DISCOS
Jason Stein’s Locksmith Isidore
A Calculus of Loss
· 12 Jan 2009 · 17:05 ·
Jason Stein’s Locksmith Isidore
A Calculus of Loss
2008
Clean Feed


Sítios oficiais:
- Clean Feed
Jason Stein’s Locksmith Isidore
A Calculus of Loss
2008
Clean Feed


Sítios oficiais:
- Clean Feed
No fim de contas, eis um trio free que joga mais nos espaços, no gentil, no subtil.
O nome deste trio vem do avô de Jason, de seu nome Isidore e serralheiro de profissão. Um homem cujo rosto é a capa o disco e que não confiava em bancos, por isso guardava todo o seu dinheiro dentro de um sofá no seu sotão. O título A Calculus of Loss refere-se à obsessão do velhote com as álgebras que fazia para entender os custos e os proveitos de ter ou não uma conta bancária. Todo este contexto, no ano que agora findou, faz todo o sentido.

Sendo Jason Stein um nome reconhecido pelos fãs da cena free-jazz de Chicago, também faria sentido que a música devesse algo às fúrias sonoras de Ken Vandermark (com quem tocou nos Bridge 61). Mas nem por isso. O clarinete baixo de Jason, na companhia de Kevin Davis no violoncelo e de Mike Pride na percurssão, joga mais nos espaços, no gentil, no subtil. A pimeira faixa “Nurse Ellen” começa com notas vagas, esparsas no seu sentimento, uma cuidadosa enfermeira que nos cuida a alma com sons em doses racionadas, farmacêuticas. Lá mais para o fim há um delírio free ligeiro, uma pequena memória da dor que tocava Eric Dolphy (seu ídolo inicial). Mas nunca a despejar violentamente os pulmões.

“Miss Izzy” surge mais agressiva com o violoncelo mais presente, a bateria mais presente, o clarinete mais estridente, numa caminhada que acaba em dois minutos finais de subtil calmaria. A partir daqui, a avant-garde dos silêncios e sons delicados, sopros, notas e batidas leves tomam conta do disco para chegar depois a “167th St. Ellen”. Eis uma paragem novamente mais free, contudo, agora num território mais cerebral e complexo do que no ínicio. E nestas matemáticas, o enigmático título “J.H. 01” acaba o set em curtíssimos quase dois minutos felizes que poderiam muito bem ser a banda sonora do avô Isidore a contar as notinhas escondidas e seguras de qualquer crise.

No fim de contas, este jovem trio lançado pela portuguesa (ler com orgulho) Clean Feed, deixa a sensação que vai dar ainda bem mais a ganhar ao jazz contemporâneo.
Nuno Leal
nunleal@gmail.com

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