Members Only
2004
F Communications
Sítios oficiais:
- Avril
- F Communications
Members Only
2004
F Communications
Sítios oficiais:
- Avril
- F Communications
A
F Communications completou dez anos e, para comemorar o feito, decidiu oferecer
como prenda aos seus fãs mais pespegados, tal como a toda a gente que gosta
de boa (?) música, o segundo álbum de Fred Magnon, geralmente apresentado
com o nome de código Avril. Havia sido já a editora de Laurent Garnier a acolher
e distribuir o primeiro disco do promissor produtor e multi-instrumentista
parisiense, que ganhou inclusivamente o Prix Constantin – aquilo que, em França,
equivale ao Mercury Music Prize do Reino Unido – com o seu disco de estreia, That Horse Must Be Starving.
Avril é aquilo a que se chama um artista de estúdio. Passa horas em cadeiras
confortáveis à frente das linhas do laptop e é aí que busca sempre mais sentido
para aquilo que se propõe a fazer e onde procura alcançar os objectivos que
regem quase sempre uma vida. Para além disso, tomou consciência que uma imagem
de modernidade, arrojo e pioneirismo são importantes perante os ouvintes de
música em geral, e os media em particular, tanto que nada é deixado ao acaso.
Basta tomar em atenção os pacotes gráficos que embrulham essa preciosidade
que é o som em suporte físico, o excelente site que serve como tanque de abastecimento
visual ou as fotografias cuidadas que transparecem uma ideia de unidade conceptual.
Da mesma forma, os relatos falam de actuações ao vivo que são mais experiências
sonoras do que concertos para grandes massas dançantes.
Members Only é o resultado de um amadurecimento sustentando, temperado
a colher de sopa por Marc Collins, sem o qual este disco dificilmente cruzaria
as mãos e os ouvidos de quem por ele muito esperava. Trata-se de um microcosmos
onde habitam a electrónica mais convencional, o punk, o techno, o experimentalismo,
a canção acústica à Kings of Convenience ou as bandas sonoras de filmes franceses.
Já alguém disse que Avril tinha uma grande criatividade e um coração ainda
maior. Talvez. Verdade, verdadinha, os estilos assim entrelaçados entre digital
e orgânico numa dança contígua são, para todos os efeitos, um resultado da
cada vez maior abertura de mente que se instala em todos aqueles que fazem
música pelo simples prazer de a fazer. As barreiras, estilísticas ou imaginárias,
são cada vez mais frágeis.
É um disco de fantasmas perdidos, tanto sereno e tranquilizante como que buscando
por um sentido de aperto que transporta o ouvinte para uma grande praça vazia
sem história nem população. Mas também para casas onde a libido está à flor
da pele, em palavras que são repartidas entre o inglês e o francês, trazendo
à memória tanto Air como White Stripes. As atmosferas mais orquestradas chegam
a lembrar Ulrich Schnauss.
“Be Yourself” é de caras o single de estreia, e nem precisamos dessa informação
para o ter como certo. Virado para as pistas de dança, é varrido por quebras
electrónicas e riffs de guitarra punk. A letra é francesa mas o refrão inglês
– sempre pode chamar a atenção... “Can’t Stand Your Ex’s Rock Band” é a faixa
quase Franz Ferdinand do disco – ritmo acelerado, bateria e guitarra fulminantes.
Junte-se-lhe coros femininos e uma letra singular e ficamos com uma faixa
retro-qualquer coisa. Da mesma ordem, “TV Dinner” é composta por gritos flamejantes
e uma voz indietronica feminina. Punk-funk a fazer lembrar Prodigy e Daft
Punk. Nos antípodas estão “As The Music Stops” e “Quand Tu Fais Ça”. Despojadas
de artifícios, são preenchidas por tonalidades sonoras sugestivas, quase sempre
em torno do amor. Um bom disco.
Be
Yourself 12 '' |
Mais uma vez, como é frequente na agremiação F Communications,
em paralelo com o lançamento de um álbum é lançado um doze polegadas com remisturas do single de avanço, neste caso “Be Yourself”, extraído de Members Only. As remisturas ficaram a cargo de Laurent Garnier e Broadcast
e o resultado final acaba por ser um pouco amargo especialmente por parte
de Laurent Garnier, de quem se esperava mais.
O patrão da F Communications apostou numa desconstrução total da faixa, tanto
que regravou as vozes e juntou à música elementos mais abrangentes do que
aqueles que se encontram na original. Laurent Garnier amplifica e multiplica
a tentativa de apelo ao corpo, mas a verdade é que não o consegue, tanto que
dessa tentativa apenas o aferro da linha de baixo consegue despertar alguma
atenção. Numa remistura pilhada de elementos sonoros é manifestamente pouco.
Broadcast fez uma remistura de difícil compreensão. Se é verdade que foge
aos ditames do manual do estilo, também o é que o trabalho feito parece desprovido
de qualquer tipo de sensações ou sentimentos. Chega a parecer ser feita para
adolescentes quase pré, tanto que é igual do princípio ao fim. Uma desilusão...
tgoncalves@bodyspace.net