…It Falls Apart Ă© o quarto longa-duração da banda californiana, que se segue ao seu maior hiato criativo: o disco anterior, We Are All Beautiful People (tĂtulo candidato ao prĂ©mio de mais piroso de sempre da histĂłria da mĂşsica moderna), datava de 2001. Reza ainda a histĂłria (pela mĂŁo do press release da editora) que …It Falls Apart estava pensado para ser o primeiro álbum da banda para uma major, depois de boas recepções crĂticas aos anteriores trabalhos e da consolidação de uma considerável legiĂŁo de fĂŁs. Ao que parece, a ideia foi abandonada a meio das gravações. E, de facto, o resultado do trabalho em estĂşdio foram composições caĂłticas e fragmentadas, em vez do previsto tom pop e acessĂvel. PorĂ©m, o registo nĂŁo Ă© uma pĂ©rola incompreendida pela indĂşstria, mas sim um conjunto de canções desequilibrado.
…It Falls Apart oscila invariavelmente entre dois pĂłlos: as letras tanto parecem admiravelmente simples (um pouco como com Aimee Mann, pensámos como Ă© que ainda ninguĂ©m se lembrou de dizer aquilo numa mĂşsica), como ridiculamente banais (“Calm Down Baby” Ă© o melhor exemplo); há harmonias fluidas e ao mesmo tempo desconstruĂdas (como seria certamente o objectivo final), bem como harmonias insuportavelmente carregadas, na tentativa de fazer acontecer 157 coisas ao longo de quatro ou cinco minutos; resumindo, há aspectos muito positivos e outros muito negativos, que Ă s vezes chegam a coabitar na mesma mĂşsica.
No meio de tudo isto, há que reconhecer que o disco tem os seus encantos. “It doesn’t really matter” Ă© indiscutivelmente a melhor faixa: conduzida ritmicamente pelo pedal da bateria, vive da introdução, em patchwork, de guitarras elĂ©ctricas, xilofone, teclados, alternâncias rĂtmicas no baixo, diferentes tons de voz e trompete, num registo razoavelmente pop. Do lado contrário, “Reminds You” Ă© um instrumental a piscar o olho ao noise, mas que surge completamente desenquadrado e nos leva a perguntar: “Mas o que Ă© que isto está aqui a fazer?”.
O alinhamento tenta um equilĂbrio entre canções mais uptempo e outras mais downtempo. Mas há momentos demasiado dolentes, como “In the End” e, principalmente, “Calm Down, Baby”: conduzida a sintetizador e despida de percussĂŁo, a sua pieguice apenas desaparece na parte final, alimentada por uma profusĂŁo de ruĂdos e de notas aparentemente “ao lado” nos teclados. A vontade de conseguir altos e baixos de intensidade Ă© notĂłria, mas os For Stars parecem nĂŁo conseguir descolar e alimentar o tom Ă©pico. A nĂvel vocal, o falsete de Carlos Forster (“olá Thom Yorke, quem me dera ser como tu”) Ă© usado de uma maneira tĂŁo intensa e quase permanente que se torna rapidamente cansativo.
Tirando a mĂ©dia: a nĂvel lĂrico, o álbum Ă© fraco, já que os temas invocam mais ou menos directamente “nĂŁo correspondĂŞncias” amorosas, geralmente de uma forma pouco acima do clichĂ©; a nĂvel instrumental, o maior problema da banda Ă© nĂŁo deixar respirar as mĂşsicas suficientemente, como seria exigĂvel. Há tambĂ©m uma sĂ©rie de referĂŞncias demasiado evidentes: Radiohead Ă cabeça, mas tambĂ©m The Sea and Cake, o espĂrito introspectivo dos bem sucedidos (modelo?) indie americanos Death Cab For Cutie (curiosamente mudaram-se este ano para uma major) e os arranjos barrocos de uns Sigur RĂłs ou de uns Mercury Rev. Ainda assim, há em quase todos os temas algo de interessante (a slide guitar em “Shattered Glass” Ă© um bom exemplo) e que faz pensar duas vezes antes de dizer “dismissed” a …It Falls Apart. Mas Ă© preciso “andar Ă pesca” para descobrir esses bons momentos.