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Styrofoam I'm What's There To Show That Something's Missing

2003
Morr Music


Eis-nos perante o terceiro longa-duração de Arne Van Petegem. Mantendo-se fiel Ă  berlinense Morr Music, pela qual jĂĄ havia lançado The Point Misser (2000) e A Short Album About Murder (2001), Styrofoam fita novos horizontes neste I’m What’s There To Show Something’s Missing, em que o receio “oh-nĂŁo-mais-um-ĂĄlbum-de-indietronica-com-vozinha-larilas” sucumbe logo Ă s primeiras audiçÔes. Felizmente, estamos perante um disco que traz algo de novo Ă  dimensĂŁo (sobre?)ocupada por projectos como Lali Puna ou Ms John Soda, juntamente com a panĂłplia interminĂĄvel de “Notwist-wannabes” que enfastiam ao primeiro contacto.

Tal fica a dever-se, em grande parte, a uma das mais preciosas conquistas que Arne alguma vez logrou cometer: a capacidade de desenvolver a mĂșsica em redor da sua voz. A confiança necessĂĄria para colocar a voz Ă  frente das balas advem directamente das Ășltimas experiĂȘncias ao vivo, em que os comparsas Opiate e Lali Puna lhe impingiram um microfone e disseram algo do tipo “nĂŁo passa de hoje!”. E como jĂĄ se sabe... o que tem que ser, tem muita força...

Em boa hora. Opostamente ao que sucedia nos registos anteriores, Styrofoam nĂŁo necessita de escamotear o seu contributo vocal debaixo de texturas complexas. I’m What’s There... cativa especialmente pelos temas mais de acordo com o tĂ­pico formato canção, em detrimento das faixas marcadas pela abstracção e pelas estruturas complexas. É o caso de ‘The Long Wait’, ‘A Heart Without a Mind’, ‘It Wouldn’t Change a Thing’ e ‘Blow It Away From Your Eyes’, que alĂ©m de serem facilmente as melhores mĂșsicas do disco, fundem com harmonia e precisĂŁo a toada abstracta mas simultaneamente humana que percorre todo o ĂĄlbum. Arne confessa: “Cheguei a um ponto em que tive de desligar-me do computador por um bocado. Ao computador, Ă© muito fĂĄcil emaranhar-se em pormenores e perder a noção do conjunto e do produto final. Usando uma guitarra acĂșstica e um microfone, contornei essa questĂŁo e creio que o disco ganhou outra profundidade.”.

I’m What’s There... desenrola-se em torno de um indelĂ©vel sentimento de falta. Os tĂ­tulos das faixas tĂȘm destinatĂĄrio, os refrĂ”es versam um incessante e inglĂłrio ("you waited for far too long / but no one is watching") esboço de reacção sobre um estado contemplativo e introspectivo de melancolia. A capa, com propriedade, exibe uma rapariga e um rapaz separados por uma tĂ©nue (mas castradora) linha.

Sem arrebatar, Styrofoam parece ter atingido a maturidade criativa. As melodias em I’m What’s There To Show That Something’s Missing apresentam um interessantíssimo compromisso entre o imediatismo e a complexidade estrutural, reforçadas com uma componente vocal francamente positiva.

E com toda a certeza, a pop electrĂłnica de 2003 jĂĄ deu Ă  luz um dos seus melhores representantes.


Carlos Costa
09/04/2003