De acordo com o que se sabe acerca dos mĂ©todos negociais de ambas as labels, suspeita-se nĂŁo difiram em muito os processos de contratação da lendária Factory e Paw Tracks – casa de escasso sentido profissional que, atĂ© há pouco tempo se dedicava apenas ao lançamento de discos de Animal Collective e respectivas ramificações, mas que agora acede a receber o trio exclusivamente feminino First Nation num catálogo que sĂł recentemente conheceu as duas casas decimais. Posto isto, a diferença entre protocolos residirá certamente nos rituais encontrados para celebrar a anexação Ă famĂlia: em vez de envoltas num tensĂŁo sanguinária, Ă© natural que as coisas na Paw Track se procedam entre a troca de algumas receitas vegetarianas e mais uns quantos orifĂcios nas t-shirts cheias de borboto que habitualmente veste Avey Tare.
Como adicional e distinta peculiaridade, pesa sobre as First Nation o sentido literal que tem o nome escolhido quando associado ao som que se escuta: a essência musical flúi a partir do disco homónimo como se pronta a servir de seiva alimentar a uma sociedade que procura para si uma estrutura idealmente elaborada por negação ao rumo errante que tomou a humanidade. De acordo com o que nos ensinaram jogos como Populous ou Sim City, as bases para uma nova sociedade assentam num conjunto de elementos cuja funcionalidade é determinante: por aqui, guitarras rendilhadas com o preciosismo de ragas fertilizantes, voz estridente e coro mais térreo aliados em preze radiante por climas tropicais favoráveis às colheitas, a flauta que purifica o ar à “Cave Jam”. Para que a evolução trate de eliminar impurezas (não num sentido darwinista), há que lhe incutir um ritmo circular – e First Nation consegue ser gloriosamente folky na conjugação mecânica de todas as suas roldanas. Torna-se improvável interromper o avanço a uma perfeita circularidade que comprova a sensação de que “Waterfall” representa um reprise vertiginosamente crepuscular para a aurora gradualmente assumida de “Awakes” (cujo loops parecem limpar as ramelas aos pequenos Kodamas de Princesa Mononoke).
Depois, o andrajoso andamento sorumbático de “Swells” justifica a razĂŁo de ser da referĂŞncia que a página My Space do trio faz ao Wu-Tang Clan (ao aliá-los a pigmeus num cenário celestial e, com isso, definir o som das First Nation). Os ritmos ritualistas sĂŁo realmente comparáveis aos que poderia produzir RZA ou Spectre (externo ao WTC) inspirados por um esplendor na relva. PorĂ©m e antes que um qualquer silogismo iluminado se atreva a repetir a sĂlaba “co”, nada tem a ver a comunhĂŁo sensorial das amazonas pacifistas que formam a First Nation com o pretensiosismo romântico das irmĂŁs Cassidy (perdoem-me a fixação). Promete este debute muito mais do que garante Noah’s Ark das Cocorosie. Torna a mera imagem da “pescadinha de rabo na boca” numa linda fábula. Urge seguir as pegadas Ă nação que ainda agora desperta.