Colectivo italiano formado na década de sessenta, entre cujos membros se contam os nomes de Franco Evangelisti e Ennio Morricone, o G.I.N.C., entre apresentações ao vivo e trabalhos de estúdio, desenvolveu, ao longo de dez anos, uma linguagem free jazz bastante própria, adoptando formatos não-musicais - chegando a cair em terrenos noise - e técnicas então inovadoras, sendo considerados, a par dos AMM, um dos primeiros colectivos de compositores experimentais. O exemplo maior desta sua abordagem à música (ou ao som, lembrando o percurso de Evangelisti enquanto estudioso do mesmo) será The Feed-back, disco de 1970 onde exploram não só a improvisação como também a música de cariz electrónico, cruzando o avant-garde e o psicadelismo kraut num trabalho que é hoje considerado um clássico.
Niente, espécie de disco perdido agora reeditado em vinil, depois de o ter sido em CD em 2010, pode ser encarado como um parente próximo de Feed-back. Pese embora o estatuto "fora" que a etiqueta free jazz possui, Niente não é tão selvagem como à partida alguém afastado (ou distraÃdo...) da cena improvisacional o suporia. Sem cair, claro está, na radio-friendliness, as dezasseis faixas deste álbum, impulsionadas quase sempre pelo ritmo (a fazer lembrar, por exemplo, os Can), pautam-se pela sua construção "certa", sem que os músicos enveredem sobremaneira por modos mais exploratórios de composição - mas sem que haja algo de errado nessa falta de coragem. O tema-tÃtulo é disso exemplo, onde, ao longo dos seus seis minutos, o ouvinte é capturado pela bateria de Vincenzo Restuccia em modo motorik sobre a qual se vão ouvindo os ruÃdos vários, inesperados, dos restantes instrumentos. "Hei!" é ainda mais simples: poderia ser bebop, se não houvesse aqui e ali uma pequena impureza.
De facto, são o groove e o balanço rÃtmico os donos e senhores deste disco, numa abordagem musical que acaba por se tornar um convÃvio salutar entre diversos géneros: o rock e o funk pela via do fuzz que a espaços se ouve da guitarra, o tribalismo cósmico de um Sun Ra em "Bambù" ou a sua faceta lounge via Lanquidity em "Down", a deliciosa "Natale A Detroit", arraçada de bossa nova. Fácil de ouvir, de perceber e, porque não, de dançar (existindo aqui, até, muito material para o sampling), Niente é um disco para agradar a gregos e troianos, seja aos profundos conhecedores da história free ou aos Ãmpios que nunca ouviram um disco de John Coltrane até ao fim. Música de e para colectivos saudáveis.