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Funkystepz
Fuller / Hurricane Riddim
· 16 Fev 2011 · 18:54 ·
Funkystepz
Fuller / Hurricane Riddim
2011
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Funkystepz
- Hyperdub
Funkystepz
Fuller / Hurricane Riddim
2011
Hyperdub


Sítios oficiais:
- Funkystepz
- Hyperdub
Gente crescida na UK Funky a dar continuação à investida tímida da Hyperdub pelo género.
Com o número de vias em curso que a música de dança em Inglaterra tem vindo a tomar, hoje em dia torna-se cada vez mais difícil disseminar um determinado género tendo em conta as suas premissas fundadoras. Um desnorte saudável, que tem vindo a provocar uma transversalidade que tão facilmente incorre no erro de casting, como vai imiscuindo algumas pérolas a porcos. A edição de Bellion / Dragon Pop no ano passado foi a primeira investida declarada da Hyperdub no multifacetado universo da UK Funky, acolhendo um dos seus maiores nomes (os essenciais Ill Blu) num catálogo que tinha, até esse momento, feito apenas de tímidas incursões numa vertente mais séria/cabotina encabeçada pelo Scratcha DVA ou (tangencialmente) pela Cooly G.

Uma estratégia louvável, mas, ainda assim, algo falhada no desaproveitamento do real valor da dupla de produtores (imbatíveis no campo das remisturas) em prole de duas malhas que se restringiam a “exercícios de estilo” num contínuo com a própria estética da editora. Fuller / Hurricane Riddim acaba por seguir uma lógica idêntica, com resultados bem mais prementes. Neste caso, pode-se falar de um aproveitamento consentido de uma obra sem grande coerência estética (ao contrário do caso supracitado), que atira o referencial no maior número de direcções possíveis daquilo que possa entendido como UK Funky. Um mundo de possibilidades, portanto, que culminou com a escolha de duas malhas que fazem bandeira daquilo que a Hyperdub poderá querer fazer com o género, sem o desvirtuar.

Já amplamente difundida no éter através da sempre presente Rinse.fm pelas mãos do Marcus Nasty ou dos próprios, ou em dj sets do “patrão” Kode 9, Fuller / Hurricane Riddim trata-se da sua primeira edição em formato físico depois de dois ep's editados digitalmente no final do ano transacto. Sound of Malibu e Deep Roller são representativas de uma via que começa a tornar-se pertinente num género ainda demasiado ardiloso para um reconhecimento cabal, enquanto atavam pontas soltas reclusas do dubplate como “Malibu”, “Whispers” ou “Mr. Bandicoot”. Mercantilismo funcional a colher os louros da boa aceitação generalizada de “For You”.

Enquanto passo consequente, Fuller / Hurricane Riddim é uma peça central na conjectura vingente, cuja relevância ultrapassa em larga escala o espectro de onde emergiu. Na sequência de bangers como “Trinity Hill” ou “Windstorm”, ambas reflectem a faceta mais galvanizadora do colectivo. Enquanto recolhem todo o legado deixado em aberto com as fundações do 2-step/UKG primordiais (notoriamente via Grime), e que derivou nas mais diversas linguagens, atingem uma transversalidade que, não deixando de soar eminentemente a UK Funky, carregam um peso histórico recente considerável.

“Fuller” é de uma elasticidade incrível para algo tão enformado nos prncípios de rudeza do rudebwoy lifestyle. Com uma melodia tão intrigante quanto infecciosa, que serpenteia em media-res, a amplificar uma batida tendencialmente rasteira, ao qual a chapada afogada em reverb confere alguma profundidade. Apesar de um poder anímico notável, “Fuller” é de um apelo dançável mais sugerido do que escancarado (i.e. produções de Ill Blu como “Meltdown” ou “Monsta”), afoito à linearidade 4/4, mas com todo um arsenal de alternativas credíveis para que não tardem a haver braços no ar.

“Hurricane Riddim” é um stormer orquestral cujo presciente remonta a algumas das produções mais épicas do Rapid (na linha da tensão de “Raw 2 tha Core”), em dueto com o soluçar de uma malha de baixo vinda da Bassline, num curioso exercício que, exaltando as propriedades dançáveis do Grime circa 2003 se eleva a um novo paradigma mutável. Contextualizando, acaba por ser reflexo daquilo que tem vindo a ser marca da vitalidade do género. O que, apesar de algumas reservas quanto às direcções a tomar ao longo deste ano, não deixa de ser um óptimo prenúncio.
Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com

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