DIA 3 |
09/08
David
Fonseca David
FonSECA?
O português que
cantou no maior número de festivais deste 2003
chegou à Zambujeira do Mar com um concerto
maçador que começa a precisar de nova
cara. Num concerto que teve o momento mais alto a
pender, naturalmente, sobre “Someone That Cannot
Love” mas onde também se destacou o novo
single “The 80’s”, foi um vê-se-te-avias
de temas chatos, que aborreceram uma audiência
que estava ali para ouvir... “Someone That Cannot
Love”… e pouco mais. Além disso,
David Fonseca apresentou duas versões para
temas dos Pixies e The Cars num palco que ele bem
conhece. Foi ali que os Silence 4 atingiram um dos
seus maiores momentos rumo aos mais de 200 000 discos
vendidos.
Apesar de tudo isto, a actuação do ponto
de vista técnico foi consistente, mostrando
um bom rol de músicos de suporte onde se destaca
Rita Pereira (ex-Atomic Bees) ao piano. A escolha
e ordenação do alinhamento permitiu
um encadeamento bem trabalhado e consequentemente
uma estrutura de concerto (do ponto de vista dos picos
energéticos) mais ou menos conseguida, mesmo
que pouco ambiciosa. TG
Beth
Orton "Desculpem
lá, mas o álcool está-me a descer
à alma"
A noite estava estranha.
Arrefecera e tudo à minha volta era nevoeiro e faces
desfocadas. Porém, a de Beth Orton estava bem acessível
aos meus sentidos. Figura franzina, meio maria-rapaz
de voz única e guitarra em punho, Beth movimenta-se
no palco de forma impressionante. Por trás, a acompanhá-la,
alguns amigos tocam cordas (um contrabaixo, um violino,
um violoncelo e uma guitarra) e uma bateria, procurando
engrandecer os simples e singelos temas da cantautora
folk britânica.
Coube, assim, a Beth Orton a difícil tarefa de enfrentar
um público que mal a conhecia, a meio do cartaz de
uma noite que pedia movimento e cor. Podia ter descambado
o acto quando, depois de executar um tema, lançou
um efusivo «gracias» à assistência. Pediu desculpa
e explicou que estava um bocado confusa. A cerveja
consumida durante a prestação terá contribuído certamente
para este pequeno equívoco. O momento infeliz foi,
de imediato, esquecido. Afinal as coisas não lhe estavam
a correr nada mal. Cada vez mais público ia abanando
a anca e entoando os refrões dos temas mais emblemáticos
da carreira da cantora como o descontraído «She Cries
Your name», o derradeiro e mágico «Central Reservation»
ou o magnífico «Stolen Car». No entanto, terá sido
«Mount Washington» - do último álbum, Daybreaker - o momento mais poderoso e intenso da actuação, quando
Beth e companhia, em delírio, arriscaram terminar
o tema em distorção rock. Momentos menos interessantes
também os houve. A música de Beth Orton não é para
todos e nem sempre funciona da melhor forma. «Galaxy
Of Emptiness » soou algo enfadonha, é certo, mas,
apercebendo-se de que esta não era a direcção acertada
para aquele momento e espaço, Beth atacou os temas
mais descontraídos de Central Reservation.
Pena que pérolas como «Stars All Seem To Weep» e «This
One’s Gonna Bruise» não tenham tido espaço ali. Algo
seria diferente. Possivelmente uma Aula Magna lhes
desse espaço e tempo para respirarem.
Assim sendo, e apesar daquele palco ser demasiado
grande para Beth, a progressão da actuação fez constatar
que, paulatinamente, o público se foi deixando levar,
descontraidamente, pelos sons balsâmicos vindos do
palco. No final também Orton estaria mais solta. Foi,
no entanto, apenas um concerto simpático. TC
Morcheeba
Competentes
mas não descarados
Os
Morcheeba foram os segundos Jamiroquai, na medida
que tinham o público já conquistado, conhecedor do
repertório e ansioso por entoar os sucessos da banda.
Sem surpreenderem (em Paredes de Coura estiveram a
melhor nível), mostraram-se uma banda profissional,
bem rodada, seguríssima, com Skye Edwards mostrando
toda a sua sensualidade e simpatia. Cada vez mais
próximo do universo pop, a actuação primou mais pela
empatia com o público do que propriamente pela qualidade
musical. Houve tempo para uma versão de Neil Young,
e também houve o inevitável “Rome Wasn’t Build In
a Day”, já em encore. Um triunfo, mesmo num concerto
programado ao milímetro e sem qualquer risco. MM
Skin
Besta de palco em performance enraivecida
Faltava
ainda libertar o touro em forma de mulher para encerrar
mais uma noite de actuações no palco
principal. Skin ocupou a arena do Sudoeste para uma
apresentação carregada de testosterona
em doses mais substanciais do que de estrogénio.
Exercício redundante será afirmar que
a antiga voz dos Skunk Anansie encheu todos os cantos
que havia para ocupar naquele palco, chegando a assediar
um assistente que por lá se encontrava. Em
pleno direito, revisitou momentos importantes daquela
formação como ‘Hedonism’,
‘Brazen’ e ‘You’ll Follow
Me Down’, dedicando o resto da performance ao
alinhamento da sua estreia em nome próprio
“Fleshwounds”. Como se não bastassem
a melomania da sua prestação a solo
e a fúria que se desprende do corpo e da voz.
Que não deixam indiferentes apoiantes nem delatores.
Foi uma actuação muito forte, ainda
que soe, no conjunto e à distância de
uma semana, um pouco a mais do mesmo. HG
Chicks
on Speed Electroclash
do dia seguinte
O
trio feminino alimenta-se da negação
do rock pela antítese estilística e
desconstrucionista, mas aproxima-se do género
sem guitarras mas com atitude. O tema ‘We Don’t
Play Guitars’ serve de base de sustentação
a um manifesto multimédia contra o conservadorismo
da pop de cifrões. A imagem é quase
tudo. Contra a tela colocada por detrás delas
eram disparadas imagens caseiras ou videogravadas
com alegorias visuais que centrifugavam tudo, desde
o mundo da moda à nota de dólar americano.
Registavam também aparições em
nome próprio e de Peaches, espécie de
matriarca do electroclash transcontinental. De resto,
era atentar nos adereços que serviam de vestuário,
nos instrumentos de cartão, na combinação
de veludo e plástico, na imagética vaginal.
E deglutir a marcha sónica e os ensurdecedores
espectros de voz. Fulgurante a prestação
das Chicks on Speed no pequeno palco Planeta Sudoeste. HG
DIA 3 |