DISCOS
Gutevolk
Tiny People Singing Over the Rainbow
· 21 Mar 2007 · 07:00 ·
Gutevolk
Tiny People Singing Over the Rainbow
2007
Noble


Sítios oficiais:
- Gutevolk
- Noble
Gutevolk
Tiny People Singing Over the Rainbow
2007
Noble


Sítios oficiais:
- Gutevolk
- Noble
A Noble tropeça ao repetir-se em mais um disco para assimilação rotineira demasiado colado aos dias do ano transacto.
Muito mais legitimo é advertir um puto pelos distúrbios provocados do que pela distracção ou silêncio que o alheia do momento. Partindo do princípio que equivale a defeito o traço do miúdo que provoca os primeiros e é apenas marca de feitio a que alua ou torna distante o outro. Do mesmo modo que um qualquer compromisso para com a ternura impede de condenar a Noble por persistir no mesmo tipo de discos dóceis que são como búzios coloridos adaptados à função de caixa de música, objectos resultantes da sua contínua especialização em frisar a candura e unicidade das ocorrências rotineiras que se captam como polaroids afectivas. Muito mais difícil é esbofetear o Gato das Botas do segundo Shrek no preciso momento em que força as lágrimas ao olhar felino.

Basicamente, o veículo Gutevolk – conduzido pela alienígena Hirono Nishiyama – reivindica para a feitura de Tiny People Singing Over the Rainbow esse direito nato dos japoneses a agirem de forma deliberadamente graciosa, infantil e ingénua e a repercutir tudo isso nos sonhos pop depois tornados discos de dedo indicador apontado ao céu. Sobrando sempre a ideia de que, com alguma sorte, tudo lá vai - tal como simbolizada na pata direita que erguem os adereços caseiros Maneki Neko (aqueles gatos kitsch em porcelana). Tiny People Singing Over the Rainbow aparece, para já, inserido na linhagem de Gutevolk como lógica sequela de The Humming of Tiny People, intermediada pelo EP Twinkle lançado pela nova-iorquina Happy. Parte também insuflado pela bênção oferecida por Nobukazu Takemura (que convidara Hirono para a sua Childisc e para contribuir vocalmente nos seus discos) e Takagi Masakatsu, e pela coadjuvação técnica garantida por um Kazumasa Hashimoto, músico da casa, cuja presença se encontra demasiadamente denunciada nos arranjos de embalar derivados do seu excelente Gillia, lançado o ano passado, e aqui refogados e integrados de um modo que suscita alguma suspeição.

Temos, pois, pura Noble cinzelada como matéria auto-suficiente, a nível de fórmulas e soluções estéticas, trabalhada ao abrigo predominante da pop aveludada e electrónica confeccionada como salada de frutas (de que foram pioneiros os Yellow Magic Orchestra e que revitalizou Cornelius). O encadeamento é o esperado: tradicional despertar cognitivo de perfume a bossanova futurista e “orientalizada” em “Portable Rain”, anti-gravidade manipulada por voz carregada de efeitos e piano reluzente em “Dream Walker”, scat sussurrado e um saudosismo sincopado à moda da Ninja Tune firmemente dispostos ante a erupção de “Ao To Kuro”, algo muito próximo de uma Bebel Gilberto elegantemente remisturada e de olhos semi-cerrados em “Planetarium”.

Em equipa que ganha não se mexe, mas Tiny People Singing Over the Rainbow não acrescenta virtualmente nada ao que ofereceu a label japonesa durante o ano passado. Esperemos que este represente o último eco daquilo que a Noble possa silenciar e deixar armazenado em 2006.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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