Algures rodeados das mesmas paisagens que se podem observar em todo o envolvente artwork de Infinite Keys, os Ester Drang começaram em 1995 por lançar um single, seguido por um EP, acabando por editar o seu ĂĄlbum de estreia - Goldenwest - na Burnt Toast. AĂ, com o lançamento debutante de 2002, os Ester Drang moviam-se por composiçÔes abstractas que procuravam encontrar um caminho prĂłprio, mas agora o trilho Ă© outro. No inĂcio de 2003 assinaram com a Jade Tree, editaram Infinite Keys - o sucessor de Goldewest - e partilharam o palco com nomes como Pedro The Lion, Starflyer 59 e os Unwed Sailor. Infinite Keys Ă© fruto de um amadurecimento, de uma definição do espaço musical e, em Ășltima instĂąncia, de uma solidificação dos intentos dos Ester Drang. Isto sem nunca esconder o passado musical do disco de estreia (lado positivo), nem as mais recentes influĂȘncias dos Ester Drang (lado negativo).
Comparar os Ester Drang com os Flaming Lips apenas porque partilham o mesmo estado de proveniĂȘncia ou pela participação conjunta com Steven Drozd num single Ă© um exercĂcio redutor de preguiça mental. O Ășnico elemento que une as duas bandas Ă©, na verdade, a procura da quimera e de um estado ambulante onde o sonho se sobrepĂ”e Ă realidade, mas isso nĂŁo se reflecte propriamente na partilha de um mesmo espaço musical. Se comparaçÔes sĂŁo necessĂĄrias, devem ser feitas com o mundo dos Starflyer 59 (os parceiros de editora na Jade Tree) e, sobretudo, os Radiohead (numa versĂŁo maioritariamente mais cintilante, sonhadora e luminosa). âThe Temple Mountâ abre com um estranho rugir, seguido de cordas e de uma guitarra que abre espaço Ă voz de Bryce Chambers, e a partir desse momento torna-se quase impossĂvel nĂŁo se pensar em Thom Yorke. Segue-se âDead Manâs Point of Viewâ, uma das cançÔes mais ricas do disco em termos de elementos: a percussĂŁo Ă© muita e variada, hĂĄ guitarras em viagem para outros planetas, hĂĄ atĂ© um suave cheiro a jazz trazido por instrumentos de sopro.
âOceans of Youâ arranca com uma introdução quase pĂłs-rock, e vive de um crescendo que nasceu para levar a canção atĂ© ao seu refrĂŁo, atĂ© a um clĂmax assente numa fortaleza de texturas e de um sussurrante coro de vozes que acompanha as palavras de Chambers: âLife changes you / And you're going to leave someday / All of the problems in your way / And they hand you down at my feet / As I fill you up / Drink this upâ.
Embora menos preenchida que as outras cançÔes do disco, âThe Greatest Thingâ Ă© complexa e igualmente sonhadora, com as suas partĂculas de sol espelhado na ĂĄgua: âYou came down as a man / With your purpose as your plan / All the same, the hearts of men / With your purpose as your planâ. As cordas voltam no inĂcio da surpreendentemente pop âNo One Could Ever Take Your Faceâ. Ao pequeno sopro de cordas flashback inicial, juntam-se ainda pianos, uma guitarra e demais elementos acĂșsticos e um riff extremamente catchy, que sĂł por si segura praticamente a canção. âIf They Only Knewâ tem cunho baladeiro-dramalhĂŁo-arranjos-lamechas-a-piscar-o-olho-aos-momentos-hipnĂłticos-dos-Radiohead confirmado pelos pianos ora delicados, ora teatrais, pelas cordas, pelos sussurros com marca Thom Yorke e pelas palavras que tambĂ©m ajudam: â'Cause if they only knew, they'd come through / And if they chose to know you, they'd be free / And seeâ.
âAll the Feelingâ Ă© solarenga, saltitante e tem o coração a rebentar. Ă canção meia tonta sobre felicidade passada (de novo) para pianos e cordas. Ă canção para sorrisos desmesurados, balĂ”es Ă s cores, arco-Ăris e um pouco mais de contentamento. Para encerrar o disco, âI Don't Want to Live (In a World of Infinite Keys)", faz-se essencialmente de um vertiginoso e hipnĂłtico fio de piano e de demais instrumentação luxuriosa; Ă© dada, pelas ambiĂȘncias aqui criadas, a longĂnquas viagens a outros mundos, mundos de tons azulados e taciturnos, provavelmente ao tal mundo de chaves infinitas, de mĂșltiplos destinos possĂveis. O mais impressionante Ă© que Infinite Keys - nos seus nove temas - Ă© um disco que atĂ© consegue sobreviver Ă s suas muitas influĂȘncias, Ă s inĂșmeras origens que facilmente se podem apontar e desenterrar (o fantasma de Thom Yorke e dos Radiohead assombra e de que maneira quase todo o disco). E essa sobrevivĂȘncia deve-se muito provavelmente a todo o cuidado com que os Ester Drang parecem ter construĂdo todas as cançÔes deste disco.