DISCOS
Ester Drang
Infinite Keys
· 24 Jun 2005 · 08:00 ·
Ester Drang
Infinite Keys
2003
Jade Tree


Sítios oficiais:
- Ester Drang
- Jade Tree
Ester Drang
Infinite Keys
2003
Jade Tree


Sítios oficiais:
- Ester Drang
- Jade Tree
Algures rodeados das mesmas paisagens que se podem observar em todo o envolvente artwork de Infinite Keys, os Ester Drang começaram em 1995 por lançar um single, seguido por um EP, acabando por editar o seu álbum de estreia - Goldenwest - na Burnt Toast. Aí, com o lançamento debutante de 2002, os Ester Drang moviam-se por composições abstractas que procuravam encontrar um caminho próprio, mas agora o trilho é outro. No início de 2003 assinaram com a Jade Tree, editaram Infinite Keys - o sucessor de Goldewest - e partilharam o palco com nomes como Pedro The Lion, Starflyer 59 e os Unwed Sailor. Infinite Keys é fruto de um amadurecimento, de uma definição do espaço musical e, em última instância, de uma solidificação dos intentos dos Ester Drang. Isto sem nunca esconder o passado musical do disco de estreia (lado positivo), nem as mais recentes influências dos Ester Drang (lado negativo).

Comparar os Ester Drang com os Flaming Lips apenas porque partilham o mesmo estado de proveniência ou pela participação conjunta com Steven Drozd num single é um exercício redutor de preguiça mental. O único elemento que une as duas bandas é, na verdade, a procura da quimera e de um estado ambulante onde o sonho se sobrepõe à realidade, mas isso não se reflecte propriamente na partilha de um mesmo espaço musical. Se comparações são necessárias, devem ser feitas com o mundo dos Starflyer 59 (os parceiros de editora na Jade Tree) e, sobretudo, os Radiohead (numa versão maioritariamente mais cintilante, sonhadora e luminosa). “The Temple Mount” abre com um estranho rugir, seguido de cordas e de uma guitarra que abre espaço à voz de Bryce Chambers, e a partir desse momento torna-se quase impossível não se pensar em Thom Yorke. Segue-se “Dead Man’s Point of View”, uma das canções mais ricas do disco em termos de elementos: a percussão é muita e variada, há guitarras em viagem para outros planetas, há até um suave cheiro a jazz trazido por instrumentos de sopro.

“Oceans of You” arranca com uma introdução quase pós-rock, e vive de um crescendo que nasceu para levar a canção até ao seu refrão, até a um clímax assente numa fortaleza de texturas e de um sussurrante coro de vozes que acompanha as palavras de Chambers: “Life changes you / And you're going to leave someday / All of the problems in your way / And they hand you down at my feet / As I fill you up / Drink this up”.
Embora menos preenchida que as outras canções do disco, “The Greatest Thing” é complexa e igualmente sonhadora, com as suas partículas de sol espelhado na água: “You came down as a man / With your purpose as your plan / All the same, the hearts of men / With your purpose as your plan”. As cordas voltam no início da surpreendentemente pop “No One Could Ever Take Your Face”. Ao pequeno sopro de cordas flashback inicial, juntam-se ainda pianos, uma guitarra e demais elementos acústicos e um riff extremamente catchy, que só por si segura praticamente a canção. “If They Only Knew” tem cunho baladeiro-dramalhão-arranjos-lamechas-a-piscar-o-olho-aos-momentos-hipnóticos-dos-Radiohead confirmado pelos pianos ora delicados, ora teatrais, pelas cordas, pelos sussurros com marca Thom Yorke e pelas palavras que também ajudam: “'Cause if they only knew, they'd come through / And if they chose to know you, they'd be free / And see”.

“All the Feeling” é solarenga, saltitante e tem o coração a rebentar. É canção meia tonta sobre felicidade passada (de novo) para pianos e cordas. É canção para sorrisos desmesurados, balões às cores, arco-íris e um pouco mais de contentamento. Para encerrar o disco, “I Don't Want to Live (In a World of Infinite Keys)", faz-se essencialmente de um vertiginoso e hipnótico fio de piano e de demais instrumentação luxuriosa; é dada, pelas ambiências aqui criadas, a longínquas viagens a outros mundos, mundos de tons azulados e taciturnos, provavelmente ao tal mundo de chaves infinitas, de múltiplos destinos possíveis. O mais impressionante é que Infinite Keys - nos seus nove temas - é um disco que até consegue sobreviver às suas muitas influências, às inúmeras origens que facilmente se podem apontar e desenterrar (o fantasma de Thom Yorke e dos Radiohead assombra e de que maneira quase todo o disco). E essa sobrevivência deve-se muito provavelmente a todo o cuidado com que os Ester Drang parecem ter construído todas as canções deste disco.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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