mais inspirado (“It Was There That I Saw You” foi giro), num concerto morno morninho.

Le Butcherettes © Angela Costa

And You Will Know Us by the Trail of Dead © Angela Costa
E depois vieram os Battles, o curioso caso de uma banda com músicos inventivos, com música desafiante, com actuações intensas mas a quem falta sempre alguma coisa – em disco e ao vivo. Claro que em “Atlas” é tudo uma maravilha, ritmos complexos, percussão impossível, vozes alienígenas, e tudo excitante. Mas “Tonto” já é um tema algo inconsequente e “Ice Cream” não é muito mais do que engraçada. É verdade que ao vivo os Battles, com tanta intensidade, conseguem fazer com que o choque frontal seja potente, mas fica sempre no ar a ideia que o trio podia ser muito mais do que aquilo. A matéria-prima existe, é só moldá-la de outra maneira.

Battkes © Angela Costa
Quem tem tudo muito bem moldado são os Deerhunter de Bradford Cox. Ou por dificuldades técnicas ou a pedido da banda, o som pouco definido – quase lo-fi – que chegou aos ouvidos de todos acabou por fazer justiça ao som dos Deerhunter. Com níveis bastante elevados de volume, os autores de Halcyon Digest entregaram um conjunto de canções acentuadamente rock – mais do que aquilo que se poderia esperar – que foi quase como uma anestesia – elogio – para os ouvidos. Para além do bom gosto musical, Bradford Cox tem ainda bom gosto nas cidades; elogiou o Porto e Lisboa e rematou com uma frase enigmática, a propósito da quantidade de casas abandonadas que viu em ambas: “Portugal is a haunted country”. Deixou saudades.

Deerhunter © Angela Costa

Deerhunter © Angela Costa
E depois chegou um concerto que podia fazer alguma confusão no alinhamento mas que fez perfeito sentido na forma, no feitio, nas cores. Os Kings of Convenience, lentamente, às vezes muito lentamente, encheram o anfiteatro natural de Paredes de Coura com canções trauteadas aqui e ali, às vezes em uníssono, num concerto de magia no ar e emoções à flor da pele. Não é fácil encher um espaço tão grande com um som tão curto. E embora Erlend Øye e Eirik Glambek Bøe tenham tido ajuda na última metade do concerto – altura em que se juntou um baixista e o violetista – ficou sempre subentendido que teriam conseguido aguentar o público todo até ao final até mesmo em pé-coxinho. só terá sido uma surpresa para quem ainda não os viu em palco.

E depois chegou um erro de casting. Marina and the Diamonds mostrou ser, desde logo, o nome deslocado do cartaz do Paredes de Coura 2011. Para além dos atributos bem visíveis de Marina (Lambrini Diamandis, a sério), não se detectaram especiais atributos musicais na sua revisitação dos anos 80 em tudo o que tiveram de medíocre. Não será especialmente lembrada, pelo menos pelas razões mais directamente relacionadas com a música. Felizmente ainda havia Metronomy (no Palco After Hours), uma banda que até sabe ir aos 80s resgatar de lá o que de lá vale a pena. Apesar do som da banda ao vivo ficar um pouco aquém da riqueza sonora conseguida no mais recente The English Riviera, o concerto garantiu alguns momentos de boa fruição. Casos da viciante “The Look” ou “Corinne”. Não foi perfeito (mais uma vez, havia gente a mais na zona do palco), mas foi uma boa forma de encerrar a noite.

Mariana and the Diamonds © Angela Costa

Mariana and the Diamonds © Angela Costa
· 27 Ago 2011 · 22:55 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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