DISCOS
The Books
Lost and Safe
· 17 Mai 2005 · 08:00 ·
The Books
Lost and Safe
2005
Tomlab / Flur
Sítios oficiais:
- The Books
- Tomlab
- Flur
Lost and Safe
2005
Tomlab / Flur
Sítios oficiais:
- The Books
- Tomlab
- Flur
The Books
Lost and Safe
2005
Tomlab / Flur
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Lost and Safe
2005
Tomlab / Flur
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- The Books
- Tomlab
- Flur
Arrependei-vos, infiéis! O novo maná do desconstrucionismo dos cânones da pop mora em The Books e, mais especificamente, no surpreendente Lost and Safe. A neurose começa logo no primeiro verso do inaugural “A Little Longing Goes Away”, onde profetizam “yes and no are just distinguished by distinction”. É música de enrolar a língua, baseada em instrumentália acústica e aquilo que a comunidade anglo-saxónica chama de found sound, uma sub-divisão da arte que faz do reaproveitamento de restos o seu núcleo central de trabalho, para onde podem convergir desde gravações caseiras a captações de rua, mercados, feiras de paragens longínquas. E nisso ninguém bate as etiquetas Luaka Bop e Sublime Frequencies.
Talvez por possuírem essa veia ecológica não seja de estranhar ouvir em “Vogt Dig For Kloppervok” uma porta a abrir-se ou a fechar-se (para o caso não interessa) ou o choro de uma criança e uma gaivota a piar em “Smells Like Content”. Ou que “An Animated Description of Mr. Maps.” comece por soar a orquestra mariachi, a tactear ao de leve o universo de western de um John Ford da primeira casta, e depois evolua para uma matriz call-and-response que lembra uns Notwist em despique verbal com samples de pessoas mortas. E se há coisa que os The Books exploram com argúcia são as letras. Senão, é ouvir no final desta: “I want all of the American people to understand that is understandable that the American people cannot possibly understand. É malhar no Presidente, claro está!
E o que dizer de “Venice”, uma das ideias mais arrojadas transformada em canção? A pintura assistida de um quadro, uma verborreia de artista a intervalar as pinceladas com explicações sobre o método, enfim o discurso do método. É como Vincent van Gogh dar-nos pistas sobre como mutilou a orelha, só que um bocado mais simpático. Assim são os The Books, geniais, inconsequentes, a construir pirâmides de som sem conhecimentos de álgebra ou matemática ou arquitectura. A tornar as coisas mais difíceis mas sempre com música de encher o olho, mesmo que logo a seguir apliquem um violento soco da jugular à retina.
Formaram-se em Nova Iorque corria o ano 2000, quando Nick Zammuto e Paul de Jong foram apresentados por um amigo comum e, desde então, têm aplicado torções constantes na marcha indiferenciada da música de massas. E, por já estarmos dentro da dimensão deles, até já abusamos da aliteração. Ainda poucos perceberam mas a vida é uma sobreposição de camadas, de elevações e mergulhos. Por que não fazer um disco assim e pôr ao barulho ponteiros de relógio a fazer tic-tac, o som de uma coruja, telefones a tocar, lamentos durante a noite, como em “If Not Now, Whenever”?
Pois os The Books já vão no terceiro, depois de Thought for Food em 2002 e de se mudarem para a Carolina do Norte onde lançaram The Lemon of Pink. Valeu-lhes o interesse de Tom Steinle da Tomlab Records, para quem sempre gravaram. Para fazer um dos mais brilhantes discos do primeiro semestre deste ano, a banda mudou-se outra vez, desta feita para um casa victoriana no Massachusetts, e mais uma vez deu a volta ao texto, com canções que são como crepes chineses cobertos (outra vez, a aliteração) de molho agridoce. Devora-se de uma dentada, degusta-se ainda com o molho nos cantos da boca mas leva-se algum tempo a digerir. Casos de “It Never Changes to Stop”, mas sobretudo de “Be Good to Them Always”, um tema que é um brinco de pérola, disposto em camadas que não acabam, com guitarras esparsas e em cascata, a desafiar a paciência, a mostrar pontos de fuga mas a barrar o caminho.
E ainda há quem se preocupe com o futuro da pop e pense que ela vai ficar-se pela cançoneta mariquinhas. Só é pena que isto ganhe um tal dramatismo que seja difícil apreender o disco todo sem espaçamentos temporais. Mas isso apenas lhe dá mais espaço e tempo para crescer. Uma advertência: é complicado ouvir Lost and Safe e não pensar em comida. Sai pato à Pequim para toda a gente!
Hélder GomesTalvez por possuírem essa veia ecológica não seja de estranhar ouvir em “Vogt Dig For Kloppervok” uma porta a abrir-se ou a fechar-se (para o caso não interessa) ou o choro de uma criança e uma gaivota a piar em “Smells Like Content”. Ou que “An Animated Description of Mr. Maps.” comece por soar a orquestra mariachi, a tactear ao de leve o universo de western de um John Ford da primeira casta, e depois evolua para uma matriz call-and-response que lembra uns Notwist em despique verbal com samples de pessoas mortas. E se há coisa que os The Books exploram com argúcia são as letras. Senão, é ouvir no final desta: “I want all of the American people to understand that is understandable that the American people cannot possibly understand. É malhar no Presidente, claro está!
E o que dizer de “Venice”, uma das ideias mais arrojadas transformada em canção? A pintura assistida de um quadro, uma verborreia de artista a intervalar as pinceladas com explicações sobre o método, enfim o discurso do método. É como Vincent van Gogh dar-nos pistas sobre como mutilou a orelha, só que um bocado mais simpático. Assim são os The Books, geniais, inconsequentes, a construir pirâmides de som sem conhecimentos de álgebra ou matemática ou arquitectura. A tornar as coisas mais difíceis mas sempre com música de encher o olho, mesmo que logo a seguir apliquem um violento soco da jugular à retina.
Formaram-se em Nova Iorque corria o ano 2000, quando Nick Zammuto e Paul de Jong foram apresentados por um amigo comum e, desde então, têm aplicado torções constantes na marcha indiferenciada da música de massas. E, por já estarmos dentro da dimensão deles, até já abusamos da aliteração. Ainda poucos perceberam mas a vida é uma sobreposição de camadas, de elevações e mergulhos. Por que não fazer um disco assim e pôr ao barulho ponteiros de relógio a fazer tic-tac, o som de uma coruja, telefones a tocar, lamentos durante a noite, como em “If Not Now, Whenever”?
Pois os The Books já vão no terceiro, depois de Thought for Food em 2002 e de se mudarem para a Carolina do Norte onde lançaram The Lemon of Pink. Valeu-lhes o interesse de Tom Steinle da Tomlab Records, para quem sempre gravaram. Para fazer um dos mais brilhantes discos do primeiro semestre deste ano, a banda mudou-se outra vez, desta feita para um casa victoriana no Massachusetts, e mais uma vez deu a volta ao texto, com canções que são como crepes chineses cobertos (outra vez, a aliteração) de molho agridoce. Devora-se de uma dentada, degusta-se ainda com o molho nos cantos da boca mas leva-se algum tempo a digerir. Casos de “It Never Changes to Stop”, mas sobretudo de “Be Good to Them Always”, um tema que é um brinco de pérola, disposto em camadas que não acabam, com guitarras esparsas e em cascata, a desafiar a paciência, a mostrar pontos de fuga mas a barrar o caminho.
E ainda há quem se preocupe com o futuro da pop e pense que ela vai ficar-se pela cançoneta mariquinhas. Só é pena que isto ganhe um tal dramatismo que seja difícil apreender o disco todo sem espaçamentos temporais. Mas isso apenas lhe dá mais espaço e tempo para crescer. Uma advertência: é complicado ouvir Lost and Safe e não pensar em comida. Sai pato à Pequim para toda a gente!
hefgomes@gmail.com
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