DISCOS
For Stars
...It Falls Apart
· 22 Dez 2005 · 08:00 ·
For Stars
...It Falls Apart
2004
Acuarela / Popstock!


Sítios oficiais:
- For Stars
- Acuarela
- Popstock!
For Stars
...It Falls Apart
2004
Acuarela / Popstock!


Sítios oficiais:
- For Stars
- Acuarela
- Popstock!
…It Falls Apart é o quarto longa-duração da banda californiana, que se segue ao seu maior hiato criativo: o disco anterior, We Are All Beautiful People (título candidato ao prémio de mais piroso de sempre da história da música moderna), datava de 2001. Reza ainda a história (pela mão do press release da editora) que …It Falls Apart estava pensado para ser o primeiro álbum da banda para uma major, depois de boas recepções críticas aos anteriores trabalhos e da consolidação de uma considerável legião de fãs. Ao que parece, a ideia foi abandonada a meio das gravações. E, de facto, o resultado do trabalho em estúdio foram composições caóticas e fragmentadas, em vez do previsto tom pop e acessível. Porém, o registo não é uma pérola incompreendida pela indústria, mas sim um conjunto de canções desequilibrado.

…It Falls Apart oscila invariavelmente entre dois pólos: as letras tanto parecem admiravelmente simples (um pouco como com Aimee Mann, pensámos como é que ainda ninguém se lembrou de dizer aquilo numa música), como ridiculamente banais (“Calm Down Baby” é o melhor exemplo); há harmonias fluidas e ao mesmo tempo desconstruídas (como seria certamente o objectivo final), bem como harmonias insuportavelmente carregadas, na tentativa de fazer acontecer 157 coisas ao longo de quatro ou cinco minutos; resumindo, há aspectos muito positivos e outros muito negativos, que às vezes chegam a coabitar na mesma música.

No meio de tudo isto, há que reconhecer que o disco tem os seus encantos. “It doesn’t really matter” é indiscutivelmente a melhor faixa: conduzida ritmicamente pelo pedal da bateria, vive da introdução, em patchwork, de guitarras eléctricas, xilofone, teclados, alternâncias rítmicas no baixo, diferentes tons de voz e trompete, num registo razoavelmente pop. Do lado contrário, “Reminds You” é um instrumental a piscar o olho ao noise, mas que surge completamente desenquadrado e nos leva a perguntar: “Mas o que é que isto está aqui a fazer?”.

O alinhamento tenta um equilíbrio entre canções mais uptempo e outras mais downtempo. Mas há momentos demasiado dolentes, como “In the End” e, principalmente, “Calm Down, Baby”: conduzida a sintetizador e despida de percussão, a sua pieguice apenas desaparece na parte final, alimentada por uma profusão de ruídos e de notas aparentemente “ao lado” nos teclados. A vontade de conseguir altos e baixos de intensidade é notória, mas os For Stars parecem não conseguir descolar e alimentar o tom épico. A nível vocal, o falsete de Carlos Forster (“olá Thom Yorke, quem me dera ser como tu”) é usado de uma maneira tão intensa e quase permanente que se torna rapidamente cansativo.

Tirando a média: a nível lírico, o álbum é fraco, já que os temas invocam mais ou menos directamente “não correspondências” amorosas, geralmente de uma forma pouco acima do cliché; a nível instrumental, o maior problema da banda é não deixar respirar as músicas suficientemente, como seria exigível. Há também uma série de referências demasiado evidentes: Radiohead à cabeça, mas também The Sea and Cake, o espírito introspectivo dos bem sucedidos (modelo?) indie americanos Death Cab For Cutie (curiosamente mudaram-se este ano para uma major) e os arranjos barrocos de uns Sigur Rós ou de uns Mercury Rev. Ainda assim, há em quase todos os temas algo de interessante (a slide guitar em “Shattered Glass” é um bom exemplo) e que faz pensar duas vezes antes de dizer “dismissed” a …It Falls Apart. Mas é preciso “andar à pesca” para descobrir esses bons momentos.
João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net

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