DISCOS
Gruppo Di Improvvisazione Nuova Consonanza
Niente [Reedição]
· 02 Mar 2012 · 11:00 ·
Gruppo Di Improvvisazione Nuova Consonanza
Niente [Reedição]
2012
The Omni Recording Corporation


Sítios oficiais:
- The Omni Recording Corporation
Gruppo Di Improvvisazione Nuova Consonanza
Niente [Reedição]
2012
The Omni Recording Corporation


Sítios oficiais:
- The Omni Recording Corporation
Pérola perdida do free sofre nova reedição. Em vinil, como se quer.
Colectivo italiano formado na década de sessenta, entre cujos membros se contam os nomes de Franco Evangelisti e Ennio Morricone, o G.I.N.C., entre apresentações ao vivo e trabalhos de estúdio, desenvolveu, ao longo de dez anos, uma linguagem free jazz bastante própria, adoptando formatos não-musicais - chegando a cair em terrenos noise - e técnicas então inovadoras, sendo considerados, a par dos AMM, um dos primeiros colectivos de compositores experimentais. O exemplo maior desta sua abordagem à música (ou ao som, lembrando o percurso de Evangelisti enquanto estudioso do mesmo) será The Feed-back, disco de 1970 onde exploram não só a improvisação como também a música de cariz electrónico, cruzando o avant-garde e o psicadelismo kraut num trabalho que é hoje considerado um clássico.

Niente, espécie de disco perdido agora reeditado em vinil, depois de o ter sido em CD em 2010, pode ser encarado como um parente próximo de Feed-back. Pese embora o estatuto "fora" que a etiqueta free jazz possui, Niente não é tão selvagem como à partida alguém afastado (ou distraído...) da cena improvisacional o suporia. Sem cair, claro está, na radio-friendliness, as dezasseis faixas deste álbum, impulsionadas quase sempre pelo ritmo (a fazer lembrar, por exemplo, os Can), pautam-se pela sua construção "certa", sem que os músicos enveredem sobremaneira por modos mais exploratórios de composição - mas sem que haja algo de errado nessa falta de coragem. O tema-título é disso exemplo, onde, ao longo dos seus seis minutos, o ouvinte é capturado pela bateria de Vincenzo Restuccia em modo motorik sobre a qual se vão ouvindo os ruídos vários, inesperados, dos restantes instrumentos. "Hei!" é ainda mais simples: poderia ser bebop, se não houvesse aqui e ali uma pequena impureza.

De facto, são o groove e o balanço rítmico os donos e senhores deste disco, numa abordagem musical que acaba por se tornar um convívio salutar entre diversos géneros: o rock e o funk pela via do fuzz que a espaços se ouve da guitarra, o tribalismo cósmico de um Sun Ra em "Bambù" ou a sua faceta lounge via Lanquidity em "Down", a deliciosa "Natale A Detroit", arraçada de bossa nova. Fácil de ouvir, de perceber e, porque não, de dançar (existindo aqui, até, muito material para o sampling), Niente é um disco para agradar a gregos e troianos, seja aos profundos conhecedores da história free ou aos ímpios que nunca ouviram um disco de John Coltrane até ao fim. Música de e para colectivos saudáveis.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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