DISCOS
Flanger
Spirituals
· 27 Set 2005 · 08:00 ·
Flanger
Spirituals
2005
Nonplace / Flur
Sítios oficiais:
- Nonplace
- Flur
Spirituals
2005
Nonplace / Flur
Sítios oficiais:
- Nonplace
- Flur
Flanger
Spirituals
2005
Nonplace / Flur
Sítios oficiais:
- Nonplace
- Flur
Spirituals
2005
Nonplace / Flur
Sítios oficiais:
- Nonplace
- Flur
Atom Heart é a alma criadora da personagem Señor Coconut, o sedutor sul-americano que com ironia pós-moderna reformula canções pop carregadas de azeite em divertidas versões latinas, irresistíveis de cantarolar sem complexos. Burnt Friedman é o cérebro que conduz os Nu-Dub Players, o projecto que editou pela ~scape um intemporal disco de dub adulterado - Just Landed (1998). Mas estes são apenas dois exemplos da enorme capacidade destes dois prolíficos músicos. Juntos, Atom e Friedman são Flanger, um projecto que começou a trabalhar em 1999 e que em 2005 prossegue actividades indiferente a modas.
Este é o quarto disco deste duo, depois de Templates (1999), Midnight Sound (2000) e Outer Space / Inner Space (2001). Na altura da edição destes discos os ventos corriam a favor da dupla, as electrónicas estavam na moda. Ao segundo disco incluíram uma versão do tema “So What” - a abertura de Kind of Blue (Miles Davis) - um statement que lhes atestava a paternidade jazzística. Entretanto a parceria manteve-se, trabalhando na evolução do registo e agora chega-nos mais um tomo da dupla, quatro anos depois do último lançamento.
A música da dupla Atom/Friedman balança entre dois pólos: por um lado, a atracção pelo jazz clássico, melódico, antigo e cheio de swing; por outro lado há a consciência do tempo presente e da envolvência electrónica. E, resultado do cruzamento destes universos, nasce uma música onde o jazz mais quente e doce se funde com a frieza da produção típica IDM (intelligent dance music). Há uma atmosfera encantadora de melodias jazzísticas roubadas a outro tempo (50%), efeitos e manipulações electrónicas (40%) e ainda uma dose constante de originalidade (20%) – e quem disse que a (boa) musica era uma ciência exacta?
E as músicas? “Crime in the Pale Moonlight” é um single óbvio, poppy q.b., assente numa vocalização jazz à lá Cincotti/Cullum, com personalidade (a voz é do australiano Richard Pike). “How Long is the Wrong Way?” segue nas pegadas do tema anterior e reforça o poder do início do disco. “Music Is Our Secret Code”, a faixa 5, tem uma base de guitarra antiga que viaja até às barricadas da resistência francesa – Django Reinhardt é a lembrança imediata e a série Allô-Allô também não anda longe. “Peninsula” é guitarra e clarinete e quase que emula “Blue Moon” (ou “Tony Silva”, na versão portuguesa). O disco é todo construído na alternância entre os instrumentais e os temas cantados e consegue uma estável consistência. Ao longo do álbum alguns dos momentos mais mornos são da responsabilidade de Hayden Chisholm, que toca saxofone e clarinete. Chamar a esta música “espirituais” é uma apropriação exagerada, o gospel mora longe, no limite o que temos aqui é jazz falsificado e desvirtuado - mas com aquela coisa (o swing) que o legitima.
Como se Django e Sidney Bechet se defrontassem num duelo de Pró-Evolution Soccer 5 em PSP, assim é este disco. Com sabor a antigo e com irrefutáveis marcas do tempo presente, sente-se 2005 pelos poros mas a agulha está apontada para o passado. De Paris-1929 até Köln-2005, com passagem por New Orleans e Santiago do Chile, viagem completa.
Nuno CatarinoEste é o quarto disco deste duo, depois de Templates (1999), Midnight Sound (2000) e Outer Space / Inner Space (2001). Na altura da edição destes discos os ventos corriam a favor da dupla, as electrónicas estavam na moda. Ao segundo disco incluíram uma versão do tema “So What” - a abertura de Kind of Blue (Miles Davis) - um statement que lhes atestava a paternidade jazzística. Entretanto a parceria manteve-se, trabalhando na evolução do registo e agora chega-nos mais um tomo da dupla, quatro anos depois do último lançamento.
A música da dupla Atom/Friedman balança entre dois pólos: por um lado, a atracção pelo jazz clássico, melódico, antigo e cheio de swing; por outro lado há a consciência do tempo presente e da envolvência electrónica. E, resultado do cruzamento destes universos, nasce uma música onde o jazz mais quente e doce se funde com a frieza da produção típica IDM (intelligent dance music). Há uma atmosfera encantadora de melodias jazzísticas roubadas a outro tempo (50%), efeitos e manipulações electrónicas (40%) e ainda uma dose constante de originalidade (20%) – e quem disse que a (boa) musica era uma ciência exacta?
E as músicas? “Crime in the Pale Moonlight” é um single óbvio, poppy q.b., assente numa vocalização jazz à lá Cincotti/Cullum, com personalidade (a voz é do australiano Richard Pike). “How Long is the Wrong Way?” segue nas pegadas do tema anterior e reforça o poder do início do disco. “Music Is Our Secret Code”, a faixa 5, tem uma base de guitarra antiga que viaja até às barricadas da resistência francesa – Django Reinhardt é a lembrança imediata e a série Allô-Allô também não anda longe. “Peninsula” é guitarra e clarinete e quase que emula “Blue Moon” (ou “Tony Silva”, na versão portuguesa). O disco é todo construído na alternância entre os instrumentais e os temas cantados e consegue uma estável consistência. Ao longo do álbum alguns dos momentos mais mornos são da responsabilidade de Hayden Chisholm, que toca saxofone e clarinete. Chamar a esta música “espirituais” é uma apropriação exagerada, o gospel mora longe, no limite o que temos aqui é jazz falsificado e desvirtuado - mas com aquela coisa (o swing) que o legitima.
Como se Django e Sidney Bechet se defrontassem num duelo de Pró-Evolution Soccer 5 em PSP, assim é este disco. Com sabor a antigo e com irrefutáveis marcas do tempo presente, sente-se 2005 pelos poros mas a agulha está apontada para o passado. De Paris-1929 até Köln-2005, com passagem por New Orleans e Santiago do Chile, viagem completa.
nunocatarino@gmail.com
ÚLTIMOS DISCOS
ÚLTIMAS