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Yen Lo
Days With Dr. Yen Lo
· 06 Jul 2015 · 15:05 ·
Yen Lo
Days With Dr. Yen Lo
2015
Ironworks
Days With Dr. Yen Lo
2015
Ironworks
Yen Lo
Days With Dr. Yen Lo
2015
Ironworks
Days With Dr. Yen Lo
2015
Ironworks
Apaguem as luzes, e escutem atentamente.
”Days With Dr. Yen Lo”, pelo menos no formato físico, é adquirido mais facilmente no site do próprio Ka. O próprio até avisa que não vai todos os dias levar encomendas aos correios, quando o fazemos. E é uma espera que vale bem a pena. A segunda vez (a primeira foi no EP ”1200 BC”) que Ka e o produtor Preservation trabalham juntos na totalidade de um disco, vem reforçar a posição do MC novaiorquino como uma voz a merecer destaque no hiphop circa-2015. Se é certo que não estamos propriamente a falar de um Jandek do hiphop (ele não esperou trinta e tal anos para dar entrevistas), não deixa de ser uma forma de demonstrar o controlo, carinho e dedicação que Ka tem por aquilo que, decerto, vê como a sua arte.
Ka tem, acima de tudo, uma voz com tudo para se tornar intemporal. Nem corta com o passado, nem se rebaixa perante ele. A produção de Preservation não é ela própria devedora de nenhuma escola. Em vez disso, os beats são elemento usado de forma espartana, e os baixos, orgãos, sintetizadores, e outros elementos, predominam, criando uma penumbra em redor da, já de si sombria, voz de Ka. Conforme já acontecia em ”The Night’s Gambit”, Ka não levanta a voz acima no grau de sussurro. A sua Nova Iorque é fria, física e psicologicamente, assemelhando-se à do histórico ”Liquid Swordz” de GZA. Embora sem o mesmo imaginário explicitamente criminológico deste, Ka não deixa de falar no “cycle of revenge and sadness” que assola tantas vidas. E o potencial do MC de criar um culto semelhante, em termos de fervor, à sua volta não deve ser descurado. Mesmo sem o logotipo Wu-Tang.
As rimas de Ka são opacas, como se o primeiro destinatário das mesmas fosse a própria mente de onde elas saíram. Ou um amigo chegado sentado na mesma sala iluminada por uma luz fosca. É possível, ainda assim, extraír algumas frases emblemáticas, como “I use a mic device to give a slice of life”, ou “I show them sustained success”. Esta última por oposição aos esquemas de enriquecimento rápido de outros MCs. A imagética, interna e externa, sucede-se em catadupa, premiando uma atenção cuidada, e não deixando dúvidas relativamente ao talento de letrista e MC de Ka. O seu flow é contínuo, assombrado, como um carro de cor escura que anda pelas ruas desertas com as luzes apagadas. Se de Burial dizem que faz a música para viagens nocturnas de autocarro, Ka faz a mesma viagem, mas com todos os sentidos alerta.
Yen Lo, o nome que a dupla Ka e Preservation assumiu neste disco, é uma personagem do livro ”The Manchurian Candidate”, no qual executava técnicas de lavagem cerebral em soldados americanos. O disco não acompanha a história do livro (que, confesso, nunca li), nem sequer assume uma ordem sequencial no título das músicas (todas “Day…”) deixando em aberto o porquê da escolha do nome do psiquiatra chinês. Quererá o “Till we meet again feed your friends some Yen Lo” que encerra o disco dizer que Ka tem o poder de alterar a realidade que cada um percepciona, graças às suas letras? Afinal, esse é um dom que tem acompanhado os bons escritores de canções desde há muito. E, neste extraordinário disco, o seu mundo e de Preservation pode parecer insular. Mas a vontade que fica é de deixar que nos absorva e inebrie.
Nuno ProençaKa tem, acima de tudo, uma voz com tudo para se tornar intemporal. Nem corta com o passado, nem se rebaixa perante ele. A produção de Preservation não é ela própria devedora de nenhuma escola. Em vez disso, os beats são elemento usado de forma espartana, e os baixos, orgãos, sintetizadores, e outros elementos, predominam, criando uma penumbra em redor da, já de si sombria, voz de Ka. Conforme já acontecia em ”The Night’s Gambit”, Ka não levanta a voz acima no grau de sussurro. A sua Nova Iorque é fria, física e psicologicamente, assemelhando-se à do histórico ”Liquid Swordz” de GZA. Embora sem o mesmo imaginário explicitamente criminológico deste, Ka não deixa de falar no “cycle of revenge and sadness” que assola tantas vidas. E o potencial do MC de criar um culto semelhante, em termos de fervor, à sua volta não deve ser descurado. Mesmo sem o logotipo Wu-Tang.
As rimas de Ka são opacas, como se o primeiro destinatário das mesmas fosse a própria mente de onde elas saíram. Ou um amigo chegado sentado na mesma sala iluminada por uma luz fosca. É possível, ainda assim, extraír algumas frases emblemáticas, como “I use a mic device to give a slice of life”, ou “I show them sustained success”. Esta última por oposição aos esquemas de enriquecimento rápido de outros MCs. A imagética, interna e externa, sucede-se em catadupa, premiando uma atenção cuidada, e não deixando dúvidas relativamente ao talento de letrista e MC de Ka. O seu flow é contínuo, assombrado, como um carro de cor escura que anda pelas ruas desertas com as luzes apagadas. Se de Burial dizem que faz a música para viagens nocturnas de autocarro, Ka faz a mesma viagem, mas com todos os sentidos alerta.
Yen Lo, o nome que a dupla Ka e Preservation assumiu neste disco, é uma personagem do livro ”The Manchurian Candidate”, no qual executava técnicas de lavagem cerebral em soldados americanos. O disco não acompanha a história do livro (que, confesso, nunca li), nem sequer assume uma ordem sequencial no título das músicas (todas “Day…”) deixando em aberto o porquê da escolha do nome do psiquiatra chinês. Quererá o “Till we meet again feed your friends some Yen Lo” que encerra o disco dizer que Ka tem o poder de alterar a realidade que cada um percepciona, graças às suas letras? Afinal, esse é um dom que tem acompanhado os bons escritores de canções desde há muito. E, neste extraordinário disco, o seu mundo e de Preservation pode parecer insular. Mas a vontade que fica é de deixar que nos absorva e inebrie.
nunoproenca@gmail.com
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