O nome deste trio vem do avĂ´ de Jason, de seu nome Isidore e serralheiro de profissĂŁo. Um homem cujo rosto Ă© a capa o disco e que nĂŁo confiava em bancos, por isso guardava todo o seu dinheiro dentro de um sofá no seu sotĂŁo. O tĂtulo A Calculus of Loss refere-se Ă obsessĂŁo do velhote com as álgebras que fazia para entender os custos e os proveitos de ter ou nĂŁo uma conta bancária. Todo este contexto, no ano que agora findou, faz todo o sentido.
Sendo Jason Stein um nome reconhecido pelos fĂŁs da cena free-jazz de Chicago, tambĂ©m faria sentido que a mĂşsica devesse algo Ă s fĂşrias sonoras de Ken Vandermark (com quem tocou nos Bridge 61). Mas nem por isso. O clarinete baixo de Jason, na companhia de Kevin Davis no violoncelo e de Mike Pride na percurssĂŁo, joga mais nos espaços, no gentil, no subtil. A pimeira faixa “Nurse Ellen” começa com notas vagas, esparsas no seu sentimento, uma cuidadosa enfermeira que nos cuida a alma com sons em doses racionadas, farmacĂŞuticas. Lá mais para o fim há um delĂrio free ligeiro, uma pequena memĂłria da dor que tocava Eric Dolphy (seu Ădolo inicial). Mas nunca a despejar violentamente os pulmões.
“Miss Izzy” surge mais agressiva com o violoncelo mais presente, a bateria mais presente, o clarinete mais estridente, numa caminhada que acaba em dois minutos finais de subtil calmaria. A partir daqui, a avant-garde dos silĂŞncios e sons delicados, sopros, notas e batidas leves tomam conta do disco para chegar depois a “167th St. Ellen”. Eis uma paragem novamente mais free, contudo, agora num territĂłrio mais cerebral e complexo do que no Ănicio. E nestas matemáticas, o enigmático tĂtulo “J.H. 01” acaba o set em curtĂssimos quase dois minutos felizes que poderiam muito bem ser a banda sonora do avĂ´ Isidore a contar as notinhas escondidas e seguras de qualquer crise.
No fim de contas, este jovem trio lançado pela portuguesa (ler com orgulho) Clean Feed, deixa a sensação que vai dar ainda bem mais a ganhar ao jazz contemporâneo.