Seria de esperar que um tipo que se apresenta ao mundo como O Manipulador nos entregasse um disco repleto de variáveis geométricas, ritmícas abstrusas e abstractas e camadas feéricas de ruído industrial, numa espécie de cruzamento entre a matemática obscura e as tonalidades físicas de um qualquer Author & Punisher dos pobres. Mas não: Doppler é um álbum que explora, sobretudo, o psicadelismo na sua vertente rock. Ou seja, O Manipulador manipulou-nos as expectativas que tínhamos, pelo que se calhar o nome até faz sentido. Mas continuando. O facto de termos sido surpreendidos de uma forma que não a que esperávamos não comprometeu o que se pudesse pensar de Doppler que, em última análise e no mínimo dos mínimos, é um óptimo álbum para matar saudades das guitarradas e daquele género de ecos que nos implanta ideias no cérebro. E que até dá para adaptar aos tempos modernos: "If You Ruled The World" parece ter sido escrita a pensar nos idiotas que enchem caixas de comentários de jornais. And all would be so clean..., como as mãos têm que estar. (Lavem-nas, porra.)

Só não dá para seguir os conselhos de "Downtown", porque em pandemia os passeios pela baixa estão fora de questão - mesmo que estejamos cansados de nos masturbarmos o que, convenhamos, é uma enorme mentira durante essa mesma pandemia e em especial se viverem sozinhos. A surpresa sonora maior reside em "Baby, I Don't Feel So Well" e na sua melodia elástica, ao passo que o restante disco vai crescendo em nós consoante as escutas - e o volume em que estiver, para fazer um ligeiro pandã com o efeito que lhe faz nome. Altamente recomendável.