DISCOS
Reiko Kudo / Tori Kudo
Light
· 30 Jun 2009 · 23:30 ·
Reiko Kudo / Tori Kudo
Light
2008
Siwa


Sítios oficiais:
- Siwa
Reiko Kudo / Tori Kudo
Light
2008
Siwa


Sítios oficiais:
- Siwa
Pequena maravilha escondida no Japão quer sair cá para fora e mostrar toda a sua beleza recatada.

Sem que estejamos previamente avisados, uma voz inocente e frágil invade as ondas sonoras e um piano segue-se-lhe. Há harmonia que se cruza com adversários – os que buscam destruí-la – e há um enfrentamento, ainda que quase invisível. Há um ritmo marcado de forma artesanal, e uma certa sensação de música de piano bar embriagada que transporta directamente para um lugar misterioso. A gravação é aparentemente ao vivo, mas não há sinais de público. A recriação é de Tori Kudo e Reiki Kudo (Maher Shalal Hash Baz), e é tudo o mais despedido e despojado possível. Aí, nesse processo, fazem música belíssima e de interesse renovado.

“Going to see the sunset” não tem piano mas tem harmónica. Autodidáctica, por sinal. E uma viola, manuseada por Kazuko Matsushima sem a destreza de um violetista orquestral mas com um sinal vitalício de anti-melodia, como uma luz contínua num lugar de esperança dúbia. A certa altura, piano (entrado em cena) e viola digladiam-se no que parece o andamento mais tempestivo de uma obra contemporânea em dia de estreia. O mistério adensa-se a cada minuto. “Cat” coloca de novo as atenções no piano e na voz e acerta a identidade do registo. Acerta-se o passo, para o final do tema, o piano entra num delírio, não já embriagado, mas apenas irado e a servir-se de uma certa desafinação para obter graça e beleza.

Gravado entre 2005 e 2006 conta com versões a duo de temas de álbuns assinados por Reiko Kudo, assim como duas canções novas. Há tosse no disco, e ruídos que não andam normalmente por discos que chegam a ver a luz do dia. Mas isso faz apenas de Light um disco mais humano – ainda mais do que a sua música permite adivinhar e abraçar. “Father”, confronto entre voz e uma espécie de harpa em avançado estado de degradação, parte de um certo abatimento e desistência para gerar (a)tonalidades de belo efeito. É assim do princípio ao fim. Não é fácil fazê-lo mas Reiko e Tori conseguem: fazer música estranha e de formas brutas mas com uma beleza que é quase universal. Pode não ser acessível e directa, mas é altamente compensadora.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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