DISCOS
V/A
21 Anos De mpd
· 12 Set 2011 · 09:51 ·
V/A
21 Anos De mpd
2011
mpd Records


Sítios oficiais:
- mpd Records
V/A
21 Anos De mpd
2011
mpd Records


Sítios oficiais:
- mpd Records
Não, isto não é um manifesto sócio-político tanto quanto uma compilação muito bem feita.
Há coisa de um ano e pouco, a música pop desempregada (minúsculas, sempre) decidiu sair de um pequeno quarto conimbricense para a grande sala da internet, marcando o seu início com uma compilação intitulada 20 Anos De mpd, um manifesto onde explicava o seu propósito e um pequeno grupo de curiosos intrigados com o que poderia surgir destas brincadeiras musicais. A premissa era simples, tal como as canções: deviam ser baratas, independentes e eficazes. Das experiências caseiras, que infelizmente ainda não deverão ter feito com que as crianças portuguesas deixassem de ouvir André Sardet, surgiram já vinte e sete lançamentos, na sua maioria pequenos EPs, uns musicalmente mais interessantes que outros, naturalmente, mas todos igualmente honestos no seu approach, como especificado no ponto onze do supramencionado manifesto.

Não poderemos dizer que durante este período se assistiu a um crescimento exponencial da editora, já que muitos dos nomes que compõem os lançamentos da mpd continuam ainda mais underground do que o próprio underground; mas, a julgar pelos músicos que aparecem nesta segunda compilação, concluímos que há-de ter granjeado respeito suficiente junto dos seus pares no panorama indie nacional - caso contrário não estariam aqui presentes temas inéditos de Stereoboy, Cavalheiro ou Black Bombaim. Não só isso, como das catorze canções da primeira compilação passamos para trinta, separadas por dois "discos", como a press release que a acompanha dá indicações de internacionalização. Ou seja: o crescimento é possível, tanto o da mpd como o daquele pequeno grupo inicial de curiosos.

Por agora vamos celebrando os 21 Anos De mpd, música de e para desempregados, que é quase como quem diz grátis, bastando para isso clicar aqui e apreciar mais de duas horas de canções bonitas. Mantendo a mesma onda de honestidade, abstenhamo-nos de fazer comparações: tudo isto é pop sem patrões e sem géneros. Bom, quase tudo, dada a presença já citada dos reis barcelenses do riff. Mas o ponto forte é mesmo a electrónica exploratória, paradisíaca, música para pensar nas ilhas perdidas no Pacífico que conferem o domain name ao website da editora.

Tal como em qualquer compilação - ou qualquer álbum, a não ser que se tratem de discos perfeitos -, há sempre faixas que se destacam sobre as outras, que aguçam a curiosidade em relação ao artista em questão ou que se juntam orgulhosamente ao que já conhecíamos da obra de outros. Assim sendo, eis a lista das mais interessantes, organizada por ordem de audição: o desemprego cósmico de "Canção Para o André" (Branches), a dedicatória em crescendo dos Evols a Bo Didley em "Here It Is", os anos 80 de baixo custo em "Assim-Assim" de Tiago Sarafado, os Black Bombaim (evidentemente), Elite Athlete a transformar "Be Here" de Raphael Saadiq num malhão de dança, "Aprés-Paris" de Coiso!. E as menções honrosas: Azevedo, o não-patrão wools, Nihilist Assault Group a fazer com que Enya soe bem, Take Your Love, a guitarra de Long Desert Cowboy, os tratamentos que, respectivamente, Cavalheiro e Stereoboy dão a "Desire Lines" dos Deerhunter e "Far Above The Clouds" dos Yolk, o em-constante-crescimento Sun Glitters e a "Track #12" (na verdade a 11) de Carlos. Com tanta coisa, mais vale ouvir e não deixar nada para trás. Em época de alto desemprego tudo é poupança.
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

Parceiros