DISCOS
Man
Helping Hand
· 19 Abr 2006 · 08:00 ·
Man
Helping Hand
2005
Sub Rosa / Ananana


Sítios oficiais:
- Sub Rosa
- Ananana
Man
Helping Hand
2005
Sub Rosa / Ananana


Sítios oficiais:
- Sub Rosa
- Ananana
Se um estranho o convidar traiçoeiramente a juntar-se a uma festa privada que é apenas fachada, isso pode bem ser Helping Hand - terceiro álbum da dupla francesa que agora edita pela Sub Rosa. O debochado “You’re in for it” é uma promessa vã (na medida em que antecipa um disco que não existe), uma espécie de hino de recepção da mansão Playboy que luxuriosamente explode em sopro e transe conduzido por graves. Enganador face ao conteúdo bem mais comedido que se lhe segue no alinhamento, “You’re in for it” constitui afronta à noção que se tem do início de um disco Sub Rosa (que, enquanto adjectivo, designa algo de natureza confidencial, privada ou secreta). Não é de fiar a mão supostamente auxiliar dos multi-instrumentistas François Rasim Biyikli e Charles-Eric Charrier.

Quando um raver se julgava em casa, eis que Helping Hand passa a ser mais elegante, sugestivo, próximo da utopia que podia representar o melhor Carter Burwell apostado na composição de sequelas para Kid A e Amnesiac. Com isso, passa de óbvio a enigmático. Simetrizado a partir de um núcleo baço, Helping Hand faz crer que o teor lúdico das suas balizas pode ser apenas um tónico que facilite a viagem a um centro abstracto - à medida que se verifica um êxodo de constituintes que o ancoram a um invulgar corpo de melodia, vai-se deixando dominar por uma maior densidade de afectados elementos electro-acústicos (alguns desses até cáusticos) e aceitando no seu interior um claustrofobismo, que foi obrigado à redefinição com o surgimento de Irreversível do maquiavélico Gaspar Noé.

É este um disco ambiguamente cinemático que, no lugar dos truques na manga, oculta diversos suportes dramáticos para tudo o que possa servir como peça ao puzzle narrativo: um nostálgico diálogo de despedida, um reencontro iluminado pela frieza de um hospital, a angústia imediata de um assalto mal planeado. Cada faixa corresponde potencialmente a uma variedade aleatória de cenários. “Separation”, por exemplo, desafia os limites do suportável ao trepar - com uma guitarra em vertiginosa agonia – uma rama onde florescem as passas do Algarve. É um momento de aperto. Serviria na perfeição à sonoplastia do publicitado parto da Ágata, caso tivesse sido filmado pelo Lars Von Trier do horrendo O Reino.

Helping Hand singra sobretudo por nunca emperrar numa seriedade estática que possa sugerir a formalidade do aspecto de banda-sonora para filme imaginário. Quando é interrompida a coolness da golpada criminosa que lubrifica “Revenir”, escuta-se um sussurrado “Oh, merde...” e evapora-se repentinamente toda a solenidade construída pelo piano até aí. Vincent Cassel esqueceu-se de deixar les escargot de molho. Sobra como alternativa um temperado caldinho de cinefilia pronta a montar mentalmente.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros