DISCOS
Aidan Moffat & The Best-Ofs
How to Get to Heaven From Scotland
· 08 Abr 2009 · 19:03 ·
Aidan Moffat & The Best-Ofs
How to Get to Heaven From Scotland
2009
Chemikal Underground / Popstock!


Sítios oficiais:
- Aidan Moffat & The Best-Ofs
- Chemikal Underground
- Popstock!
Aidan Moffat & The Best-Ofs
How to Get to Heaven From Scotland
2009
Chemikal Underground / Popstock!


Sítios oficiais:
- Aidan Moffat & The Best-Ofs
- Chemikal Underground
- Popstock!
Alma lírica dos Arab Strap orienta master class: como ser desportivamente feliz sem deixar de ser ironicamente triste.
É curto o passo que separa um veterano da miséria sentimental de uma carreira como guru prestável. Aidan Moffat é a prova viva disso – situando a voz entre o “falar” e o “cantar”, fez dos Arab Strap uma saga de despistes amorosos e falência sexual. Ganhou culto. Depois de uma década dedicada à narração de sinistros, Aidan Moffat entendeu que devia ser conselheiro a tempo inteiro. A nova vocação evoluiu por etapas, tendo sido porventura inaugurada em The Last Romance, disco de Entrudo para os Arab Strap. Foi precisamente em “Confessions of a Big Brother” que Aidan alertou os que retardavam o compromisso para o risco de acabarem sozinhos (a comer refeições de microondas). O homem das barbas sabia bem do que falava. Algum tempo depois, passou a assinar uma hilariante coluna de aconselhamento “para ele” e “para ela”, que, basicamente, aplica a fórmula da revista Maria a contextos sofisticados vividos por gente mais brit. Ultimamente, a tendência alastrou-se aos títulos dos discos pós-Arab Strap. I Can Hear Your Heart, a autobiografia interactiva de conteúdo pornográfico e politicamente incorrecto, podia, ao que parece, ter sido How to Make Love to a Scotsman. Por sua vez, How to Get to Heaven From Scotland é realmente o que promete: uma farsa celestial propícia à exercitação da canção celta como antídoto para a melancolia generalizada das canções de Aidan Moffat.

Na verdade, How To Get To Heaven From Scotland afasta-o tanto do pesar Arab Strap, que o disco é obrigado a desenrolar-se como um sonho (uma virtualidade), de modo a não desonrar esse passado. A abstracção tem início com a canção de embalar “Lover’s Song” (com direito a human beat box possante) e o regresso à terra sucede-se com o ruído do despertador, em “Living With You Now”. Além disso, existe uma intertextualidade associada a Aidan Moffat que atesta este como o álbum-sonho: a scenic route (via turística) de “A Scenic Route to the Isle of Ewe” pode estar próxima da enunciada em “Dream Sequence”, utopia de amantes que se destacava em The Last Romance. Tudo o resto são canções dadas à apoteose e à camaradagem entre instrumentos (assegurados pelos Best-Ofs): hinos prontos a serem entoados por adeptos embriagados do Celtic de Glasgow, enquanto esfregam os ombros entre si, após uma vitória sobre o rival Rangers e antes de regressarem a vidas tão neuróticas como as que se vislumbram em álbuns como Philophobia e Elephant Shoe, dos Arab Strap.

Com a ternura dos quarenta à espreita, Aidan Moffat decide-se por um disco evidentemente optimista no seu escapismo. E, mesmo que a tristeza de sempre não deixe de ruminar, em particular na delicada “Lullaby for Unborn Child”, são os beijos consumados e o amor verdadeiro as facções triunfantes na batalha de saias intitulada How To Get to Heaven From Scotland. Estas horas de sonho pertencem a canções que, na sua abrangência The Pogues (violinos e acordeão), podem até soar a guilty pleasures aos ouvidos de quem não consegue viver sem a companhia miserável dos Arab Strap. Assim sendo, é inevitável o agradecimento: obrigado, tio Aidan, pois agora também sabemos que o guilty pleasure é o céu dos despreocupados.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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