Lá longe, na intersecção de duas linhas que convergem para um ponto, onde a chuva nĂŁo pára de cair e as árvores abrem clareiras de luz sobre o tecido de folhas mortas. Onde a sacarose dos Cowboy Junkies habita uma pelĂcula de filme, roĂda e tĂ©pida como em Open, aquele da planta carnĂvora na capa. Lá onde o nevoeiro Ă© um coágulo branco-sujo e a atmosfera adelgaçante. Quase tĂŁo herdeiros da elegia quanto avessos Ă lamĂşria sem sustentáculo. SĂŁo os Great Lake Swimmers mas passavam por anunciadores da comiseração auto-diegĂ©tica em suporte digital. Como Damien Jurado soaria se aclarasse a voz e retomasse o conceito deixado no EP Holding His Breath.
É o primeiro capĂtulo mas parece carregar Ă s costas anos na vida de alguĂ©m trancado no quarto, inclinado sobre a guitarra, a dedilhar poemas para impressionar as miĂşdas. É isso e mais um pouco. É Elliott Smith depois de uma sessĂŁo de aconselhamento, ou talvez Neil Young sem o peso da tradição. O murmĂşrio radioso de “I Will Never See the Sun” lembra uma criança a sorrir, rosto iluminado, enquanto dá um passo em frente numa falĂ©sia escarpada. NĂŁo fazem um discurso fatalista, apenas seguem o protĂłtipo do eremita maldito que busca a paz sem os ácidos. O que iria dar ao mesmo nĂŁo fosse “Moving Pictures Silent Films” abrir o disco.
Tony Dekker é daqueles impressionistas dos tempos medievos da folk, que prefere entrincheirar-se em recordações vagas a aludir aos progressos da acupunctura tecnológica. Mas como, se até Bob Dylan augurava “the times they are a-changin’” nos idos de 1964? Sem ser anacrónico o escrevinhador de canções dos Swimmers peca ao encerrar-se em urnas pastiche durante quase todo o disco. E ao voltar a refugiar-se na penumbra quando já tinha visto a luz do astro maior, precisamente no tema que conjectura o oposto.
E depois as canções são húmidas e desafectadas como se a voz e a guitarra, o acordeão, o piano e os pedais migrassem todos numa câmara de eco. Como se a ruralidade fosse um pedúnculo natural e acautelado da mente sulista. Não tivesse o álbum sido gravado no celeiro de uma quinta em Ontário, no Canadá, muito próximo de Port Colborne, onde Dekker cresceu. E há também um coro de grilos mesclado no som do disco. Pois, “Faithful Night, Listening” parece mesmo canção de acampamento. A destilaria sussurrante de sons cálidos, envolventes, de uma entranhada humidade (pois claro) como o gotejar de partituras frágeis no sossego de uma gruta.