DISCOS
Heroin in Tahiti
Death Surf
· 16 Mar 2012 · 22:54 ·
Heroin in Tahiti
Death Surf
2012
Boring Machines


Sítios oficiais:
- Heroin in Tahiti
- Boring Machines
Heroin in Tahiti
Death Surf
2012
Boring Machines


Sítios oficiais:
- Heroin in Tahiti
- Boring Machines
De Roma para o mundo: vou ali ouvir hypnagogic pop e já volto.
Logo no arranque somos surpreendidos pela beleza estranha daquele som. Há, antes de mais, um drone tenebroso, seco, arrastado, que invade. Mas esse drone vai sendo moldado, ganha forma, vai-se tornando mais claro. Pouco depois perceberemos que estamos no território da surf music, daquela surf music clássica de guitarras açucaradas, mas num som mergulhado sob dezenas de filtros. “Death Surf”, o tema inicial, é assim uma estranha combinação de universos, aparentemente inconciliáveis. Ou, se preferirmos, uma espécie olhar para o passado, feita por caminhos pouco previsíveis.

Esteticamente este disco estará assim próximo das recentes correntes de raíz nostálgica e exploratória que estiveram em voga nos últimos anos - da “hypnagogic pop” de David Keenan ou da “hauntology”, pelo carácter evocativo e fantasmagórico (mas, antes que surjam dúvidas, claramente afastada da claridade pop da “chillwave”). Talvez esta conversa faça pouco sentido no preciso momento em que o hype já expirou o prazo de validade, mas vale sempre pela possibilidade de enquadramento, mesmo fora de tempo (e ainda é cedo para se poder falar de “pós-hypnagogic”, não é?).

Death Surf, o disco, funciona assim como quadro aglomerado de memórias, rascunho de sonhos difusos, nostalgia por um tempo de que pouco nos lembramos. Vindo de Itália, este projecto tem como característica essencial a incorporação de elementos locais - especialmente das bandas sonoras épicas, de Ennio Morricone a Sergio Leone - o que reforça o seu carácter distintivo (o título “Spaghetti Wasteland” já é suficientemente explícito). Independentemente do hype, este trabalho do duo Heroin in Tahiti tem validade por si mesmo. Extremamente recomendável para quem aprecie fins de tarde entediantes num qualquer verão eterno.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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