Festival Ritek Paredes de Coura 2011
Praia Fluvial do Tabuão
17-20 Ago 2011

Ah, o sabor agridoce da despedida. Ao fim de quatro dias, fecham-se as cortinas do festival para se abrirem apenas daqui a um ano. Mas ainda havia muito por onde fazer a despedida, dependendo da capacidade física e mental de cada um. O último dia em Paredes de Coura começava no palco secundário com os peixe : avião, que mostraram mais som em palco do que em disco. Mais rock, mais intensos, os peixe : avião apresentaram ainda Madrugada, editado em 2010, assim como novas canções que farão parte de um álbum a editar no futuro. Do que nos foi possível ouvir, os bracarenses estiveram muito bem a defender a sua pop de contornos bem definidos.

Pouco depois, começavam os Linda Martini a entregar canções em que as guitarras têm papel principal na exploração sónica no regresso aos palcos do Festival Paredes de Coura. Fizeram-no dando ao público de mão beijada e com a intensidade que se lhes conhece temas como “Dá-me a Tua Melhor Faca” e “Cem Metros Sereia”, terminando a coisa com crowd surfing do próprio Hélio Morais que se não fugiu do seu próprio entusiasmo em resposta ao entusiasmo do público que recebeu os Linda Martini de braços abertos. Intensidade paga-se com intensidade – e gratidão.

Linda Martini © Angela Costa

Linda Martini © Angela Costa
Havia muito a esperar do concerto de Kurt Vile: sobretudo um banho de folk ora mais rock ora menos rock, atento à tradição mas não em demasiada. A culpa é de Smoke Ring For My Halo, um disco a brincar com a intemporalidade, cheio de grande canções, devotas da canção americana, de Bob Dylan e outras maravilhas que tais. Faltou “Baby´s Arms”, entre outras canções fundamentais, mas ainda assim foi óptimo ver chegar todas aquelas canções enquanto o sol se preparava para ir para outro lugar qualquer e confirmar em Kurt Vile um belíssimo escrito de canções. Não seria nada má ideia que regressasse em breve em nome próprio e numa sala aberta só para si e para as suas canções.

Kurt Vile © Angela Costa
Ao longe pareceu-nos que os Viva Brother e os Two Door Cinema Club tinham pouco de novo para oferecer. Sabemos isso sim que estes últimos foram banhados com uma multidão e que os primeiros tocaram para dezenas. Pouco depois os Mogwai subiam ao palco principal para dar um concerto que, apesar de ser “só instrumental” (como se dizia entre o público), parece ter ido ao encontro das expectativas dos fãs hardcore – e não só. Eles são bons músicos, fazem tudo direitinho, são verdadeiramente intensos (salvo raras excepções), são tão bem intencionados, mas também são ligeiramente aborrecidos. Acontece em “Mogwai Fear Satan” serem mais interessantes mas sobretudo quando recorrem a álbuns mais recentes são apenas competentes. Intensos mas competentes. Mas a ver pela reacção do público, foram uma excelente companhia.

Mogwai © Angela Costa
Para o último concerto do palco principal sentia-se um nervoso miudinho na forma como todos se acotovelavam lá à frente para obter o melhor lugar possível. Afinal de contas, os Death From Above 1979, bestas humanas da força e do caos preparavam-se para voltar a Paredes de Coura onde tinham instalado o pânico há uma data de anos atrás, agora que se reuniram, sem álbum mas com algumas surpresas, para voltar aos palcos e à acção. O que se viu lá, como se esperava, foi uma descarga absurda de riffs (no baixo ou nas teclas, a violência é a mesma) que terá deixado pouca gente indiferente. Levar em cima com You´re a Woman, I´m a Machine passados todos estes anos foi um prazer. Foi preciso dizer ao órgão muscular oco que bombeia o sangue de forma a que circule no corpo que aguentasse. Ah, e foi uma bela forma de fechar Paredes de Coura. Mas não sem antes apanhar os Orelha Negra no último After Hours e em topo de forma na transformação e no bem-tratar de todas as músicas negras: uma viagem e peras, uma doce despedida de um festival de trazer pelo coração durante o ano todo.

Death From Above 1979 © Angela Costa

Death From Above 1979 © Angela Costa

Orelha Negra © Angela Costa
· 27 Ago 2011 · 22:55 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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