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Great Lake Swimmers
Great Lake Swimmers
· 10 Jan 2004 · 08:00 ·
Great Lake Swimmers
Great Lake Swimmers
2003
Weewerk


Sítios oficiais:
- Great Lake Swimmers
- Weewerk
Great Lake Swimmers
Great Lake Swimmers
2003
Weewerk


Sítios oficiais:
- Great Lake Swimmers
- Weewerk
Lá longe, na intersecção de duas linhas que convergem para um ponto, onde a chuva não pára de cair e as árvores abrem clareiras de luz sobre o tecido de folhas mortas. Onde a sacarose dos Cowboy Junkies habita uma película de filme, roída e tépida como em Open, aquele da planta carnívora na capa. Lá onde o nevoeiro é um coágulo branco-sujo e a atmosfera adelgaçante. Quase tão herdeiros da elegia quanto avessos à lamúria sem sustentáculo. São os Great Lake Swimmers mas passavam por anunciadores da comiseração auto-diegética em suporte digital. Como Damien Jurado soaria se aclarasse a voz e retomasse o conceito deixado no EP Holding His Breath.

É o primeiro capítulo mas parece carregar às costas anos na vida de alguém trancado no quarto, inclinado sobre a guitarra, a dedilhar poemas para impressionar as miúdas. É isso e mais um pouco. É Elliott Smith depois de uma sessão de aconselhamento, ou talvez Neil Young sem o peso da tradição. O murmúrio radioso de “I Will Never See the Sun” lembra uma criança a sorrir, rosto iluminado, enquanto dá um passo em frente numa falésia escarpada. Não fazem um discurso fatalista, apenas seguem o protótipo do eremita maldito que busca a paz sem os ácidos. O que iria dar ao mesmo não fosse “Moving Pictures Silent Films” abrir o disco.

Tony Dekker é daqueles impressionistas dos tempos medievos da folk, que prefere entrincheirar-se em recordações vagas a aludir aos progressos da acupunctura tecnológica. Mas como, se até Bob Dylan augurava “the times they are a-changin’” nos idos de 1964? Sem ser anacrónico o escrevinhador de canções dos Swimmers peca ao encerrar-se em urnas pastiche durante quase todo o disco. E ao voltar a refugiar-se na penumbra quando já tinha visto a luz do astro maior, precisamente no tema que conjectura o oposto.

E depois as canções são húmidas e desafectadas como se a voz e a guitarra, o acordeão, o piano e os pedais migrassem todos numa câmara de eco. Como se a ruralidade fosse um pedúnculo natural e acautelado da mente sulista. Não tivesse o álbum sido gravado no celeiro de uma quinta em Ontário, no Canadá, muito próximo de Port Colborne, onde Dekker cresceu. E há também um coro de grilos mesclado no som do disco. Pois, “Faithful Night, Listening” parece mesmo canção de acampamento. A destilaria sussurrante de sons cálidos, envolventes, de uma entranhada humidade (pois claro) como o gotejar de partituras frágeis no sossego de uma gruta.
Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com

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