DISCOS
Hyetal
Broadcast
· 30 Nov 2011 · 15:55 ·

Hyetal
Broadcast
2011
Black Acre
Sítios oficiais:
- Hyetal
- Black Acre
Broadcast
2011
Black Acre
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- Hyetal
- Black Acre

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2011
Black Acre
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Black Acre
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Primeiro álbum do músico de Bristol dá resposta digna a todo o hype em seu redor.
Uma das armadilhas mais frequentes em campos mais ou menos tangenciais à música de dança é conseguir dar uma sequência digna a todo o buzz inflacionado por dois ou três singles brilhantes, quando chega a altura de arriscar o formato longa duração. Em tempos recentes, basta pensar como o Underwater Dancehall do Pinch se refugiou de modo sonolento nas premissas de “Qawwali” ou em Great Lenghts do Martyn como uma pálida sombra de malhas como “Broken” ou “All I Have is Memories” (Ghost People a repor a dignidade?). Isto sem entrar a fundo na escavação nevrálgica do falhanço de nomes vindos do Jungle, da House e demais géneros club-friendly. A lista é infinita. Usando as duas referências acima como forma de contextualizar de modo lato o aparecimento de Hyetal no seio da viragem pós-dubstep para o confuso conceito do UK Bass, também Broadcast jogava com as expectativas de um breve passado glorioso.
Tendo dado os primeiros passos no ressaca de um dubstep em modo auto-fágico, David Corney (nome verdadeiro do músico de Bristol) foi-se continuamente demarcando da militância das tarolas quebradas e dos sub-graves, para se acercar de uma linguagem personalizada onde as memórias dos anos 80 eram revistas à luz da música britânica made in UK. As comparações frequentes a Miami Vice, ao Prince ou a alguma melancolia pré-IDM a contraporem as associações a gente menor como o Peverelist ou Shortstuff, sem com isso entrar pela norma rehash que anda a dinamitar a memória colectiva. Uma ascensão discreta das boas impressões deixadas com Neon Speech até a essa malha indescritível de linda que é a “Phoenix” e que deixou expectativas quase intangíveis para o álbum de estreia.
Quando saiu em Abril, “Phoenix” estava ainda demasiado presente para que Broadcast se afirmasse como um objecto de valor. Com os recursos e tiques que fizeram dessa canção algo tão monumental a incidirem com demasiada frequência um pouco por todo o lado, acabou por ser prematuramente chutado para canto com aquela esperança ténue de repescagem quando houvesse tempo/disposição/cabeça para tal. Aquela tesão de mijo que rapidamente dá em nada e que só o necessário distanciamento temporal permite refrear o suficiente para que se possa ouvir sem entrar pela justaposição mesquinha. Algo que só agora veio a acontecer, numa altura em que os necessários balanços levam a uma escavação mais consciente.
Concluindo, fui injusto para com Broadcast. Apesar de ser inegável a insistência nas batidas mergulhadas em reverb e nos sintetizadores de néon, existem demasiadas ideias ao longo de Broadcast para que este não seja meramente aquele amontoado de variações sobre a “Phoenix” que se previa e que, em abono da verdade, era sugerido com a, ainda assim fascinante, “Island Diamonds”. Para todos os efeitos, ambas estão presentes aqui, logo após a entrada planante com “Ritual” a apontar para uma tonalidade mais sorumbática que virá a ter repercussão ao longo do disco. Uma nota de sintetizador em escalada triunfal (pense-se na entrada da “Money For Nothing” minus azeite) que se desvanece nas profundezas do baixo e de uma batida soterrada, antes de se enredar num harmónico luminoso e vozes baças. Aquilo que se pede a uma malha de entrada.
Esse lado soturno, que tem também servido de identidade para a mediania recente do Zomby ou do Sully, torna-se particularmente explícito em “Dime Piece”, “Boneyard” e no final com a reveladora “Black Black Black”. A primeira suspende-se numa descida cavernosa do baixo para se ir adensando às custas de ecos e rendilhados de sintetizador em choque benigno, enquanto “Black Black Black” conta com a voz da Alison Garner para uma recuperação do som de Bristol por via da realidade pós-dubstep em cadência hermética, como que a fechar o círculo iniciado com “Ritual”. “Boneyard” vai alimentado um 4/4 escorreito de sons alienantes para desembocar num faux-vibrafone em melodia circular. Descendência mais ou menos discreta da house que em “Searchlight” é revelada sem pruridos e com sample de voz eufórica, num paralelo mais paranóico com a sensualidade de Velour (projecto de Corney com o Julio Bashmore).
“Transmission” e “The Chase” são dois interlúdios a revelar que o Jon Harvell e o John Carpenter são (quase) sempre referências de valor, enquanto “Beach Scene” é tangencial a “Phoenix” (omnipresente) no uso da cadência da “I Would Die 4 U” para a transmutar numa praia sintética, onde o tropicalismo é sujeito ao filtro plástico do CSI : Miami. A necessária diversão. Desvios subtis a uma fórmula reconhecida que permitem que Broadcast não se venha a transformar num marasmo tépido, em constante labuta sobre os seus méritos. Apesar de uma coerência demasiado linear, Broadcast não se deixa adormecer, e desviando-se continuamente do efeito papel-de-parede com um uso inteligente de todo o manancial tecnológico consegue superar a difícil tarefa de construir um álbum de modo perfeitamente digno. Mesmo que tenha esperado uns meses para me aperceber disso.
Bruno SilvaTendo dado os primeiros passos no ressaca de um dubstep em modo auto-fágico, David Corney (nome verdadeiro do músico de Bristol) foi-se continuamente demarcando da militância das tarolas quebradas e dos sub-graves, para se acercar de uma linguagem personalizada onde as memórias dos anos 80 eram revistas à luz da música britânica made in UK. As comparações frequentes a Miami Vice, ao Prince ou a alguma melancolia pré-IDM a contraporem as associações a gente menor como o Peverelist ou Shortstuff, sem com isso entrar pela norma rehash que anda a dinamitar a memória colectiva. Uma ascensão discreta das boas impressões deixadas com Neon Speech até a essa malha indescritível de linda que é a “Phoenix” e que deixou expectativas quase intangíveis para o álbum de estreia.
Quando saiu em Abril, “Phoenix” estava ainda demasiado presente para que Broadcast se afirmasse como um objecto de valor. Com os recursos e tiques que fizeram dessa canção algo tão monumental a incidirem com demasiada frequência um pouco por todo o lado, acabou por ser prematuramente chutado para canto com aquela esperança ténue de repescagem quando houvesse tempo/disposição/cabeça para tal. Aquela tesão de mijo que rapidamente dá em nada e que só o necessário distanciamento temporal permite refrear o suficiente para que se possa ouvir sem entrar pela justaposição mesquinha. Algo que só agora veio a acontecer, numa altura em que os necessários balanços levam a uma escavação mais consciente.
Concluindo, fui injusto para com Broadcast. Apesar de ser inegável a insistência nas batidas mergulhadas em reverb e nos sintetizadores de néon, existem demasiadas ideias ao longo de Broadcast para que este não seja meramente aquele amontoado de variações sobre a “Phoenix” que se previa e que, em abono da verdade, era sugerido com a, ainda assim fascinante, “Island Diamonds”. Para todos os efeitos, ambas estão presentes aqui, logo após a entrada planante com “Ritual” a apontar para uma tonalidade mais sorumbática que virá a ter repercussão ao longo do disco. Uma nota de sintetizador em escalada triunfal (pense-se na entrada da “Money For Nothing” minus azeite) que se desvanece nas profundezas do baixo e de uma batida soterrada, antes de se enredar num harmónico luminoso e vozes baças. Aquilo que se pede a uma malha de entrada.
Esse lado soturno, que tem também servido de identidade para a mediania recente do Zomby ou do Sully, torna-se particularmente explícito em “Dime Piece”, “Boneyard” e no final com a reveladora “Black Black Black”. A primeira suspende-se numa descida cavernosa do baixo para se ir adensando às custas de ecos e rendilhados de sintetizador em choque benigno, enquanto “Black Black Black” conta com a voz da Alison Garner para uma recuperação do som de Bristol por via da realidade pós-dubstep em cadência hermética, como que a fechar o círculo iniciado com “Ritual”. “Boneyard” vai alimentado um 4/4 escorreito de sons alienantes para desembocar num faux-vibrafone em melodia circular. Descendência mais ou menos discreta da house que em “Searchlight” é revelada sem pruridos e com sample de voz eufórica, num paralelo mais paranóico com a sensualidade de Velour (projecto de Corney com o Julio Bashmore).
“Transmission” e “The Chase” são dois interlúdios a revelar que o Jon Harvell e o John Carpenter são (quase) sempre referências de valor, enquanto “Beach Scene” é tangencial a “Phoenix” (omnipresente) no uso da cadência da “I Would Die 4 U” para a transmutar numa praia sintética, onde o tropicalismo é sujeito ao filtro plástico do CSI : Miami. A necessária diversão. Desvios subtis a uma fórmula reconhecida que permitem que Broadcast não se venha a transformar num marasmo tépido, em constante labuta sobre os seus méritos. Apesar de uma coerência demasiado linear, Broadcast não se deixa adormecer, e desviando-se continuamente do efeito papel-de-parede com um uso inteligente de todo o manancial tecnológico consegue superar a difícil tarefa de construir um álbum de modo perfeitamente digno. Mesmo que tenha esperado uns meses para me aperceber disso.
celasdeathsquad@gmail.com
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