DISCOS
Horkeškart
Live in Solitude
· 23 Dez 2006 · 08:00 ·
Horkeškart
Live in Solitude
2006
Amorfon
Sítios oficiais:
- Amorfon
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2006
Amorfon
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2006
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A sério. Que antídotos contra os conflitos mundiais pode produzir uma risonha criança de nove anos que despertou em lençóis de veludo e adormecerá com o estômago forrado de gelado Carte D’Ôr? Apelar à paz mundial e fraternidade entre os homens é tarefa leviana quando se reside numa vizinhança onde nada acontece e a figura mais ameaçadora é o varredor de lixo com barba de dois dias. Além disso, o Natal já merecia ver renovados os seus apelos típicos. É isso mesmo – já não convence assistir ao coro de crianças no seu entoar de cânticos pacifistas quando os conflitos invocados se passam apenas além de um ecrã. Porque não tentar remediar o que é mais imediato e soletrar o nome de uma qualquer entidade educativa incompetente ao jeito orquestral de Sufjan Stevens? Os coros natalícios precisam de realismo e ambições concretas.
Porque não juntar quarenta e cinco jovens num coro com atitude intervencionista e permitir-lhes flexibilidade temática, independentemente disso implicar algumas doses de politicamente incorrecto? Pontos, louros e uma ovação de pé para o mérito e imprevisibilidade do coro Horkeškart, formado em Belgrado, Sérvia, no ano de 2000 e desde aí dedicado à reconstituição de temas de revolução e reconstrução da antiga Jugoslávia das décadas de 40 e 50, intercalados com versões de Kraftwerk (“Antenna”) e de obscuras glórias punk e hardcore dos balcãs, além de rendições curiosas de contos eróticos e canções de embalar coreanas Tudo isso inserido num projecto de sensibilização intitulado Your Shit – Your Responsability (A tua merda – a tua responsabilidade) que percorreu orfanatos, campos de refugiados e localidades várias na Croácia (a que acederam com passaportes Sérvios, formando o primeiro grupo de 50 pessoas a atravessar a fronteira nessas condições, desde 1991).
O que no papel virtual pode parecer um convite ao espalhafato, passa a ser mágico quando completamente destituído de pretensão ou carga panfletária. A militância da Horkeškart centra-se na prioritária necessidade de proporcionar deboche e diversão a um público que já se viu confrontado com o fracasso de todas as soluções políticas possíveis. Isso é genuinamente punk e escuta-se evidentemente à franqueza das vozes unidas em Live in Solitude. Está na altura de, por cá, o Coro de Santo Amaro de Oeiras começar a adaptar canções de Zeca Afonso e poemas de Almada Negreiros.
Miguel ArsénioPorque não juntar quarenta e cinco jovens num coro com atitude intervencionista e permitir-lhes flexibilidade temática, independentemente disso implicar algumas doses de politicamente incorrecto? Pontos, louros e uma ovação de pé para o mérito e imprevisibilidade do coro Horkeškart, formado em Belgrado, Sérvia, no ano de 2000 e desde aí dedicado à reconstituição de temas de revolução e reconstrução da antiga Jugoslávia das décadas de 40 e 50, intercalados com versões de Kraftwerk (“Antenna”) e de obscuras glórias punk e hardcore dos balcãs, além de rendições curiosas de contos eróticos e canções de embalar coreanas Tudo isso inserido num projecto de sensibilização intitulado Your Shit – Your Responsability (A tua merda – a tua responsabilidade) que percorreu orfanatos, campos de refugiados e localidades várias na Croácia (a que acederam com passaportes Sérvios, formando o primeiro grupo de 50 pessoas a atravessar a fronteira nessas condições, desde 1991).
O que no papel virtual pode parecer um convite ao espalhafato, passa a ser mágico quando completamente destituído de pretensão ou carga panfletária. A militância da Horkeškart centra-se na prioritária necessidade de proporcionar deboche e diversão a um público que já se viu confrontado com o fracasso de todas as soluções políticas possíveis. Isso é genuinamente punk e escuta-se evidentemente à franqueza das vozes unidas em Live in Solitude. Está na altura de, por cá, o Coro de Santo Amaro de Oeiras começar a adaptar canções de Zeca Afonso e poemas de Almada Negreiros.
migarsenio@yahoo.com
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