DISCOS
First Nation
First Nation
· 14 Jul 2006 · 08:00 ·
First Nation
First Nation
2006
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- First Nation
- Paw Tracks
First Nation
First Nation
2006
Paw Tracks


Sítios oficiais:
- First Nation
- Paw Tracks
De acordo com o que se sabe acerca dos métodos negociais de ambas as labels, suspeita-se não difiram em muito os processos de contratação da lendária Factory e Paw Tracks – casa de escasso sentido profissional que, até há pouco tempo se dedicava apenas ao lançamento de discos de Animal Collective e respectivas ramificações, mas que agora acede a receber o trio exclusivamente feminino First Nation num catálogo que só recentemente conheceu as duas casas decimais. Posto isto, a diferença entre protocolos residirá certamente nos rituais encontrados para celebrar a anexação à família: em vez de envoltas num tensão sanguinária, é natural que as coisas na Paw Track se procedam entre a troca de algumas receitas vegetarianas e mais uns quantos orifícios nas t-shirts cheias de borboto que habitualmente veste Avey Tare.

Como adicional e distinta peculiaridade, pesa sobre as First Nation o sentido literal que tem o nome escolhido quando associado ao som que se escuta: a essência musical flúi a partir do disco homónimo como se pronta a servir de seiva alimentar a uma sociedade que procura para si uma estrutura idealmente elaborada por negação ao rumo errante que tomou a humanidade. De acordo com o que nos ensinaram jogos como Populous ou Sim City, as bases para uma nova sociedade assentam num conjunto de elementos cuja funcionalidade é determinante: por aqui, guitarras rendilhadas com o preciosismo de ragas fertilizantes, voz estridente e coro mais térreo aliados em preze radiante por climas tropicais favoráveis às colheitas, a flauta que purifica o ar à “Cave Jam”. Para que a evolução trate de eliminar impurezas (não num sentido darwinista), há que lhe incutir um ritmo circular – e First Nation consegue ser gloriosamente folky na conjugação mecânica de todas as suas roldanas. Torna-se improvável interromper o avanço a uma perfeita circularidade que comprova a sensação de que “Waterfall” representa um reprise vertiginosamente crepuscular para a aurora gradualmente assumida de “Awakes” (cujo loops parecem limpar as ramelas aos pequenos Kodamas de Princesa Mononoke).

Depois, o andrajoso andamento sorumbático de “Swells” justifica a razão de ser da referência que a página My Space do trio faz ao Wu-Tang Clan (ao aliá-los a pigmeus num cenário celestial e, com isso, definir o som das First Nation). Os ritmos ritualistas são realmente comparáveis aos que poderia produzir RZA ou Spectre (externo ao WTC) inspirados por um esplendor na relva. Porém e antes que um qualquer silogismo iluminado se atreva a repetir a sílaba “co”, nada tem a ver a comunhão sensorial das amazonas pacifistas que formam a First Nation com o pretensiosismo romântico das irmãs Cassidy (perdoem-me a fixação). Promete este debute muito mais do que garante Noah’s Ark das Cocorosie. Torna a mera imagem da “pescadinha de rabo na boca” numa linda fábula. Urge seguir as pegadas à nação que ainda agora desperta.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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