DISCOS
Styrofoam
I'm What's There To Show That Something's Missing
· 09 Abr 2003 · 08:00 ·
Styrofoam
I'm What's There To Show That Something's Missing
2003
Morr Music


Sítios oficiais:
- Morr Music
Styrofoam
I'm What's There To Show That Something's Missing
2003
Morr Music


Sítios oficiais:
- Morr Music
Eis-nos perante o terceiro longa-duração de Arne Van Petegem. Mantendo-se fiel à berlinense Morr Music, pela qual já havia lançado The Point Misser (2000) e A Short Album About Murder (2001), Styrofoam fita novos horizontes neste I’m What’s There To Show Something’s Missing, em que o receio “oh-não-mais-um-álbum-de-indietronica-com-vozinha-larilas” sucumbe logo às primeiras audições. Felizmente, estamos perante um disco que traz algo de novo à dimensão (sobre?)ocupada por projectos como Lali Puna ou Ms John Soda, juntamente com a panóplia interminável de “Notwist-wannabes” que enfastiam ao primeiro contacto.

Tal fica a dever-se, em grande parte, a uma das mais preciosas conquistas que Arne alguma vez logrou cometer: a capacidade de desenvolver a música em redor da sua voz. A confiança necessária para colocar a voz à frente das balas advem directamente das últimas experiências ao vivo, em que os comparsas Opiate e Lali Puna lhe impingiram um microfone e disseram algo do tipo “não passa de hoje!”. E como já se sabe... o que tem que ser, tem muita força...

Em boa hora. Opostamente ao que sucedia nos registos anteriores, Styrofoam não necessita de escamotear o seu contributo vocal debaixo de texturas complexas. I’m What’s There... cativa especialmente pelos temas mais de acordo com o típico formato canção, em detrimento das faixas marcadas pela abstracção e pelas estruturas complexas. É o caso de ‘The Long Wait’, ‘A Heart Without a Mind’, ‘It Wouldn’t Change a Thing’ e ‘Blow It Away From Your Eyes’, que além de serem facilmente as melhores músicas do disco, fundem com harmonia e precisão a toada abstracta mas simultaneamente humana que percorre todo o álbum. Arne confessa: “Cheguei a um ponto em que tive de desligar-me do computador por um bocado. Ao computador, é muito fácil emaranhar-se em pormenores e perder a noção do conjunto e do produto final. Usando uma guitarra acústica e um microfone, contornei essa questão e creio que o disco ganhou outra profundidade.”.

I’m What’s There... desenrola-se em torno de um indelével sentimento de falta. Os títulos das faixas têm destinatário, os refrões versam um incessante e inglório ("you waited for far too long / but no one is watching") esboço de reacção sobre um estado contemplativo e introspectivo de melancolia. A capa, com propriedade, exibe uma rapariga e um rapaz separados por uma ténue (mas castradora) linha.

Sem arrebatar, Styrofoam parece ter atingido a maturidade criativa. As melodias em I’m What’s There To Show That Something’s Missing apresentam um interessantíssimo compromisso entre o imediatismo e a complexidade estrutural, reforçadas com uma componente vocal francamente positiva.

E com toda a certeza, a pop electrónica de 2003 já deu à luz um dos seus melhores representantes.
Carlos Costa

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