Muito mais legitimo Ă© advertir um puto pelos distĂșrbios provocados do que pela distracção ou silĂȘncio que o alheia do momento. Partindo do princĂpio que equivale a defeito o traço do miĂșdo que provoca os primeiros e Ă© apenas marca de feitio a que alua ou torna distante o outro. Do mesmo modo que um qualquer compromisso para com a ternura impede de condenar a Noble por persistir no mesmo tipo de discos dĂłceis que sĂŁo como bĂșzios coloridos adaptados Ă função de caixa de mĂșsica, objectos resultantes da sua contĂnua especialização em frisar a candura e unicidade das ocorrĂȘncias rotineiras que se captam como polaroids afectivas. Muito mais difĂcil Ă© esbofetear o Gato das Botas do segundo Shrek no preciso momento em que força as lĂĄgrimas ao olhar felino.
Basicamente, o veĂculo Gutevolk â conduzido pela alienĂgena Hirono Nishiyama â reivindica para a feitura de Tiny People Singing Over the Rainbow esse direito nato dos japoneses a agirem de forma deliberadamente graciosa, infantil e ingĂ©nua e a repercutir tudo isso nos sonhos pop depois tornados discos de dedo indicador apontado ao cĂ©u. Sobrando sempre a ideia de que, com alguma sorte, tudo lĂĄ vai - tal como simbolizada na pata direita que erguem os adereços caseiros Maneki Neko (aqueles gatos kitsch em porcelana). Tiny People Singing Over the Rainbow aparece, para jĂĄ, inserido na linhagem de Gutevolk como lĂłgica sequela de The Humming of Tiny People, intermediada pelo EP Twinkle lançado pela nova-iorquina Happy. Parte tambĂ©m insuflado pela bĂȘnção oferecida por Nobukazu Takemura (que convidara Hirono para a sua Childisc e para contribuir vocalmente nos seus discos) e Takagi Masakatsu, e pela coadjuvação tĂ©cnica garantida por um Kazumasa Hashimoto, mĂșsico da casa, cuja presença se encontra demasiadamente denunciada nos arranjos de embalar derivados do seu excelente Gillia, lançado o ano passado, e aqui refogados e integrados de um modo que suscita alguma suspeição.
Temos, pois, pura Noble cinzelada como matĂ©ria auto-suficiente, a nĂvel de fĂłrmulas e soluçÔes estĂ©ticas, trabalhada ao abrigo predominante da pop aveludada e electrĂłnica confeccionada como salada de frutas (de que foram pioneiros os Yellow Magic Orchestra e que revitalizou Cornelius). O encadeamento Ă© o esperado: tradicional despertar cognitivo de perfume a bossanova futurista e âorientalizadaâ em âPortable Rainâ, anti-gravidade manipulada por voz carregada de efeitos e piano reluzente em âDream Walkerâ, scat sussurrado e um saudosismo sincopado Ă moda da Ninja Tune firmemente dispostos ante a erupção de âAo To Kuroâ, algo muito prĂłximo de uma Bebel Gilberto elegantemente remisturada e de olhos semi-cerrados em âPlanetariumâ.
Em equipa que ganha nĂŁo se mexe, mas Tiny People Singing Over the Rainbow nĂŁo acrescenta virtualmente nada ao que ofereceu a label japonesa durante o ano passado. Esperemos que este represente o Ășltimo eco daquilo que a Noble possa silenciar e deixar armazenado em 2006.