Festival Ritek Paredes de Coura 2011
Praia Fluvial do Tabuão
17-20 Ago 2011

No dia de arranque à séria do Paredes de Coura, a primeira banda a subir ao palco principal do festival foram os nova-iorquinos Crystal Stilts que vinham a Portugal apresentar a noise pop encapsulada em In Love with Oblivion, canções cheias de bonitas imperfeições, teclados, guitarras tingidas de ruído e outras coisas deliciosas. Com o sol a bater na cabeça, os Crystal Stilts cumpriram e limparam os ouvidos de quem àquela hora já havia deixado o rio de encantos tamanhos e a verdura circundante. Não foi um concerto incrível, mas foi bom.

Crystal Stilts © Angela Costa
O próximo a subir ao palco principal foi Twin Shadow, impecavelmente estiloso, chapéu na cabeça, guitarra nas mãos, todo de preto. Em aparente estado de graça em Portugal, George Lewis Jr. Veio a Coura defendes as canções do seu álbum de estreia, Forget, editado em 2010, desequilibrado no seu todo, mas com encantos diversos. Mais rock do em que disco, as canções foram surgindo para confirmar que é em “Castles in the Snow” e “Slow” que o dominicano tem concentrado a maior parte do seu feitiço. Agora que os anos 80 estão na moda (o o resto do festival havia de confirmar isso de quando em vez, com mais ou menos sucesso), as canções de Twin Shadow aguentaram-se muito bem em cima de palco. Resta perceber o que aí vem com um potencial segundo disco.

Twin Shadow © Angela Costa
Ainda sem disco editado, mas com enorme falatório por culpa de “Better not stop”, We Trust, o projecto liderado por André Tentugal, coadjuvado por uma espécie de super-grupo que conta por exemplo com Rui Maia (X-wife) ou Gil Amado (Long Way to Alaska), entre outros, mostrou estar a dar passos seguros para funcionar como mandam as regras em cima de palco, agora que está ultrapassado o nervosismo do primeiro concerto – que aconteceu no Milhões de Festa. Só o tempo o dirá. Isso e a recepção do público ao álbum que estará quase a chegar. No mesmo palco secundário, pouco tempo depois, os Esben and the Witch assinaram um dos concertos surpresa do festival. Com um rock bem afiado e negro, não raras vezes entregue ao ruído e à exploração, carregado de percussão pulsante, Rachel Davies liderou vocalmente um trio que se safou à grande na apresentação do álbum de estreia, Violet Cries, editado pela Matador em finais de 2010. Intenso, ruidoso, constantemente no vermelho. Um concerto entusiasmante de uma banda a ter em conta no futuro.

Esben and the Witch © Angela Costa

Esben and the Witch © Angela Costa

Os Blonde Redhead já não são novatos. Assinaram já uma porrada de discos (nem todos bons, diga-se) e havia uma enorme curiosidade em perceber como iriam gerir quase vinte anos de carreira para um público que não parecia assim tão entusiasmado ou conhecedor – pelo menos não de uma forma generalizada. Kazu Makino apareceu, misteriosa, e com ela veio toda a música dos Blonde Redhead, igualmente enigmática, intensa. Com Penny Sparkle ainda fresquinho, o trio optou por saltar de disco em disco e aterrou felizmente em 23, provavelmente o melhor de toda a colheita, e, felizmente, na super-canção “Spring and by Summer Fall”, a melhor que provavelmente alguma vez escreveram. Foi, sozinha, um dos melhores momentos de todo o festival. O que resta da actuação foi quase sempre bastante entusiasmante. Chegou para ficar lá em cima no tope dos melhores concertos do festival até ao final.

Blonde Redhead © Angela Costa

Blonde Redhead © Angela Costa

Menos novatos ainda são os Pulp de Jarvis Cocker, um dos tipos com melhor humor da pop Made in UK. Eram a grande aposta de Parede de Coura 2011, pelo menos tendo em conta a importância do nome em questão. E não desiludiram. Apresentaram um alinhamento em jeito de best of (inevitavelmente, uma vez que não editam um álbum de originais desde We Love Life, em 2001), namoriscaram a pop e o disco, a ironia e as canções de peito cheio e refrões magnânimes. Não esconderam nada. Não terão convencido os indecisos: dos Pulp ou se gosta ou não se gosta. "Do You Remember the First Time", "This Is Hardcore" e "Common People" – todas inevitáveis – lembraram a importância dos Pulp na música britânica das últimas três décadas. A última, mesmo a fechar, lembrou os tomates necessários para bazar sem encores programados. Até para deixar algum suspense no ar. Será que os Pulp ficam por aqui?

Pulp © Angela Costa
Mas ainda havia mais. E não era pouco. A pop dançável de tonalidades tropicais dos vizinhos espanhóis Delorean não podia ter caído melhor como After Hours. Foi assim que pareceu: uma descarga interminável de batidas, vozes e sons baleares. Não é música complexa, mas é um convite interminável à dança. É Happy Mondays, é Panda Bear, entre outras coisas boas, mas com os pés na água, clima tropical e caipirinha na mão. Subiza, o disco da transformação, editado em 2010, foi entregue na perfeição e para delírio generalizado. Uma festa colorida qb. e um final perfeito para a noite que já ia longa. E mais um concerto a seguir directamente para a lista dos melhores do festival.

Delorean © Angela Costa
· 27 Ago 2011 · 22:55 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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